Millennium BCP: Governo português estava a par da iniciativa do banqueiro
WikiLeaks: Santos Ferreira ‘espião’
O presidente do Millennium BCP, Carlos Santos Ferreira, ofereceu-se para passar informações sobre o sistema financeiro iraniano aos Estados Unidos. A informação foi ontem revelada pela organização WikiLeaks que divulgou um conjunto de documentos da embaixada norte-americana em Lisboa.
- 13 Dezembro 2010 - Correio da Manhã
Num desses documentos, datado de Fevereiro de 2010, a embaixada americana diz que a "operação" era do conhecimento do primeiro-ministro, José Sócrates, e de vários membros do seu governo.
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De acordo com o site do jornal espanhol ‘El País' que também divulgou os documento, tudo terá começado em Abril de 2009, quando uma delegação do maior banco privado português foi convidada pela embaixada iraniana em Lisboa a visitar Teerão, de modo a avaliar oportunidades de negócio naquele país do Médio Oriente.
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A delegação do Millennium BCP foi composta por José João Guilherme, membro do Conselho da Direcção, e Duarte Pitta Ferraz, director da unidade de assuntos internacionais. Durante cinco dias aqueles dois responsáveis mantiveram reuniões com representantes do Banco Central do Irão, sete bancos comerciais a operar naquele país e com a Organização de Investimento e Assistência Técnica e Económica do Irão, para discutir a possibilidade de realizar negócios com o país sem violar as restrições impostas pela União Europeia e as sanções da ONU. Todos estes encontros tiveram o conhecimento e a participação da embaixada portuguesa em Teerão.
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Dez meses depois, Santos Ferreira conversa com a encarregada de negócios da embaixada americana e propõe que os Estados Unidos controlem as contas de iranianos no Millennium. O CM contactou fonte oficial do Millennium BCP que disse que "o banco não faz qualquer comentário".
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PR QUERIA SER RECEBIDO NA SALA OVAL
A embaixada dos EUA em Lisboa, segundo um despacho de 29 de Agosto de 2008, refere que o Presidente da República Cavaco Silva ficou desagradado por não ter sido recebido na Sala Oval da Casa Branca pelo homólogo americano George W. Bush durante a sua visita a Washington, em 2007. Tanto mais que, segundo a mesma fonte, Cavaco se considera amigo pessoal de Bush pai.
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Embora do ponto de vista político seja improvável, os americanos referem que este facto poderá estar na base do atraso do reconhecimento da independência do Kosovo por parte de Portugal e ainda na redução do contingente militar no Afeganistão. Em 2007, o embaixador americano Thomas Stephenson afirmou: "Os nossos interlocutores referem que [os problemas no Afeganistão e Kosovo] estão relacionados com este mal-estar de Cavaco Silva."
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PAULO PORTAS É "ÁSPERO"
Num telegrama datado de 2 de Junho de 2009, Paulo Portas é descrito como sendo um "líder áspero mas altamente respeitado", que conseguiu colocar o partido "no centro do debate político, preenchendo um vazio deixado pelo PS e pelo PSD". Os EUA dizem ainda que estabilizou o CDS-PP após o seu regresso à liderança, em 2007.
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MANUELA FERREIRA LEITE É "CAPAZ E RESPEITADA"
A ex-líder do PSD Manuela Ferreira Leite é descrita num dos telegramas da embaixada dos EUA em Lisboa, datado de 26 de Abril de 2008, como uma pessoa "capaz", "amplamente respeitada pelo seu intelecto e experiência", mas "sem carisma". O telegrama, assinado pelo então embaixador Alfred Hoffman, refere-se a Ferreira Leite como "a protegida de Cavaco Silva, o político mais popular de Portugal", e indica que seria um adversário "muito mais formidável" para José Sócrates do que Pedro Santana Lopes, com quem na altura se preparava para disputar a liderança do PSD, e que é descrito como "um político agressivo, adepto do confronto" e "polarizador". O telegrama faz ainda uma breve menção a outros possíveis candidatos, incluindo um "antigo líder juvenil [Pedro Passos Coelho]".
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SÓCRATES É "TEIMOSO"
O primeiro-ministro José Sócrates é referido pela diplomacia norte-americana, segundo os documentos divulgados pela WikiLeaks, como um político "carismático", "pragmático", "teimoso" e a quem desagrada partilhar o poder, ou seja, que gosta de centralizar as decisões e evita tomar medidas que dividam a opinião pública.
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Os americanos, segundo a mesma fonte, ficaram agradecidos por o chefe do Governo português (e o ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado) ter permitido, em 2007, aos Estados Unidos da América usarem a base aérea das Lajes, nos Açores, para o repatriamento dos prisioneiros de Guantanamo. "Foi uma decisão difícil que nunca foi tornada pública", refere um despacho da diplomacia dos EUA datado de Setembro de 20o7. Note-se que não há para já referência ao uso da base das Lajes para transportar os detidos com destino aos EUA.
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Os norte-americanos manifestaram porém algumas reservas em relação a José Sócrates na medida em que consideram que o primeiro-ministro é "demasiado amigável" com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez.
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