A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

sexta-feira, janeiro 21, 2011

Entrevista a Francisco Lopes por António Ribeiro Ferreira

Francisco Lopes - Foto Pedro Catarino


"Alegre é cúmplice do Governo do PS”
Francisco Lopes, candidato presidencial do PCP, acusa Manuel Alegre de ser cúmplice da política do Governo do PS e afirma que a alternativa é entre o voto na sua candidatura e o voto nos outros cinco adversários.
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Por:António Ribeiro Ferreira
Correio da Manhã


Correio da Manhã - Porque é que o PCP não se aliou nesta campanha presidencial ao PS e ao BE no apoio a Manuel Alegre? Porque é que não houve uma Frente de Esquerda?
Francisco Lopes - A minha candidatura tem um carácter distintivo de todas as outras. A sua definição como patriótica e de esquerda define logo um rumo de ruptura e mudança relativamente a uma política de desastre nacional e de injustiças que nos conduziu à situação actual. É a única que propõe um projecto alternativo, assente na soberania nacional e no aproveitamento dos nossos recursos.
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- E o que é que representa Manuel Alegre?
- Bem. Manuel Alegre, tal como Cavaco Silva, fez todo um percurso ao longo das últimas décadas que comprometeu o País.
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- Nesta campanha Francisco Lopes tem reservado de alguma maneira as críticas a Manuel Alegre. Cavaco Silva tem sido mais atacado. Mas Manuel Alegre não é cúmplice desta política do Governo, não é o candidato oficial do Governo?
- Inteiramente. Não apenas cúmplice. É participante, co-responsável, e aí não se diferencia de Cavaco Silva. E não é só do passado. É de agora, com estas políticas. E Defensor Moura e Fernando Nobre também são responsáveis.
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- Manuel Alegre diz que estas eleições são uma questão de vida e de morte para a democracia. Também acha que é assim? Ou é um exagero?
- Penso que no dia 23 há uma opção a tomar quanto ao futuro. E o nosso País foi conduzido a uma situação dramática sob todos os pontos de vista e não aguenta muitos mais anos neste rumo de afundamento, de dependência e de desemprego.
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- Mas é Manuel Alegre que salva o País dessa situação?
- Essa é a questão. É que a alternativa nestas eleições é o voto na minha candidatura e o voto nos outros candidatos, Manuel Alegre, Cavaco Silva, Fernando Nobre e Defensor Moura, todos eles, que não são só responsáveis pela situação actual. Olhando para o futuro, são parte do problema e do agravamento dos problemas.
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- São todos iguais?
- Manuel Alegre e Cavaco Silva estão de acordo com o essencial da política que o Governo do PS fez nos últimos anos.
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- É abusivo dizer-se, como o faz Manuel Alegre, que é o candidato do povo de esquerda e do 25 de Abril?
- É um abuso. Manuel Alegre é o candidato do PS, do partido do Governo, com o apoio do BE, que está a fazer esta política desastrosa e que, nos seus aspectos essenciais, tem tido também a convergência com Cavaco Silva.
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- Acusa Cavaco Silva de ser responsável pela gestão escandalosa do BPN. Em que medida é que é responsável por isso?
- A responsabilidade é política. Há dois aspectos a considerar. Primeiro a fraude em si, a gestão ruinosa e escandalosa. É necessário ver quem são os seus responsáveis e quem beneficiou dessa fraude. Isso levou a um desastre nesse banco. Aquilo que eu coloco, para além desses aspectos, é que no momento em que o Estado decidiu intervir houve um acordo entre o Governo, a maioria da Assembleia da República e o Presidente da Republica, em que Manuel Alegre também esteve, numa chamada nacionalização que foi trazer à responsabilidade de todos os portugueses prejuízos que podem ir de cinco a sete mil milhões de euros e deixou inteiramente na mão dos accionistas que nomearam aquela administração as suas empresas, o seu património.
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- Estes dois anos de gestão do banco nacionalizado são também passíveis de crítica?
- Tudo é passível de crítica e certamente esses apuramentos serão feitos. O que não se pode é pegar agora nos últimos dois anos para tentar esconder ou branquear os que promoveram uma fraude monumental e desresponsabilizar Cavaco Silva, O Governo de Sócrates, Manuel Alegre e todos aqueles que decidiram uma intervenção para chamar os prejuízos à responsabilidade de todo o povo português.
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- O Banco de Portugal não teve também uma responsabilidade gravíssima em todo este processo?
- Há aqui duas lições que é importante tirar. A primeira é que tem de acabar, e este é um elemento de ruptura e mudança que eu coloco, a promiscuidade e a fusão entre o poder económico e o poder político. Em que um dia há um ministro, um secretário de Estado ou um assessor do Presidente da República que têm essas funções. No mês a seguir, uma no depois, está como administrador de empresas ou de bancos. É este sistema de poder que aprisionou o poder político.
