25 de Janeiro de 2011, 11:02
Ontem mais de cinco milhões de portugueses não consideraram que valesse a pena votar. O frio, uma vitória anunciada e o assumido divórcio entre os portugueses e os politicos são as razões para que se diga, com a maior naturalidade, que "isto" é normal
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Cavaco Silva foi eleito com 2.230.104 votos, o equivalente a 52.94 % daqueles que foram às urnas. Na prática, cerca de 25% dos portugueses elegeram o presidente de todos nós, enquanto 53,37% se demitiram de o fazer. Sobre quem votou, vale ainda referir os 191.159 cidadãos que tiveram de se resignar com uma lei que subalterniza quem se dá ao trabalho de ir votar … em branco. Este é um pronunciamento cristalino, mas inconveniente para o status quo da democracia.
É que a conversa sobre a abstenção, um tema clássico do dia seguinte, resolve problemas a muito boa consciência. Todos falam com bastante propriedade sobre os riscos para a democracia, sobre as ilações para os políticos, sobre os deveres da cidadania. E, depois passa o dia seguinte, o país regressa à sua vida dita normal, os presidentes regressam ou instalam-se em Belém (e os deputados na Assembleia, e o primeiro-ministro em São Bento, e por aí fora). E assim continua até à eleição seguinte e nessa, como na anterior, é indesmentível algum desconforto com a pergunta: mas, afinal, em quem votariam estes todos que ficam em casa? A que se segue a pergunta seguinte: é melhor ou pior para mim que fiquem em casa?
Basta fazer um breve tour pelo SAPO, pelos principais sites informativos, redes sociais e blogs para encontrar um país ávido por participar na discussão política. Só mesmo o futebol bate tamanha entrega. Sendo a esmagadora maioria dos comentários anónimos, é difícil fazer a tipologia destes portugueses e da sua mobilização política. Mas é um facto que demonstram opinião convicta mesmo que nem sempre (bem) informada e que se disponibilizam para debates. É fácil participar online. Basta um "partilhar", "gostar" ou "comentar" e já estamos a exercer alguma forma de opinião, de influência, de debate. Mas, sobretudo, há um qualquer sentimento de efectividade, de causa-feito, mesmo que seja a apenas o efeito de amigos, conhecidos ou anónimos-desconhecidos responderem. Darem sinais de vida. Coisa que cada vez acontece menos com a classe política dita profissional.
Ontem um chefe de Estado foi eleito e discursou sem direito a perguntas.
É que a conversa sobre a abstenção, um tema clássico do dia seguinte, resolve problemas a muito boa consciência. Todos falam com bastante propriedade sobre os riscos para a democracia, sobre as ilações para os políticos, sobre os deveres da cidadania. E, depois passa o dia seguinte, o país regressa à sua vida dita normal, os presidentes regressam ou instalam-se em Belém (e os deputados na Assembleia, e o primeiro-ministro em São Bento, e por aí fora). E assim continua até à eleição seguinte e nessa, como na anterior, é indesmentível algum desconforto com a pergunta: mas, afinal, em quem votariam estes todos que ficam em casa? A que se segue a pergunta seguinte: é melhor ou pior para mim que fiquem em casa?
Basta fazer um breve tour pelo SAPO, pelos principais sites informativos, redes sociais e blogs para encontrar um país ávido por participar na discussão política. Só mesmo o futebol bate tamanha entrega. Sendo a esmagadora maioria dos comentários anónimos, é difícil fazer a tipologia destes portugueses e da sua mobilização política. Mas é um facto que demonstram opinião convicta mesmo que nem sempre (bem) informada e que se disponibilizam para debates. É fácil participar online. Basta um "partilhar", "gostar" ou "comentar" e já estamos a exercer alguma forma de opinião, de influência, de debate. Mas, sobretudo, há um qualquer sentimento de efectividade, de causa-feito, mesmo que seja a apenas o efeito de amigos, conhecidos ou anónimos-desconhecidos responderem. Darem sinais de vida. Coisa que cada vez acontece menos com a classe política dita profissional.
Ontem um chefe de Estado foi eleito e discursou sem direito a perguntas.
@Rute Sousa Vasco, directora editorial do SAPO
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http://presidenciais2011.sapo.pt/info/artigo/1123681.html
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