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Em entrevista feita por Roberto Antonini e publicada no jornal italiano La Reppublica, na última terça-feira (7), o linguista estadunidense Noam Chomsky discorre sobre o atual a frustração e raiva que premeia a sociedade americana, o estado da economia dos Estados Unidos e o papel que o presidente Barack Obama desempenhou para que os ricos ficassem ainda mais ricos.
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Leia a seguir trechos da entrevista de Chomsky:
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La Reppublica: Os Estados Unidos estão hoje atravessados por uma onda de frustração e de raiva. Como se explica esse sentimento?
Noam Chomsky: Durante 30 anos, a renda da maioria da população, que nunca foi muito elevada, permaneceu mais ou menos igual ou até diminuiu, enquanto as horas de trabalho aumentaram. As famílias se viram graças ao trabalho de ambos os genitores, mas os Estados Unidos não dispõem de um sistema forte de ajuda social e, portanto, não existe nenhuma ou quase nenhuma ajuda à família, e esse é um fardo pesado.
E o presidente Obama em tudo isso?
Obama chegou à Casa Branca na onda de um grandíssimo entusiasmo e na esperança de que conseguiria mudar essa situação. Pelo contrário, não fez nada mais do que piorar as coisas. Não completamente, é certo. O seu pacote de incentivos econômicos permitiu que se salvassem alguns milhões de postos de trabalho. Permitiu, é verdade, coloca um remendo no rasgão de um sistema financeiro defeituoso, mas de tal modo que os culpados do desastre são agora ainda mais ricos e poderosos do que antes. E os norte-americanos veem bem que a sua renda estagna e que as suas condições de vida pioram, enquanto uma pequeníssima faixa da população controla riquezas enormes.
O senhor não acha paradoxal, porém, que, nesse contexto de luta política, de batalha desencadeada contra Obama pelas grandes corporações, pela esquerda, particularmente muitos intelectuais de esquerda, não apoiaram o presidente?
Foi Obama mesmo que criou os pressupostos para essa situação, que deve ser analisada detalhadamente. Tomemos como exemplo a reforma do sistema de saúde, o seu grande sucesso. Quando Obama foi eleito presidente, ele disse ser favorável a um programa nacional de seguro de saúde, algo semelhante ao que existe em outros países do mundo. Uma grande maioria da população era favorável. Mas ele renunciou a ele imediatamente.
O senhor, em seu posicionamento filosófico, muitas vezes faz referência a von Humboldt, a Descartes, a alguns anárquicos, também a Adam Smith. E a sua relação com Karl Marx?
Os primeiros manuscritos de Karl Marx vêm diretamente dessa tradição, do Iluminismo romântico, de fato quase textualmente. É daí que provém o conceito de alienação. Nos escritos posteriores, Marx fez uma análise crítica muito forte dos elementos constitutivos fundamentais do sistema capitalista e das mudanças históricas. Há muito a aprender. O fato de que se possa aplicar o marxismo à sociedade contemporânea é discutível, mas seguramente a contribuição intelectual de Marx é de grande importância. Não me definiria como marxista, nem cartesiano, nem outra coisa. Não devemos venerar os indivíduos, mas sim interessar-nos pelas ideias.
Fonte: Adital. Tradução de Moisés Sbardelotto
.La Reppublica: Os Estados Unidos estão hoje atravessados por uma onda de frustração e de raiva. Como se explica esse sentimento?
Noam Chomsky: Durante 30 anos, a renda da maioria da população, que nunca foi muito elevada, permaneceu mais ou menos igual ou até diminuiu, enquanto as horas de trabalho aumentaram. As famílias se viram graças ao trabalho de ambos os genitores, mas os Estados Unidos não dispõem de um sistema forte de ajuda social e, portanto, não existe nenhuma ou quase nenhuma ajuda à família, e esse é um fardo pesado.
E o presidente Obama em tudo isso?
Obama chegou à Casa Branca na onda de um grandíssimo entusiasmo e na esperança de que conseguiria mudar essa situação. Pelo contrário, não fez nada mais do que piorar as coisas. Não completamente, é certo. O seu pacote de incentivos econômicos permitiu que se salvassem alguns milhões de postos de trabalho. Permitiu, é verdade, coloca um remendo no rasgão de um sistema financeiro defeituoso, mas de tal modo que os culpados do desastre são agora ainda mais ricos e poderosos do que antes. E os norte-americanos veem bem que a sua renda estagna e que as suas condições de vida pioram, enquanto uma pequeníssima faixa da população controla riquezas enormes.
O senhor não acha paradoxal, porém, que, nesse contexto de luta política, de batalha desencadeada contra Obama pelas grandes corporações, pela esquerda, particularmente muitos intelectuais de esquerda, não apoiaram o presidente?
Foi Obama mesmo que criou os pressupostos para essa situação, que deve ser analisada detalhadamente. Tomemos como exemplo a reforma do sistema de saúde, o seu grande sucesso. Quando Obama foi eleito presidente, ele disse ser favorável a um programa nacional de seguro de saúde, algo semelhante ao que existe em outros países do mundo. Uma grande maioria da população era favorável. Mas ele renunciou a ele imediatamente.
O senhor, em seu posicionamento filosófico, muitas vezes faz referência a von Humboldt, a Descartes, a alguns anárquicos, também a Adam Smith. E a sua relação com Karl Marx?
Os primeiros manuscritos de Karl Marx vêm diretamente dessa tradição, do Iluminismo romântico, de fato quase textualmente. É daí que provém o conceito de alienação. Nos escritos posteriores, Marx fez uma análise crítica muito forte dos elementos constitutivos fundamentais do sistema capitalista e das mudanças históricas. Há muito a aprender. O fato de que se possa aplicar o marxismo à sociedade contemporânea é discutível, mas seguramente a contribuição intelectual de Marx é de grande importância. Não me definiria como marxista, nem cartesiano, nem outra coisa. Não devemos venerar os indivíduos, mas sim interessar-nos pelas ideias.
Fonte: Adital. Tradução de Moisés Sbardelotto
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