Fome: Associação de Restauração reconhece desperdício alimentar
Todos os dias vão para o lixo 35 mil refeições
Cerca de 35 mil refeições são deitadas fora todos os dias, tudo porque não existe uma rede eficaz de recolha e redistribuição das mesmas. A Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) reconheceu ao CM que 7% das 500 mil refeições confeccionadas diariamente vão parar ao lixo, ou seja, 12,775 milhões por ano. Para inverter a situação, há um projecto para criar um sistema nacional que permita um melhor aproveitamento.
- 0h30 - Correio da Manhã 2010 11 17
Segundo José Manuel Esteves, secretário-geral da AHRESP, o problema "decorre da lei que é taxativa e impede o aproveitamento das refeições". Em causa estão as refeições produzidas todos os dias para as cantinas e refeitórios de hospitais, sistemas prisionais, escolas, universidades e outra restauração colectiva. "Mesmo assim, não é um grande desperdício. Todos os dias são confeccionadas cerca de 500 mil refeições", refere.
.A Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) refere, porém, que não há lei nenhuma que impeça os restaurantes de aproveitarem os excedentes alimentares e entregá-los às pessoas mais carenciadas. "Se essa distribuição implicar o transporte das refeições, então devem ser asseguradas as condições ideais através de viaturas preparadas para o quente ou frio", explicou fonte da autoridade.
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Conscientes de que as dificuldades são cada vez maiores, a AHRESP e ASAE têm reunido para criar uma rede que r.esponda às necessidades crescentes das pessoas. "Não há recolha, distribuição, nem uma rede eficaz. Queremos um sistema nacional com os parceiros da sociedade civil, os produtores, distribuidores e restauração", garante José Manuel Esteves.
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Desperdício que pode alimentar muitas famílias. Que o diga José Domingos, de 49 anos, desempregado. Recebe 189 euros de subsídio de Reinserção Social, mas paga 160 euros de renda. "Dizem que sou velho aos 49 anos", lamenta este motorista de ligeiros, ex-emigrante, que queria ir para taxista, mas não tem dinheiro para o certificado.
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"O QUE SOBRE DEITAMOS FORA"
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A crise económica e as dificuldades financeiras não afectam só os agregados familiares. Também os restaurantes têm sofrido as consequências da diminuição da procura e, como consequência, têm sido obrigados a uma gestão mais eficiente da sua matéria-prima. No restaurante Derbi, em Lisboa, por exemplo, o pouco que sobra vai para o lixo, explica Joaquim Grilo.
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CASAL DE DOENTES VIVE COM 51 EUROS POR MÊS
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O assalto a dois bancos, para conseguir dinheiro para comer e pagar medicamentos, não livrou da miséria Augusto Costa, 47 anos. Partilha com a mulher, Margarida, doente de esclerose múltipla, a única refeição diária que recebe da assistência social. O casal vive dos 401 euros da reforma da mulher mas paga 350 euros pelo quarto alugado, em Lisboa. Sobram 51 euros por mês. Augusto Costa, doente dos intestinos, saiu da cadeia no dia 5, após cumprir oito meses pelos assaltos, que lhe renderam 1030 euros. Fonte da Misericórdia de Lisboa disse ao CM que Margarida Costa pediu ajuda em Março e foi-lhe dada "alternativa habitacional com despesas assumidas pela instituição. Teve proposta de atribuição de benefícios de saúde e foi instruída para a forma de requerer o Rendimento de Inserção, mas a senhora desapareceu".
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"É UMA ESTUPIDEZ HAVER FOME": António C. Pereira, Petição contra desperdício alimentar
Correio da Manhã – Como surgiu a ideia de criar uma petição contra o desperdício alimentar?
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António Costa Pereira – Há cerca de três anos, estava a ajudar uma instituição e pensei ir buscar as refeições que sobravam no refeitório de uma empresa. Eram cerca de 100 refeições por dia. Descobri que não era possível, porque a lei não o permitia. Pensei que era uma estupidez haver portugueses com fome e comida deitada fora.
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– Que apoios tem?
– Neste momento, algumas autarquias e instituições.
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– Quantas assinaturas recolheu?
– Em Julho coloquei a petição on-line. Já está nas 45 mil assinaturas.
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