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Correio da Manhã
Larry Downing/Reuters
Acordo entre EUA e China deixa Europa de fora
Mesmo que se chegue a um acordo na Conferência Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas, a cimeira de Copenhaga será sempre recordada por ter ficado aquém das expectativas. Isto apesar de os maiores poluidores, Estados Unidos, China, África do Sul e Índia, terem chegado a um acordo entre si – excluiu a União Europeia – que prevê uma listagem das medidas de combate às alterações climáticas.
.Este acordo de partes, porém, é considerado insuficiente, pois não tem carácter vinculativo, e até ao fecho da presente edição não havia garantias de ser aceite pela cimeira. Uma nota indicadora do fracasso deste encontro foi o facto de Barack Obama ter abandonado Copenhaga antes da votação final do acordo, alegando o agravamento das condições meteorológicas.
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Durante todo o dia, o presidente dos Estados Unidos envolveu-se em múltiplas reuniões com vários chefes de Estado. No entanto, foi o encontro entre o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, o presidente da África do Sul, Jacob Zuma, e os primeiros-ministros da China e Índia, respectivamente, Wen Jiabao e Manmohan Singh, que veio dar algum andamento ao último dia da cimeira.
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No final do encontro, Barack Obama assumiu que "não é o melhor acordo mas o possível". "Devemos caminhar para medidas que sejam obrigatórias mas neste momento não foi possível. Quero ter a certeza de que o que vamos acordar será cumprido", acrescentou, numa declaração áudio transmitida pelo site da Casa Branca. Antes, um elemento da delegação norte-americana anunciara que "nenhum país está satisfeito mas é um passo histórico no combate às alterações climáticas".
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As negociações entre todos os países da Convenção Quadro das Nações Unidas continuaram no Bella Center, em Copenhaga, na Dinamarca. Em cima da mesa já estava o terceiro esboço de acordo, que, entre outras medidas, prevê a redução da emissão de gases com efeito de estufa em cerca de 80% até 2050.
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PORMENORES
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"VIM PARA AGIR"
"Vim a Copenhaga não para falar mas sim para agir", foi a frase mais marcante do discurso de Barack Obama.
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FOTO NÃO FEITA
Deveria ter sido feita uma foto histórica com 130 chefes de Estado mas nem para isso se chegou a um acordo e não houve ‘boneco’.
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LÍDERES PARTIRAM
Ainda as negociações estavam por concluir e já muitos governantes tinham deixado Copenhaga, como Obama, Medvedev e Lula.
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CHÁVEZ RECUSA
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, acusou Barack Obama e aliados de negociarem à porta-fechada. "Os EUA continuam a cheirar a enxofre", disse, reeditando uma frase que dirigiu a George W. Bush em 2006.
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'MANIF' COM 1500
Cerca de 1500 pessoas manifestaram-se ontem em Copenhaga, indiferentes ao frio, exigindo a libertação de 19 detidos em anteriores protestos.
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LULA DA SILVA SURPREENDEU COM DISCURSO FORTE E EMOTIVO
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"Adoraria sair daqui com o documento mais perfeito do Mundo assinado mas se até agora não conseguimos fazer esse acordo não sei se algum anjo ou algum sábio descerá a este plenário para colocar na nossa cabeça a inteligência que nos faltou até agora." Foi esta esperança num "milagre" que marcou o discurso do presidente brasileiro, Lula da Silva, ontem, quando já reinava um ambiente de desilusão em Copenhaga.
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"Para existir um mau acordo, mais vale não haver acordo", considerou Lula da Silva, para quem não é com meias-palavras que se resolve os problemas levantados pela mudança climática induzida pela actividade humana. "O dinheiro não é esmola, é o pagamento por dois séculos de emissão de gases com efeito de estufa por quem teve o privilégio de se industrializar primeiro", sublinhou, lembrando que, em 2003, quando foi eleito, quis que todos os brasileiros pudessem alimentar-se três vezes por dia – "uma coisa do passado que na América Latina e na África é uma coisa do futuro". "Não discutimos o clima e o ambiente mas o desenvolvimento e as oportunidades para todos", enfatizou.
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THOM YORKE INFILTRADO
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O vocalista dos Radiohead, Thom Yorke, fez-se passar por jornalista e marcou presença na cimeira de Copenhaga. O músico, conhecido pelo seu envolvimento em questões ambientais, foi bastante crítico com o desenrolar das negociações: "Fiquei irritado com a forma como o governo americano tentou reduzir as propostas que estavam sobre a mesa. São um bando de homens reprimidos de meia-idade que só dão valor aos seus interesses pessoais."
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DISCURSO DIRECTO
"NÃO GARANTE OBJECTIVOS MÍNIMOS", Francisco Ferreira, Vice-presidente da Quercus
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CM – O que significa este acordo entre EUA, China, Índia e África do Sul?
Francisco Ferreira – É um acordo entre eles. Ainda não sabemos se é um acordo para a cimeira ou se é só algum entendimento entre esses países.
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– Quais as implicações no futuro?
– Há um aspecto complicado, pois não garante, se for aceite pela cimeira, os objectivos mínimos no combate às alterações climáticas
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– Qual é agora o papel da União Europeia?
– Vamos aguardar pela reacção da União Europeia. À partida, conforme o que foi anunciado, parece ser um acordo paralelo que deixa a UE e a ONU de fora.
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André Pereira.
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