A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

sábado, março 31, 2007

Um 1º de Maio no tempo do fascismo . Victor Nogueira


Um 1º de Maio no tempo do fascismo
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*  Victor Nogueira
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O 1º de Maio é um dia dos trabalhadores comemorado em muito países desde 1889, por vezes em festa mas quase sempre em luta por melhores condições de vida e de trabalho. O mesmo sucedeu em Portugal na longa noite fascista, apesar de repressão e da negação de direitos elementares, como os de associação, manifestação e reunião.
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Ao folhear jornais desse tempo encontramos o 1º de Maio de 1962 segundo o Diário de Notícias de 3 de Maio, de que transcrevemos partes essenciais, mantendo os subtítulos originais:
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"O 1º de Maio foi assinalado em Lisboa por desagradáveis acontecimentos ocorridos ao fim da tarde, em várias artérias da Baixa. Os incidentes, com correrias e muito alarido, desenrolaram-se à hora em que o movimento era mais intenso (aquando do encerramento das actividades quotidianas) voltando a repetir-se à noite, após terminados os espectáculos, lançando a confusão e envolvendo a população ordeira que, nas duas circunstâncias, só tinha a preocupação de regressar aos lares.
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(...) Através de uma intensa propaganda por meio de panfletos clandestinos espalhados pela cidade e distribuídos de várias formas ilícitas, os perturbadores, além de pretenderem incitar as classes trabalhadoras a concentrarem-se na Praça do Comércio [em Lisboa] para apresentarem certas reivindicações, instigavam-nos também a faltar ao trabalho.
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Num belo exemplo de ordem e de compreensão, ninguém faltou à fábrica ou oficina, ao escritório ou ao estabelecimento, numa inequívoca afirmação de que o povo de Lisboa - e de todo o País, aliás - quer continuar a viver na ordem, na paz e no trabalho.
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A despeito da indiferença da população e dos trabalhadores, as entidades governativas ordenaram medidas especiais de segurança, tendo a PSP montado um dispositivo de vigilância e de patrulhamento na zona do Terreiro do Paço, onde foram estabelecidas as aconselháveis precauções. Junto das esquadras da área foram concentradas forças para acorrer em caso de necessidade, enquanto os automóveis das brigadas moveis [da Legião Portuguesa] não deixaram de percorrer a zona. Também foram montados serviços de vigilância, nas gares e estações, como medida de precaução. (...)"
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"Aparece um grupo de desordeiros
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Mas pouco depois das 18,30, formaram-se grupos de indivíduos que, a pretexto da detenção de três desordeiros (...) injuriaram e vaiaram a polícia, tentando rodear um carro patrulha.
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Acorreram os pelotões ao mesmo tempo que os grupos de desordeiros engrossavam, envolvendo, na massa, as muitas pessoas que transitavam despreocupadas. (...) 
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A força policial tentou afastar a multidão que então se formara num ápice, aconselhando, através de potentes altifalantes portáteis, as pessoas ordeiras a afastarem-se, o que muitos fizeram, e outros, embora o quisessem, não o conseguiram.
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Á desobediência seguiu-se a tentativa de resistência e a Polícia viu-se obrigada a carregar de bastão em riste, no meio de gritaria e insultos dos manifestantes, sucedendo-se as correrias.
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Não sem bastante trabalho a Polícia conseguiu fazer evacuar da praça, do lado oriental, os que ali se concentravam, tendo estes e mais outros grupos que então se formaram subido as ruas Augusta, da Prata e dos Fanqueiros. Nesta última artéria diversos díscolos desligaram os "trolleys" dos carros eléctricos para provocar o congestionamento do trânsito.
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(...) Um carro patrulha da PSP foi igualmente atacado por outro grupo de díscolos (e a respectiva) "tripulação teve de sair e disparar alguns tiros para o ar, pondo em fuga os atacantes. 
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A Polícia teve de carregar novamente e os desordeiros, muito aumentados e continuando a misturar-se com a multidão que procurava, em vão, afastar-se desses locais, fugiam dum lado para logo aparecerem e se reagruparem noutro.
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Em dada altura a situação piorou por motivo de alguns amotinados começarem a apedrejar os agentes da autoridade, que continuavam a dispersar os desordeiros, e os motins aumentaram.
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Disparos para o ar para intimidar os desordeiros
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Perante a agressão praticada pelos desordeiros a Polícia viu-se na necessidade de empunhar as armas de fogo para impor respeito e intimidar os díscolos. Várias descargas, algumas de armas automáticas, foram feitas para o ar e durante algum tempo ouviu-se tiroteio.
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Os elementos provocadores não cessaram entretanto a sua actividade, procurando alastrar a confusão até à Praça da Figueira e Martim Moniz, para onde fugiram perseguidos pela força pública.
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O aparecimento de um esquadrão de cavalaria da GNR facilitou depois a tarefa da polícia, abreviando a dispersão dos desordeiros.
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Atingido mortalmente quando actuava com os desordeiros na área da Madalena
