O calendário de Setembro recorda sempre os pavores da II Guerra Mundial. Porém, nas memórias da guerra, as raízes da paranóia nazi são em geral omitidas e também pouco se fala dos seus ocultos objectivos centrais, responsáveis pela maior chacina dos tempos modernos. Convém acentuar que o nazismo não é um fantasma para sempre arrumado nas prateleiras da História. Permanece anónimo e é frequentemente aproveitado como modelo inspirador das intrigas e das manobras dos caudilhos da actualidade.
O partido nazi alemão data de 1919 mas a consolidação do seu poderio não foi obra de um dia. Hitler tomou posse como chefe do «governo de concentração nacional» (hoje, poder-se-ia dizer-se governo do bloco central) em Fevereiro de 1933. Neste intervalo do tempo a acção dos nazis foi sobretudo desordeira, através de arruaças de bandos terroristas. Só depois passou à tomada do poder, à instalação do regime e ao desencadear das guerras de agressão, fase que só terminou em 1941, com a invasão da URSS.
Hitler, no apogeu, proclamou então a vitória da Nova Ordem Europeia (a globalização nazi). Instalou em toda a Europa o «estado concentracionário» que canalizava para a Alemanha o produto e o património dos territórios ocupados e impunha aos povos inferiores a disciplina férrea e brutal ditada pelas unidades policiais de ocupação (SS, Gestapo, polícias de fronteira, serviços de segurança central, Wermacht, etc.). Por toda a parte, sobretudo na Europa Central e do Leste, foram surgindo os campos de concentração e extermínio responsáveis pela tortura e morte de muitos milhões de seres humanos. Neles eram torturados e sucumbiram muitos milhões de comunistas, de judeus, de intelectuais, de resistentes, de idosos e de doentes, de ciganos – enfim de quantos recusavam servir o invasor ou tinham a desgraça de não pertencerem à raça teutónica dos super-homens.
Por muito que o facto espante, o poder nazi nasceu de eleições reconhecidas como democráticas e livres. No parlamento, o partido nazi obteve a maioria absoluta e formou coligações com outras forças, católicas, latifundiárias, do poder financeiro e empresarial, das cúpulas da indústria dos armamentos, etc. Em bloco, fizeram aprovar um plano político quadrienal que previa a reorganização da economia, o fim da exploração dos camponeses e o pleno emprego. A proposta foi aprovada por unanimidade e atraiu a confiança popular.
A partir de então, uma vez instalados no poder, os nazis foram absorvendo ou neutralizando as forças dos seus aliados, centralizaram as chefias e decretaram sucessivas medidas antiterroristas como a unificação das polícias, a mobilização da economia para o esforço de guerra ou a substituição do conceito de emprego pelo de ocupação no trabalho. O trabalhador desempregado tinha uma esperança a que se agarrar, uma imagem virtual do futuro. Foi à sombra destas políticas que engordaram as grandes fortunas nazis, o negócio das armas e da especulação e o domínio totalitário das áreas da investigação, da cultura e da comunicação social. O terrorismo existia, de facto, mas tinha origem no próprio Estado. Gabavam-se então, os nazis, de terem virado uma página da História.
A assinatura da Concordata entre o Berlim e o Vaticano, logo em meados dos anos 30, representou o reconhecimento, por parte da Igreja, do regime nazi com todo o seu cortejo de horrores. Comentava Hitler com ironia: - O cristianismo é a base de toda a nossa Moral...
Aliás, a Santa Sé pouco ou quase nada exigiu pela cedência: apenas um pouco mais de poder de intervenção na área da Educação. Quanto ao resto, Pio XI limitou-se a estender a passadeira aos criminosos: reconheceu o regime e foi até ao ponto de concordar com a dissolução do Partido Católico do Centro e sua posterior integração na esfera nazi. Berlim e o Papa viviam fascinados pelo projecto da Nova Cruzada Contra o Comunismo. Viu-se depois quanta miséria, sofrimento e morte este fundamentalismo sectário provocou.
As utopias religiosas sempre estiveram presentes nas práticas nazis. Se o resistente fosse terrorista, então as guerras de agressão teriam a virtude moral de dissuadirem o terror. Por isso, os nazis diziam que os comunistas eram agentes do espírito do Mal. Tinham incendiado o Parlamento do Reich. Eram responsáveis pelo ataque a um centro de rádio que precedeu a invasão da Polónia. Depois, fuzilaram em Katyn 11 mil oficiais polacos. E os bolcheviques caluniavam a Alemanha ao não reconhecerem que os campos de concentração nazis desempenhavam um papel de grande importância social através da reeducação de delinquentes. No Tribunal de Nuremberga veio a provar-se que todos estes crimes tinham sido efectivamente cometidos mas pelas tropas e hordas nazis.
Estes métodos de contra-informação continuam a ser actualmente praticados. Lembremos, ao acaso, exemplos como os das Torres de Nova Iorque, do Eixo do Mal, da Al-Caeda, das guerras do Kosovo, do Iraque e do Afeganistão, o presídio de Guantámano, os morticínios do Darfur, etc., etc.
O nazismo não morreu. É um perigo persistente, bem vivo e actual. Ressurge a cada passo e alimenta-se da mentira, dos interesses do dinheiro ou mesmo de uma inocente maioria eleitoral!
Avante -
Nº 1897
08.Abril.2010 |
Artigo publicado na Edição Nº1816 |
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