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Porcarias
Não há política, não existe interesse particular ou de outro género que possa sobrepor-se à procura da verdade- 19 Dezembro 2010 - Correio da Manhã
O WikiLeaks furou o sistema de segurança dos EUA e está a divulgar milhares de documentos. Um deles conta aquilo que nós sabíamos. O embaixador inglês comunicou-lhes que a polícia inglesa tinha obtido provas de que os pais de Maddie estavam envolvidos na morte e no desaparecimento da filha e que, por razões de Estado, tal fora pura e simplesmente escondido da Justiça portuguesa. O porta-voz do casal não desmentiu. Apenas adiantou que este assunto fazia parte da história. Não interessava. Quando se está protegido, é permitida esta arrogância. Porém, também é verdade que a protecção dos poderosos serve poderosos mas jamais poderá esconder a verdade, que, como é sabido, vem sempre ao de cima.
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E a verdade aí está outra vez. Vigorosa, sem piedade, sem dó daqueles que sempre quiseram ver um fim moral nesta história. Desde piedosos jornalistas que recusaram publicar qualquer outra tese que não fosse a verdade vendida e produzida antes de tempo: a miúda foi raptada e ponto final. Tudo o resto era patetice e mau gosto da polícia portuguesa e daqueles que sempre perceberam a impossibilidade do célebre rapto. E essa patetice foi aceite pelo Ministério Público, que mandou arquivar o processo. As investigações interrompidas, o casal protegido, a verdade formal, judicial, decepada sem escrúpulos. Sabemos pelo WikiLeaks que afinal a coisa estava bem segura pelo governo inglês e que as provas estarão sabe-se lá onde.
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A verdade é que a investigação criminal não pode viver de preconceitos. Demonstrar os nexos de causalidade entre vítima e criminoso é, em qualquer circunstância, a única motivação que preside ao trabalho da polícia. Não há política, não existe interesse particular ou de outro género que possa sobrepor-se à procura da verdade. Isto funciona em Portugal. E todos os anos pais matam filhos e filhos matam pais. Porém, não são protegidos por nenhum governo em especial, nem de Portugal nem de outro país qualquer. Por isso, são submetidos à decisão superior dos tribunais.
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Não foi o caso da inditosa criança inglesa, cujo desaparecimento ficou por resolver graças às protecções que rodearam os seus paizinhos, que, diga-se, sempre foram tratados em Portugal de forma excelente face às suspeitas que sobre eles pendiam. Desde campanhas jornalísticas à provocação inglesa que insultava Portugal em nome da dignidade dos pais. Quanto custou essa campanha? Talvez haja outro telegrama do WikiLeaks que nos informe da porcaria que sobre este assunto falta ainda conhecer.
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