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A despeito de a Polícia haver feito as descargas para o ar, com a preocupação de não atingir a multidão, alguns projecteis disparados mais baixo atingiram seis dos manifestantes e até mesmo um polícia foi ferido por uma bala.
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Dos desordeiros atingidos um deles teve morte imediata, pois um projéctil atravessou-lhe o crânio (...)
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Voltaram a repetir-se incidentes à noite
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À noite, como atrás dissemos, depois de terminarem os espectáculos, outros grupos de desordeiros voltaram a tentar perturbar a ordem no Rossio e proximidades, obrigando os esquadrões da GNR e os pelotões da PSP a intervir mais uma vez. (...)
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Num breve momento a Polícia teve de disparar alguns tiros de advertência.
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Mais de uma centena de detenções
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No decorrer dos acontecimentos da tarde e da noite foram detidos mais de cem indivíduos que foram entregues à PIDE, que está a proceder a investigações sobre as suas actividades e apurar as responsabilidades que lhes cabem.
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Entre as detenções efectuadas à noite figuravam duas senhoras e um homem que, dentro de um automóvel em que seguiam e haviam parado próximo de um ajuntamento que as forças da ordem dispersaram, injuriaram e ameaçaram a polícia.
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Um outro indivíduo foi preso quando atirava pedras a um esquadrão de cavalaria. Na esquadra do Teatro Nacional foram-lhe apreendidos panfletos de propaganda subversiva que ele transportava dentro da capa de um livro.
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A outros presos foram encontrados fragmentos de vidro com os quais chegaram a golpeara agentes da Polícia.
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Temos informação de terem sido detidos três estrangeiros capturados no decurso dos incidentes.
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A calma voltou a a partir da madrugada
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Quando dos incidentes ocorridos à noite a Polícia mandou encerrar os cafés e casas de pasto existentes na área entre o Rossio e a Praça do Comércio. A partir da 1,30 da madrugada a cidade voltou à normalidade, mantendo-se, no entanto, de prevenção até ao alvorecer, as forças da polícia com intenso patrulhamento na Baixa.
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O dia de ontem foi de inteira calma e apenas os estragos nalguns estabelecimentos, que ainda não tinham sido reparados, faziam lembrar as ocorrências da véspera."
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Enquanto isto se passava em Lisboa, reinaria a paz noutras zonas do país, como na Covilhã, importante centro industrial onde, segundo o jornal que vimos citando, "o Governador Civil de Castelo Branco (havia comunicado) ao sr. Ministro do Interior ter recebido da Secção do Sindicato Nacional do Pessoal da Indústria de Lanifícios daquela cidade o seguinte telegrama da gerência duma fábrica de Cebolais de Cima, em que se empregam mais de mil operários: "Nesta hora em que tantos parecem esquecer o seu dever de portugueses, os operários da indústria de lanifícios de Cebolais de Cima dão o seu exemplo de trabalho, na ordem e no amor da Pátria"
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No Porto a PSP dispersou os grupos de agitadores
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Bem, não reinaria propriamente a paz em toda a parte, pois o Diário de Notícias anunciava que "no Porto a PSP dispersou os grupos de agitadores"
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O esquema da notícia é o mesmo. Assim, segundo o jornal, "o 1º de Maio na cidade do Porto foi, para a a sua população, um dia de trabalho como outro qualquer. Todos os estabelecimentos funcionaram normalmente e nada houve até ao fim da tarde que fizesse prever uma alteração da ordem pública ou qualquer agitação".
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Contudo não faltaram as medidas de precaução da PSP, o que não impediu os manifestantes de se manifestarem a partir das 18,30 .
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Como em Lisboa houve feridos entre os manifestantes e a prisão de "alguns mais recalcitrantes" Tal como em Lisboa, "as correrias, diminuindo de intensidade a pouco e pouco, duraram até depois da meia noite, mantendo-se o serviço de vigilância enquanto foi julgado necessário."
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Eis pois como a imprensa ao serviço do fascismo relatava o 1º de Maio, segundo ela obra de uma minoria de subversivos, díscolos e desordeiros, que forçavam multidões a manifestarem-se durante horas seguidas, obrigando à efectiva declaração do estado de sítio, apesar das forças policiais carregarem com os cavalos, dispararem tiros que matavam e feriam, e prenderem para que a PIDE averiguasse. e a "ordem pública" fosse mantida.
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Comentários de VN
Jornal do STAL nº 53 (1999 Abril)
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FOTOGRAFIA de Repressão duma Manifestação em Battle - 1934
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1 comentário:

vieira calado disse...

Eu estava lá e assisti, desde o princípio ao fim, tanto mais que morava na rua dos Fanqueiros.
A polícia disparava para o ar?
Pois. Disparou para uma janela, na minha rua, onde alguém (creio que uma velhota) observava as cenas...
As cenas espalharam-se até à Rua do Salitre, se a memória não me falha.
E até ao Carmo.
Para quem olhava para o Rossio, desde a plataforma superior do elevador da Glória, onde eu estive, parecia uma guerra aberta, com tiros, fumarada, carrinhas da polícia, pequenos carros blindados, gente a fugir de um lado para o outro...
Um abraço