sábado, 17 de Abril de 2010
O vendaval de escândalo que tem abalado a Igreja Católica, não poupando mesmo o Papa, fez e fará correr rios de tinta. Desatado o nó que as vítimas traziam na garganta, alguns há décadas, soltou-se um caudal de denúncias, que não para de crescer, onde nos são contadas as estórias asquerosas de padres que repetidamente abusaram sexualmente de crianças, nalguns casos não poupando sequer as portadoras de deficiências.
Do muito que se tem escrito, destaca-se, por um lado, a hipocrisia desavergonhada e fria de alguns representantes da Igreja, na sua defesa formal e desapiedada da instituição, desrespeitando as vítimas, por outro, aqueles que, de boa fé, tentam justificar os silenciamentos, encobrimentos e cumplicidades das hierarquias religiosas, embora estejam contra os crimes... e por fim, aqueles que, libertos de peias e fidelidades religiosas mal dirigidas, denunciam sem meias palavras este fenómeno, como sendo um dos maiores crimes dos nossos dias.
Estes últimos, não poucas vezes usam o humor – sim, o humor pode ser uma arma – para melhor ilustrar o seu pensamento. Alem disso, talvez o sopro de liberdade que impele os seus textos, os faça escrever melhor. Apenas três exemplos, lidos aqui pela blogosfera, sendo que apenas consigo identificar a proveniência do primeiro.
1. Pormenor de um texto muito bem escrito, como sempre, no regresso de Rui Vasco Neto ao seu blog, retratando as movimentações do Vaticano: «Um jogo de vergonhas que só ganha quem não tem».
2. Grande “reflexão”: um blogueiro, até admite a possibilidade da existência de Deus... mas sobre este papa é taxativo. «Não existe!»
3. Genial adaptação de um velho ditado popular aos nossos tempos:
«Quem tem boca vaia Roma!»
O sexo dos anjos
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Quarta-feira, 14 Abr, 2010
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Procissão ainda no adro, o assunto 'pedofilia na Igreja Católica' vai fazendo a ordem do dia, dia após dia e todos os dias, na cadência de cada nova revelação, uma e outra a seguir a uma outra sempre mais escabrosa do que a anterior. Sempre mais inacreditável, tanto quanto dolorosamente real. É todo um mar de podridão que ameaça finalmente romper a barragem de cinismo e hipocrisia que vem suportando as águas até hoje, contido todas as revoltas por conta dos sempiternos mistérios da Fé, num jogo de vergonhas que só ganha quem não tem. E veja-se como são altas as paradas, neste começo: se uns meros salpicos já fazem escorrer tanta reputação de santidade para o esgoto dos vulgares humanos, então não quero nem imaginar a desgraça que se adivinha para o dia em que os telhados se partirem num estrondo de cacos, os diques cederem e a verdade flutuar, finalmente, lado a lado com os corpos inchados dos carrascos, vítimas de si próprios. Mas por ora o tempo é de chocante revelação, apenas. É tempo de digerir, devagar e a custo, aquilo que os nossos olhos sempre viram mas que o nosso coração sempre negou por força do horror inimaginável que implicava uma visão clara e objectiva da realidade. Mas agora, com o espírito atormentado e confuso, a comunidade cristã faz o natural: dobra o joelho e pede contas à Fé, posto ter depositado na alvura papal toda a sua derradeira esperança na santidade possível a um ser humano. Branco mais branco não há, crescemos a aprender. É por isso da boca de Sua Santidade que a Igreja viva aguarda uma palavra de orientação, um sinal de que vê e de como vê toda esta tragédia. Também a História aguarda para ser escrita, que o tempo é de novo capítulo em vários possíveis. Os olhos do mundo inteiro, católico e não católico, estão postos em Bento XVI e em tudo o que faça ou diga. Pois e afinal que diz o Papa a esta comunidade angustiada dos seus fiéis? Pouco, muito pouco. E sobre os casos recentemente denunciados de pedofilia na sua Igreja? Sobre esses diz nada, rigorosamente nada de concreto. Apenas um ou outro recado subtil, muito subtil como o da passada segunda-feira, em Castelgandolfo e durante o Regina Caelis, quando Sua Santidade recordou a todos os sacerdotes que «recebemos a missão de anjos» enquanto mensageiros de Jesus Cristo. A subtileza é inegável, há que convir. E o recado para todos os efeitos ficou dado, na minha modesta opinião. Afinal não tem discussão, o sexo dos anjos, nunca teve. Nem vai ter com este Papa, pelos vistos.
publicado por Rui Vasco Neto
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