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- Isso passa-se com os dois principais partidos portugueses.
- Exacto. PS e PSD. Ao serviço desses interesses e condicionar as decisões políticas ao serviço desses interesses, dos grupos económicos e financeiros, do capital financeiro contra os interesses nacionais e do povo português. Esta é uma lição que se tira do caso BPN. Tal como o do BPP.
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- E o Banco de Portugal?
- Depois há a questão da regulação, do papel do Banco de Portugal, que certamente devia ter sido mais eficaz do que foi.
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- E que fechou os olhos a muitas situações.
- Um dia será feita a história sobre os escândalos sucessivos ligados a todos os processos de privatizações e ao capital financeiro. É uma história que não está feita e que será feita.
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- É uma história com muitos anos.
- Sim, uma história de há muitos anos com responsabilidades do PS, PSD, CDS. E com responsabilidade também de alguns candidatos presidenciais nestas eleições.
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- O que é para si no dia 23 um bom resultado eleitoral?
- Eu assumo a minha candidatura como alternativa para exercer as funções de Presidente da República. A escolha por parte do povo português da minha candidatura é a escolha do Presidente de que Portugal precisa. Para cumprir a Constituição, para defender a independência e a soberania nacionais, para defender a democracia. Para valorizar o trabalho e os trabalhadores, para conhecer e sentir as angústias dos portugueses. Para que Portugal tenha futuro.
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- E os resultados? O que será um bom resultado?
- Eu digo a cada português: aqui está alguém que é candidato a Presidente da República de Portugal.
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- A sua eleição significava uma ruptura com este regime?
- Significava uma ruptura com a prática que tem sido seguida, uma prática política que é contrária à Constituição. A minha eleição significará que haverá um Presidente da República que utilizará a Constituição não como um texto morto, mas como um texto que deve ser a lei fundamental do País.
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- E hoje não é?
- Hoje em dia a Constituição é um projecto de mudança para um Portugal de desenvolvimento, justiça e progresso social.
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- Mas a Constituição nunca foi obstáculo para as políticas do PS, PSD e CDS, que o PCP considera de direita e anticonstitucionais.
- A prática política que tem existido é contra a Constituição. Contra os seus valores e o seu projecto. A minha candidatura é a ruptura com essa prática.
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- É uma ruptura com essa prática mas não com este regime?
- A questão é definir o que é o regime. Se o regime é a Constituição, o que é preciso é aplicar a Constituição. Agora, se entender o regime com tudo aquilo que está fora da Constituição...
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- O sistema eleitoral, negócios e política, partidos políticos.
- Tudo isso deve ser terminado. Tudo isso deve terminar. Com esse sistema, com essa forma de funcionamento, de maneira a pôr no centro das decisões dos responsáveis políticos, a começar no Presidente da República, aquilo que são os interesses dos trabalhadores, do povo e do País.
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-Manuel Alegre tem como adquirido que o PCP votará nele numa segunda volta. É verdade?
- A alternativa não passa por aí.
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- Não passa?
- Não. Nós estamos na primeira volta das presidenciais. A alternativa é a minha candidatura. E o povo português é que decidirá quem passa à segunda volta. E só a minha passagem à segunda volta determinará a possibilidade de uma alternativa para uma mudança no nosso País. E mais. O voto na minha candidatura no próximo domingo é, para além da escolha do Presidente da República de que Portugal precisa, uma opção que significa a manifestação de indignação perante um rumo de injustiça no nosso País.
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- Se for Presidente da República e houver uma revisão constitucional que ponha em causa o que defende o que irá fazer? Neste caso não pode vetar.
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- Um Presidente da República deve sinalizar com a sua mensagem, com a sua opinião, ponderando o que é essencial.
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- Não usava a bomba atómica? Dissolvia o Parlamento?
- Eu não recuso nenhum dos poderes. Seja a demissão do  Governo ou a dissolução da Assembleia da República. Não hesitaria em fazê-lo. Mas não associo isso ao processo de revisão constitucional.
