por Ana Albuquerque a quinta-feira, 6 de Janeiro de 2011 às 21:03
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Cavaco Silva diz que a sua relação com o BPN foi totalmente esclarecida. É falso. Se quer ver o assunto enterrado esclareça a quem comprou e vendeu as suas ações da SLN e porque as comprou e vendeu ao preço que foi estabelecido. Como justifica uma enorme valorização em pouquíssimo tempo?
Pode Cavaco Silva atirar-se para o chão e bramar contra a "campanha suja" que lhe é movida. José Sócrates fez o mesmo número várias vezes. Pode atirar sobre a Caixa Geral de Depósitos para que as atenções deixem de estar centradas nos seus companheiros políticos. Pode limitar-se a dizer muitas vezes que é honesto - como se todos aqueles de quem já suspeitámos não merecessem a mesma presunção. As explicações continuam por dar.
Não vale a pena Cavaco Silva continuar a fingir que o que está a ser debatido são poupanças familiares depositadas num banco. Não é disso que se trata. O que está a ser discutido é o negócio da venda das suas ações da Sociedade Lusa de Negócios, detentora daquele banco, com contornos pouco claros e que deram a si e à sua filha um lucro de 147,5 mil euros e de 209,4 mil euros, respetivamente. Cavaco Silva vendeu 105.378 ações da SLN, que comprara a um euro cada, em 2001, por 2,4 euros, no final de 2003. O mais importante: esta inexplicável valorização foi determinada por contrato, já que a sociedade não estava cotada na bolsa. É esse contrato, elaborado por uma administração composta por pessoas que lhe são próximas (uma delas até foi, depois disto, nomeada por ele para o Conselho de Estado), que se quer conhecer. Não parece legítima esta exigência?
Por enquanto, ninguém pode afirmar que tal venda tenha correspondido a um favor. Mas ninguém pode esquecer a proximidade política de quem tratou deste negócio.
Todos os esclarecimentos que Cavaco Silva deu refugiaram-se na sua relação com o BPN, quando se está a falar de ações da SLN, detentora de um banco cujos resultados financeiros que então eram conhecidos (e na realidade eram bem piores) não podiam justificar esta valorização. No site que o Presidente nos mandou consultar nada é dito sobre este assunto. E tudo o que disse depois foi negar que tinha escondido aquilo que nunca revelou.
O assunto tem relevância política? Claro que tem. O BPN faliu por causa de muitos negócios ruinosos do banco e da SLN. Cavaco Silva participou na decisão de nacionalizar o BPN (que deixou de fora os ativos da SLN) e, depois disso, fez, como Presidente, a defesa pública de Dias Loureiro. Precisamos de saber se o cidadão Cavaco Silva lucrou com um desses negócios que estão a ser pagos com o nosso sacrifício. Se não, assunto encerrado. Se sim, teremos de saber se tinha consciência disso. Se, com o extraordinário retorno que conseguiu, não desconfiou de nada, temos de passar a duvidar do seu suposto conhecimento do mundo das finanças. Se sabia o que estava a acontecer e resolveu ignorar e lucrar com este contrato tão vantajoso, então a coisa é grave.
Cavaco Silva disse que era preciso nascer duas vezes para ser mais honesto do que ele. Presunção e água benta cada um toma a que quer. Mas, no fim de tudo, são os factos que contam. E, até agora, só tivemos evasivas.
Daniel Oliveira (www.expresso.pt)
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