A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

sábado, outubro 06, 2007

EUA - Um combate contra o racismo


* Glória Rubac (1)
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Uma militante, digna e poderosa marcha, integrada maioritariamente por afro-americanos, encheu quase todas as ruas da pequena localidade rural de Jena - com cerca de 3500 habitantes -, no Louisiana, na quinta-feira, dia 20 de Setembro, para que o mundo saiba que a injustiça racista é intolerável. Gritando palavras de ordem como «Basta – libertem os seis de Jena» e «Não há justiça nem paz com a polícia racista», mais de 50 mil pessoas protestaram diante do tribunal de LaSalle Parish enchendo o relvado do vizinho Liceu de Jena e o espaço circundante.
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De comboio, autocarro, avião ou em veículos particulares partilhados, os manifestantes vieram de todo o território norte-americano, com particular para os estados do Sul, para apoiarem a causo dos Seis de Jena. Os históricos colégios e universidades só para negros enviaram delegações.
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Os Seis de Jena são um grupo de jovens vítimas da injustiça racista só comparável às recordações que todos nós mantemos dos tempos anteriores às lutas pelos direitos civis no Sul dos EUA. Nos últimos anos, sobejaram nos tribunais casos de brutalidade policial e injustiça racista, mas poucos motivaram um coro de protestos e uma movimentação tão forte como este, especialmente entre os jovens e os estudantes.
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O racismo no Louisiana foi uma constante durante séculos. O caso dos Seis de Jena desencadeou-se, no Outono do ano passado, quando o grupo decidiu almoçar debaixo de uma árvore do liceu local considerada por outro grupo de estudantes como uma «árvore branca». No dia seguinte, foram ali penduradas três cordas, uma séria ameaça sobretudo se considerarmos que no Louisiana durante décadas os negros foram linchados e enforcados nas árvores. As autoridades escolares suspenderam prontamente os estudantes responsáveis pelo acto, mas posteriormente estes acabaram por regressar ao liceu por ordem do superintendente do ensino secundário, o qual considerou o incidente «uma brincadeira infantil».

Movimento imparável

A escalada da tensão foi inevitável. O procurador distrital visitou a escola acompanhado da polícia ameaçando os estudantes negros que entretanto protestavam. Ou punham fim à demonstração, ou «roubava-lhes a vida com um simples golpe de caneta», disse. Nos meses seguintes registaram-se confrontos e rixas, entre as quais uma em que um jovem branco apontou uma arma a vários jovens negros numa movimentada loja da cidade. O jovem não foi acusado pela polícia.
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Por fim, no último mês de Dezembro, depois de nova briga, um jovem branco acabou hospitalizado. A polícia prontamente acusou de «tentativa de homicídio» o grupo de jovens afro-americanos. Curwin Jones, Mychal Bell, Theo Shaw, Bryant Purvis, Robert Bailey Jr. e um outro estudante tão jovem que nem pode ser nomeado, foram acusados de tentativa de homicídio em segundo grau e conspiração para cometer um crime.
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Antes do desencadear destes acontecimentos, a maioria das pessoas nunca tinha ouvido falar de Jena. A pequena comunidade negra – aproximadamente 15 por cento da população total da cidade– sentia-se vulnerável e isolada. A fiança estabelecida pela justiça foi tão elevada que impossibilitou a libertação dos estudantes. Não obstante, o caso começou a correr o país e dezenas de advogados ofereceram-se para os defenderem. Personalidades ligadas à luta pelos direitos civis, incluindo Martin Luther King III e Jesse Jackson, envolveram-se no caso e visitaram os prisioneiros. Figuras destacadas da rádio desempenharam um papel importantíssimo na divulgação do que se estava a passar em Jena. Estudantes dos históricos colégios de negros lançaram uma campanha na Internet. Músicos de Hip Hop começaram a espalhar a palavra. A movimentação levou a uma revisão parcial das acusações contra três dos jovens, mas no passado dia 14 de Setembro um juiz do tribunal de apelação reverteu a decisão e confirmou ainda a condenação de Mychal Bell, o único dos seis até agora levado a julgamento e que por isso se mantém encarcerado.
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A origem dos que encheram centenas de autocarros em direcção a Jena é clara. Os primeiros organizadores da manifestação eram estudantes de colégios e universidades, mas a estes juntaram-se parentes e vizinhos, sindicalistas e operários das fábricas automóveis de Detroit, camionistas de Atlanta, religiosas e empresários negros, activistas políticos de todas as cidades do Sul, mas também do Nordeste, Centro-Oeste, Sudoeste e Costa Oeste. Carros apinhados de famílias e amigos demoraram horas na estrada só para que as crianças tomassem parte deste evento histórico.
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Será a resposta ao ultraje de Jena um ponto de viragem na luta contra a injustiça racista? Essa questão será respondida por os que no passado dia 20 de Setembro marcharam e protestaram, ouviram e cantaram, ensinaram e aprenderam que o movimento é forte quando as pessoas se mobilizam para jornadas imparáveis pela liberdade.
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(1) Glória Rubac é dirigente do Movimento de Abolição da Pena de Morte no Texas
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in Avante 2007.09.27

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