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quinta-feira, outubro 11, 2007

Partos: Um em cada oito fora do hospital - Resende nasce na rua



* João Saramago
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A política de redução de salas de partos realizada pelo Ministério da Saúde conduziu a que no concelho de Resende (o mais pobre do País) um em cada oito nascimentos ocorra no transporte por ambulância dos bombeiros locais.
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É o concelho onde os nascimentos fora de um ambiente hospitalar atingem maior expressão. Por todo o País, no entanto, os bombeiros dizem não haver memória da situação atingir tais proporções. Pelo menos 31 casos foram noticiados desde há um ano. Em 2004, registaram-se apenas 11 casos.

“Nunca tínhamos visto uma coisa destas. Desde 27 de Abril – cinco meses – realizámos cinco partos”, disse ao CM o comandante dos Bombeiros Voluntários de Resende, José Ângelo. Um número que os bombeiros dizem ser elevado tendo em conta a quantidade de crianças que nascem no concelho. José Ângelo aponta o encerramento da sala de partos de Lamego, há cerca de um ano, como causa principal para as crianças nascerem na estrada.

Cravado no vale do Douro e com acesso por estradas sinuosas, Resende viu nascer 92 crianças no ano passado, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística. Um número que, repartido pelos 12 meses do ano, dá uma média de oito partos por mês. Verificados que nos últimos cinco meses ocorreram cinco partos em ambulâncias, uma em cada oito crianças nasceu num ambiente extra-hospitalar.

O comandante dos bombeiros locais não possui números de anos anteriores para estabelecer uma comparação, mas garante que “nunca foram realizados tantos partos como agora em ambulâncias”. Se a situação é inédita no concelho de Resende, em todo o País os partos realizados pelos bombeiros não param de aumentar, com especial incidência em concelhos que viram encerrar os blocos de partos mais próximos. “Não tenho memória de haver tantos partos em ambulâncias como agora”, disse ao CM Rui Ramos Silva do conselho executivo da Liga dos Bombeiros Portugueses.

Por sua vez, o presidente da Liga, Duarte Caldeira, afirma “ser possível estabelecer uma relação causa/efeito entre o encerramento de um bloco de partos e o nascimento de uma criança numa ambulância”.

Diferente entendimento tem Jorge Branco, presidente da Comissão Nacional de Saúde Materno-Infantil: “Conhecido o facto de haver uma maior distância da sala de partos as mães devem preparar-se para sair meia hora mais cedo de casa”.

Segundo o responsável pela coordenação dos trabalhos que ditou o fecho de oito salas de partos, a solução a encontrar será “um sistema de transporte mais fácil e mais rápido”. Uma solução contestada pelos bombeiros. Duarte Caldeira sustenta que o Ministério da Saúde “está a montar uma rede paralela de ambulâncias”.

POBREZA AGRAVA A DEPENDÊNCIA

O concelho de Resende é entre os 308 nacionais o mais pobre. De acordo com as contas do Instituto Nacional de Estatística, o indicador por pessoa do poder de compra é neste concelho de 47,25% da média nacional. Numa linguagem simples: quando um português médio vai às compras e sai do supermercado com um carrinho cheio, o habitante de Resende sai com menos de metade. O concelho com 11 775 habitantes está envelhecido e de ano para ano perde gente. Entre 2003 e 2006 são menos 287 habitantes. Uma população com fraco poder de compra, envelhecida, servida por más estradas e onde grande parte dos homens partiu para Espanha para trabalhar na construção civil é por isso mais dependente de serviços como os prestados pelos bombeiros.

BOMBEIROS TEMEM RISCOS

José Ângelo, dos Bombeiros Voluntários de Resende, teme que a prática constante de partos pelos seus homens possa ter riscos perante uma gravidez mais complexa. Indica que apenas têm uma formação básica do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) e que a ambulância que possuem não está habilitada para a realização de partos. Também Rodolfo Baptista, dos Bombeiros Voluntários da Merceana, no concelho de Alenquer, considera que a restruturação nacional das salas de partos não foi a mais correcta para as seis freguesias da Serra de Montejunto, que são servidas pela sua corporação. “Apesar de estarmos a apenas 15 minutos da maternidade de Torres Vedras esta foi classificada como municipal pelo que somos obrigados a encaminhar as grávidas para o Hospital de Vila Franca de Xira. São 40 quilómetros de más estradas que obrigam a uma viagem de um hora”, afirmou. No dia 21, perante a longa viagem que tinham pela frente, foi improvisado um parto na aldeia, que terminou bem.

SAIBA MAIS

- 31 partos foram noticiados nos últimos 12 meses. Sete na Figueira da Foz, seis em Resende, três em Mirandela e Lourinhã, dois em Penafiel, seis no Alentejo e um dos concelhos de Baião, Ansião, Alenquer e Ourém.

- 36 salas de partos em hospitais públicos existem hoje no País, depois de terem fechado oito.

FIGUEIRA DA FOZ

Após o encerramento da sala de partos nesta cidade, cujo concelho conta com 63 mil habitantes, ocorreram sete partos de emergência. Dois foram feitos no próprio hospital e cinco em ambiente extra-hospitalar.

MIRANDELA

Fechada a sala de partos em Setembro de 2006, pelo menos três bebés nasceram na estrada assistidos pelos bombeiros.

LOURINHÃ

Três nascimentos que contaram com apoio dos bombeiros, num concelho cujas maternidades mais próximas não fecharam.

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in Correio da Manhã 2007.10.01
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Foto - António Rito (Os Bombeiros de Resende Adão Ferreira, João Loureiro e Luís Loureiro assistiram ao último parto )
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» Comentários no CM on line
Segunda-feira, 1 Outubro
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- Portuga Este ministro pôs os portugueses a nascerem e a morrerem na rua. NÃO HAVERÁ NINGUÉM QUE PONHA ESTE MINISTRO NA RUA? PARA QUANDO UM QUE NOS LIVRE DESTA MONARQUIA?!
- ntb Em relação a situação dos partos ocorridos fora do hospital, não se deve só ao encerramento dos blocos de parto, uma vez que sempre ocorreram partos em ambulância. Este fenonomo esta associado essencialemnte a 3 factores 1 - Má avaliação da gravida nos centros de saude, 2- Acidente e 3 - Negligencia da mãe.
- Aristides O Sr. Ministro da Saúde e todos os que contribuiram para isto estar a suceder em Portugal, deviam sentir-se envergonhados!
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