A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

quinta-feira, março 08, 2007



no DIA INTERNACIONAL DA MULHER (2)


As Tarefas

Novas Cartas Portuguesas


Há muitas espécies de tarefas e cada pessoa tem que cumprir a sua tarefa. As tarefas dividem-se em duas espécies: as tarefas do homem e as tarefas da mulher. As tarefas do homem são aquelas da coragem, da força e do mando. Quer dizer: serem presidentes, generais, serem padres, soldados, caçadores, serem toureiros, serem futebolistas e juízes, etc., etc. ... São os homens que organizam as guerras para tirarem o mundo da perdição e do pecado (por exemplo: as cruzadas), combatendo para salvar a Pátria e defender assim as mulheres, as criançase os velhos.

Depois há as tarefas das mulheres, que acima de todas está a de ter filhos, guardá-los e tratá-los nas doenças, dar-lhes a educação em casa e o carinho, é também tarefa da mulher ser professora e mais coisas, tal como costureira, cabeleireira, criada, enfermeira. Há também mulheres médicas, engenheiras, advogadas, etc., mas o meu pai diz que é melhor a gente não se fiar nelas que as mulheres foram feitas para a vida da casa, que é uma tarefa muito bonita e dá muito gosto ter tudo limpo e arrumado para quando chegar o nosso marido ele poder descansar do trabalho do dia que foi tanto, a fim de arranjar dinheiro para nos sustentar e aos filhos.

Como a vida está muito cara e ninguém pode com ela, diz a minha mãe que a mulher tem que trabalhar para ajudar o marido, mas eu cá não gostava nada de ter de ajudar o meu marido e só hei-de casar com um homem rico que me possa dar vestidos e automóvel, ir ao cinema, ter duas criadas e a minha mãe diz-me, filha fazes tu muito bem pensar assim, não cases com um pelintra como o teu pai, que o ordenado que ele ganha não dá para as faltas: desterrou-se a gente para estas terras porque ele é mesmo apalermado, mas é teu pai tens que lhe guardar respeito... O meu pai resolveu-se a vir para estas bandas, de pedreiro, e como uma das tarefas da mulher é obedecer ao homem, assim fez minha mãe... Cada um governa-se e a gente nesta vida tem de ter a tarefa de ser esperta, e uma das tarefas da mulher é disfarçar, que bem vejo a minha mãe com o meu pai. Uma vez até me disse: filha, olha que a mulher tem que usar muita manha para conseguir o que quer, pois como somos mais fracas, o homem faz da gente gato-sapato e esse é que é o dado, mas a gente tem de se defender Outra das tarefas da mulher, será então, ter manha.”

(extracto do Livro NOVAS CARTAS PORTUGUESAS, de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa)

Este livro publicado em 1971, foi apreendido, retirado do mercado e as autoras levadas a tribunal entre outras sob acusação de pornografia, julgamento que foi anulado na sequência do 25 de Abril de 1974

(...) Extracto de uma entrevista a Maria Teresa Horta

M.J.C. - Como foi possível a publicação de "Minha Senhora de Mim" ou de "Novas Cartas Portuguesas" naquela época?

M.T.H. - Só foi possível porque não havia censura prévia, no que dizia respeito à edição de livros. A proibição vinha depois... aliás, como aconteceu. Mas aconteceu mais: o Moreira Baptista, então secretário de Estado da Informação e Turismo, chamou a Snu Abecassis, dona da Dom Quixote, onde "Minha Senhora de Mim" tinha saído, e disse-lhe que, se voltasse a publicar outra obra minha, mandaria fechar a editora. No que diz respeito a "Novas Cartas Portuguesas" foi diferente. Quando eu, a Maria Isabel Barreno e a Maria Velho da Costa demos o livro por terminado, tínhamos já três ou quatro editores que se propunham editá-lo, mas ao lerem o original tiveram medo e deram o dito por não dito. Apenas restou a proposta da Natália Correia, então diretora literária de "Estúdios Cor". E acabou por ser ela que, corajosamente, fez ponto de honra em publicá-lo.

M.J.C. - Que conseqüências lhe trouxe a ousadia de publicar um livro erótico feminino, num país em que o erotismo constituía um território do homem?

M.T.H. - Para além da proibição da PIDE e das ameaças políticas, criou-se uma efervescente celeuma em torno de "Minha Senhora de Mim". As ameaças e os telefonemas insultuosos para minha casa sucederam-se, a ponto de ter de mandar tirar o meu nome da lista telefônica. Houve, também, bilhetinhos, convites insidiosos para sair à noite, para jantar, etc., enviados por homens que não conhecia. Enfim, gerou-se todo um clima de mal-estar à minha volta, que, insidiosamente, mais parecia pretender atemorizar-me, castigar-me... Pior do que isso: envergonhar-me! Afinal, como me chegaram a dizer, "uma mulher de respeito não escrevia daquele modo, não dizia aquelas coisas..." (...)

Entrevista de Maria João Coutinho retirada de: http://www.sidarta.blogger.com.br

Sobre a Igualdade entre Homens e Mulheres ver:

portal.iefp.pt/pls/gov_portal_iefp/url/ITEM/08593CA26C9D6B7AE040A8C00A2A5EAF

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