A Internacional

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terça-feira, abril 27, 2010

Hungria entrega-se de alma e coração a Viktor Orbán


Orbán disse que ontem foi "o fim de uma era" 
REUTERS/Laszlo Balogh
Por Clara Barata
 
O próximo senhor com quem se fala em Budapeste vira o país à direita com uma maioria arrasadora, num estado em crise profunda

A Hungria tornou-se ontem no primeiro país da antiga Europa comunista a ser governada por um partido capaz de proceder, sozinho, às mudanças constitucionais que prometeu aos eleitores. Num país afundado numa grave crise económica e social, onde surgiu uma direita radical e xenófoba, são grandes as expectativas sobre como irá Viktor Orbán, o líder do Fidesz (centro-direita) lidar com os problemas que os húngaros confiam que irá resolver.

O Partido Socialista sai do poder, após oito anos de governação marcados pela crise que obrigaram a Hungria a ser o primeiro país da União Europeia a recorrer a um empréstimo do FMI, em 2008. Após a segunda volta das legislativas, o Fidesz conquista 263 dos 386 assentos no Parlamento, cinco a mais do que os necessários para a maioria de dois terços.

Com esta maioria, o Fidesz poderá mudar a Constituição e a legislação que regula o sistema eleitoral, os media e os direitos de cidadania - pontos fundamentais do seu programa. Orbán, aclamado por milhares de fiéis agitando bandeiras, falou numa "revolução nas urnas" relata a AFP. "Os húngaros chegaram hoje a um acordo nacional que significa o fim da era que mergulhou o povo na pobreza e no desespero", disse Orbán.

Ainda antes da votação de ontem, uma sondagem do Instituto Nezopont revelava que 57 por cento dos eleitores viam mais benefícios do que riscos em que o Fidesz ganhasse uma maioria de dois terços, adiantava a agência noticiosa húngara MTI.

Os mercados financeiros olham expectantes esta maioria avassaladora, que propõe mudar a administração local, apontada como um sorvedouro de dinheiro. Orbán promete reduzir o número de eleitos locais e cortar nos orçamentos públicos. E limitar de forma drástica o número de deputados.

O próximo primeiro-ministro tenciona também cortar os impostos e combater a corrupção - mas tem sido parco em detalhes. Isso deixa os mercados nervosos, porque os últimos anos da sua anterior experiência como chefe do Governo (1998-2002) foram marcados pelo populismo.

A questão da nacionalidade

Um dos primeiros gestos do próximo executivo deve ser conceder nacionalidade húngara, com passaporte e direito de voto, às pessoas de cultura magiar que vivem nos países vizinhos. São cerca de três milhões, na Ucrânia e na Roménia, entre outros, e um caldeirão de potenciais conflitos. A Ucrânia, por exemplo, não contempla a possibilidade da dupla nacionalidade. E com a Eslováquia, que fez do eslovaco a única língua oficial, já houve desentendimentos. Uma grande incógnita é a forma como lidará com o Jobbik, o partido de extrema-direita anticiganos e antijudeus, que entra pela primeira vez no Parlamento, com 16,67 por cento dos votos e 47 deputados.

O partido liderado por Gábor Vona torna-se, quase da noite para o dia, a terceira maior força política. E tem ambições: por exemplo, a liderança das comissões parlamentares de Negócios Estrangeiros e Segurança Nacional. Para mostrar "que o radicalismo também tem um rosto profissional", disse Vona, citado pela MTI.

Porquê estas comissões? Provavelmente porque se relacionam com as comunidades de cultura magiar no estrangeiro, tema caro aos nacionalistas, e as relações exteriores - por exemplo com a União Europeia, da qual o Jobbik quer sair.
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Perfil

A pátria sou eu- Orbán é um governante com planos para os próximos 20 anos

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Viktor Orbán, o líder do Fidesz e próximo primeiro-ministro da Hungria, consegue algo inédito na Europa que até há 20 anos era comunista: ser eleito com uma maioria de dois terços. E volta ao poder, que deixou com pouca vontade, ao perder as eleições em 2002. Confrontado com os resultados das legislativas que punham fim aos seus quatro anos como primeiro-ministro, não hesitou em tentar levar os seus apoiantes para a rua para contestar os resultados, com uma frase recordada pelo Le Monde e que dá bem a entender a fibra de que é feito: "A pátria não pode estar na oposição."

Hoje os húngaros parecem bastante satisfeitos com Orbán, que em 1989 - ainda um jovem de 26 anos - discursou na Praça dos Heróis de Budapeste exigindo eleições livres e a retirada das tropas soviéticas. Jurista de formação e estratego de longo prazo, depois da derrota de 2002 endureceu o discurso. Tornou-se o campeão das minorias húngaras que vivem nos países vizinhos após o desmantelamento da Grande Hungria pelo Tratado de Trianon, em 1920, recorda a L"Express. Tal como outros observadores, a revista francesa atribui-lhe responsabilidades no surgimento de outro partido cujo extremismo de tom retrógrado assusta a Europa - o Jobbik.

Orbán, conservador e populista, criou um movimento de organizações populares, para lá do partido, com que pretendia mobilizar o "povo de direita" - e alguns destes "círculos cívicos" revelaram-se mais radicais e foram as sementes do grupo que se formou em torno de Gábor Vona, o líder do Jobbik.

Racista e xenófobo, contra a União Europeia, olhando sempre para as injustiças do Tratado de Trianon, desejoso de punir o "crime cigano" e expulsar os judeus das terras magiares - um discurso odioso que parece saído dos tempos de antes da II Guerra - é o que caracteriza o Jobbik. "O Fidesz legitimou o discurso de exclusão. Preparou a cama para o Jobbik", disse à L"Express Attila Ara-Kovacs, director de um think-tank húngaro.

Como vai agora Orbán lidar com o Jobbik é uma das incógnitas. Há quem aposte muito nele. "Ninguém brinca com Orbán. É um lutador. Se ele considerar o Jobbik uma ameaça, vai acabar com ele", disse ao New York Times Peter Rona, um economista que conhece o futuro primeiro-ministro húngaro e a sua personalidade autoritária.

A economia é o principal desafio de Orbán - terá de gerir as condições de um empréstimo de 20 mil milhões de euros do Fundo Monetário Internacional e da União Europeia. No ano passado, a economia contraiu-se 6,3 por cento, e neste ano parece estagnada. Ele prometeu criar um milhão de empregos em dez anos, mas foi parco em detalhes sobre como conseguirá isso.

E note-se: Orbán (que fará 47 anos a 31 de Maio) tem planos para dez anos, não para os quatro do mandato para o qual é eleito.

Num discurso no fim de 2009 previa que nos próximos 15 a 20 anos a política húngara poderia definir-se por "uma força política central", em vez do sistema dual dos últimos 20 anos, após a queda do comunismo. "Empenho-me pessoalmente em que, em vez de uma política marcada por lutas permanentes, se privilegie uma política cujo objectivo seja a governação permanente." Que se leia como se quiser. Clara Barata

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