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- Praticamente não se discutiu a política externa de Portugal nesta campanha.
- Eu tenho abordado esse assunto.
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- Eu sei. A propósito da Europa. Mas gostava de perguntar-lhe o que é que pensa da NATO e da presença de Portugal na organização. Defenderia a saída de Portugal da NATO?
- As questões de política externa são muito relevantes. E eu agirei sempre no quadro de poderes do Presidente da República. Sobre a segurança mundial defendo que deve ser criado um sistema com base da cooperação entre os povos a partir da ONU. O que implica a dissolução dos blocos político-militares, logo a dissolução da NATO.
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- E em relação à União Europeia?
- Entendo que é necessária toda a cooperação, mas de maneira nenhuma este critério de submissão dos interesses nacionais.
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- Mas qual é a alternativa de Portugal neste momento?
- A alternativa é de se bater no quadro europeu e mundial pelos interesses próprios do seu desenvolvimento. Portugal não pode ser apenas um território e deixe de ser um País e uma Nação onde o povo decide o seu destino. E cada vez mais se está a empurrar para uma destruição de Portugal como Estado e como Nação.
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- Isso implica a saída do euro, por exemplo?
- Portugal foi empurrado para o euro, foi um desastre. É evidente que qualquer saída do euro tinha de ser negociada. Mas as coisas podem evoluir de tal maneira que o pior seja a continuação.
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- O que é entende por saída negociada?
- Portugal teria de ser indemnizado pelas consequências da entrada do euro e por estes dez anos de desastre e de retrocesso.
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- Mas acha que Portugal tem estado de joelhos perante a Europa, como diz Manuel Alegre?
- É mais do que ter estado de joelhos. Tem havido da parte do Presidente da República e de sucessivos Governos uma abdicação total dos interesses nacionais. Portugal esta hoje acorrentado a este projecto de construção europeia que o faz atrasar ainda mais.
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- Mas Portugal não se pôs a jeito perante os mercados?
- É certo. Mas os mesmos que são responsáveis por isso, PS, PSD, CDS, Manuel Alegre, Cavaco Silva são aqueles que projectam para diante a continuação dessa linha de submissão. Continuam a pôr-se a jeito.
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- Perante a entrada do FMI, o que é o Presidente da República Francisco Lopes fazia?
- Utilizaria todos os poderes para impedir que esse processo continuasse. A questão da entrada do FMI não é do futuro. É um problema que já temos.
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- O novo Presidente eleito pode dissolver o Parlamento quando tomar posse. Acha que este Governo deve sair de cena?
- Cada questão a cada momento. O Presidente da República não se pode posicionar em função do que se passar daqui a uns meses. Mas uma coisa é clara. Este Governo já mostrou que não é solução. Não tem política. Mas a solução não é substituir um Governo com a sigla PS por uma sigla do PSD e CDS para continuar a mesma política. Ao longo destas décadas vão trocando de posição.
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- É o Bloco Central.
- É a alternância que nos afunda. É por isso que usarei os poderes presidenciais não apenas para uma mudança de siglas mas para mudanças das políticas no Governo.
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- Mas este Governo tem as costas seguras no Parlamento pela esquerda. PCP e BE não votam uma moção de censura da direita, não é? Nem a direita vota moções da esquerda. Como é que este Governo sai se não for o Presidente da República?
- Este Governo, com esta política, não é solução para os problemas nacionais. O Presidente da República tem de intervir para abrir caminho para uma nova solução. De mudanças de políticas.
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- E dá a voz ao povo.
- Exacto. Implica que o povo use todos os seus direitos constitucionais. De luta, de acção, de opinião para a mudança que Portugal precisa.
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- Ao longo destes anos todos, com todas estas políticas, o povo tem dado sempre o poder aos mesmos.
- Até um dia.
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- Acha que esse dia vai chegar?
- Faço tudo para que o povo português no próximo domingo sinalize esse caminho de mudança. Decida não em função do passado, de preconceitos.
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PERFIL
Francisco José de Almeida Lopes nasceu no dia 29 de Agosto de 1955 em Vinhó, concelho de Arganil. Electricista, funcionário do PCP, foi membro da União dos Estudantes Comunistas em 1973 e 1974, ano em que se tornou militante do PCP. Deputado, é membro do Comité Central, da Comissão Política e do Secretariado do Comité Central.


 Sublinhados de Victor Nogueira
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