A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

quarta-feira, dezembro 16, 2009

Amarguras de Natal







Amarguras de Natal


O Natal tem um sabor cada vez mais amargo num mundo cada vez mais cruel. Os ricos são cada vez mais ricos. Os pobres cada vez mais pobres. As guerras alimentam as fortunas. A mentira encobre a corrupção. A tortura é prática normal. Na malha dos países ditos civilizados imperam as mafias, a maçonaria, o Opus Dei, o secretismo das magnas operações fraudulentas de bancos e banqueiros.
Mas vem aí o Natal e isso é que conta. Belo pretexto para perdoar o crime e para mascarar de virtude tudo aquilo que é, de facto, escândalo e corrupção. O Natal é a época dos indultos e este ano há muito que indultar. Veremos o que acontece aos ladrões...
Portugal é um vasto pantanal. O emprego é de tal forma caótico que ninguém sabe ao certo qual o número de desempregados, quantos cidadãos recebem a «esmola» de um recibo verde, quantas famílias dependem, para comer, da «caridade» do Estado ou dos privados, qual é a política do Governo para atalhar à crise financeira, acelerar a produção, distribuir a riqueza e garantir emprego aos portugueses. Um dos picos da imoralidade pública e privada atinge-se quando os ministros fingem ignorar o que se passa ou os banqueiros declaram acerca dos roubos ou dos desfalques terem «a consciência tranquila». É um nojo.
Mas vem aí mais um Natal, a quadra dos bons sentimentos. As ONGS e as IPSS desdobram-se em actividades caritativas com os olhos postos nos desempregados. Compram, vendem e trocam. Para os pobres migalhas e para os supermercados grossas fatias do suculento bolo. Também, agora que estamos no Natal, a Fundação Bill Gates lançou, com sentido de humor, uma rede de bancos para os pobres. E, numa linha da cultura da santa ignorância, Bento XVI declarou no Vaticano acerca do desemprego: «Sei que várias famílias passam necessidades... Não percam a coragem.»
Entretanto, em Portugal, as finanças da igreja prosperam graças a muitos factores como as cotações da Bolsa, os negócios dos jogos da Santa Casa, a sábia política dos investimentos eclesiásticos ou as novas oportunidades de negócios no turismo, no imobiliário, nas energias renováveis, nos conteúdos informáticos, etc., etc.

Os mitos do Natal

O casamento da Igreja com o capitalismo é um facto a tal ponto reconhecido que o Vaticano já nem sequer desmente aqueles que se lembram de o denunciar. Sentados nos seus cadeirões do Patriarcado, os bispos olham com curiosidade o que se passa no País mas nada dizem. É que neste casamento, a Igreja não é um ser passivo mas um agente activo do mercado. Melhor é calar do que afundar ainda mais os amigos de peito. São atitudes inconcebíveis que se chocam com a proclamada «solicitude social» da Igreja e colidem com os textos sagrados («é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus»). Quando é preciso, os bispos mandam tudo isto às urtigas. O segredo é bem a alma do negócio.
Por entre os mitos do Natal não faltam outras contradições. A que parece ser a mais importante tem a ver com a incapacidade de reacção do povo católico face ao que está a acontecer. Duas décadas atrás, num quadro religioso bem menos grave, a teologia da libertação arrastou multidões e fez estremecer o Santo Ofício. Agora, nada. O povo católico parece anestesiado e, ao que parece, conforma-se com a traição ideológica dos seus chefes. Muitos católicos perderam a fé que até aí confundiam com a ética pregada pela Igreja e com as falsas imagens de riqueza e de prosperidade em que o materialismo capitalista é fértil. Para muita gente, o «saco das promessas» esvaziou-se. E pensam: «se tudo é mentira não vale a pena lutar!».
É esta atitude que deve ser combatida. O católico é crente mas também é cidadão. Tem deveres para com a Igreja mas deve recusar colocá-los acima do respeito pelo bem comum e pela rectidão. O casamento com o capitalismo tem de dar lugar ao divórcio. O respeito pela própria fé exige do povo católico uma intervenção activa junto do clero, no sentido de «expulsar os vendilhões do templo».
Nº 1879
03.Dezembro.2009 - Avante
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