Há uma semana escrevi nesta página que se nenhuma tragédia acontecesse até ao próximo domingo eu iria votar em Cavaco Silva para Presidente da República. Não pela performance do professor em Belém, que esteve longe de entusiasmar, mas por ele ser o único político profissional no meio de quatro amadores e um trovador.
- 0h30 Correio da Manhã 2011.01.21
Só que a tragédia aconteceu: uma investigação da revista ‘Visão’ veio levantar dúvidas legítimas sobre a aquisição por parte de Cavaco de uma casa de férias em Albufeira em 1999, vizinha de outras pertencentes a Oliveira e Costa e a velhos amigos seus e da SLN.
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A Urbanização da Coelha começou por envolver empresas offshore, há espantosas discrepâncias na avaliação patrimonial dos lotes, fonte oficial de Belém começou por dizer que Cavaco não se recordava nem da data nem do local onde foi feita a escritura pública e os valores envolvidos na permuta com a sua casa de Montechoro estão longe de ser esclarecedores. Já em campanha, Cavaco disse mais. Disse que esta notícia mostrava apenas que "o desespero é muito grande". E acrescentou: "Façam as investigações que quiserem, que depois do dia 23 talvez eu possa ler." Este "depois do dia 23 talvez possa ler" custou-lhe o meu voto.
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Já levo alguns anos a empilhar colunas de jornais onde defendo o óbvio: os políticos que nos representam têm o dever ético de dar explicações sobre a lisura da sua conduta. Isto faz parte das regras básicas da democracia. Mas em Portugal, não nos bastava ter o primeiro-ministro com a maior cara-de-pau do hemisfério norte – agora temos um Presidente da República que, quando confrontado com perguntas incómodas, em vez de dar justificações claras prefere falar em campanhas e em "vil baixeza". Ora, eu já vi este filme, e não gosto nada do final. Não será o meu voto a contribuir para uma sequela.
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