ANDAR NA COSTURA
Cem vezes os afazeres do dedal que as agruras fardadas da criada de servir. Mil vezes o calo da tesoura que a manada de calos e dores das mondas e das ceifas.
Andar na costura era visto como uma notória ascensão social. Ainda que o salário fosse uma gota no mar das necessidades e as regalias sociais iguais a zero, mas tinha o usufruto de um horário com contornos mais ou menos definidos e uma forte dose de moderna urbanidade. Era igualmente um trabalho asseado que possibilitava a vaidade do andar sempre de ponto em branco. Tinha o magala que muito adoçar o estilo e o verbo para embeiçar a moça costureira, senão, a outros de maior patente calharia a sonhada e sonhadora conquista.
O fado, o teatro e o cinema, contribuíram abundantemente para relevar no imaginário popular a personagem da costureirinha.
.
- Vizinha Adelaide, foi bonita a fita do cenório! Acaba na boda do Xico tipógrafo com a Rosa costureira.
FONTE do texto e da foto: blog «Alentejando»
(Photo de Eduardo Nogueira – 1935 / Arcada de Paris, Rua João de Deus, Évora)
«Ó linda costureirinha/Teus sonhos e teus segredos/Entre os fusos dos teus dedos/São um novelo de linha. Entre os fusos dos teus dedos/E os teus olhos tão escravos/Do trabalho, sem igual/Tens um cordão de alinhavos/E por anel um dedal». Assim reza o refrão de ‘A Costureirinha da Sé’, um tema popularizado pelo filme com o mesmo nome, do cineasta Manuel Guimarães –
A Costurerinha da Sé |
de Manuel Guimarães |
com Maria de Fátima Bravo (Aurora), Alina Vaz (Leonor), Jacinto Ramos (Sebastião), Baptista Fernandes (Armando), Carlos José Teixeira (Filipe) e Augusto Costa (Costinha) (Vicente) |
Sinopse:
Crónica bairrista do Porto, através de uma aguarela viva de costumes populares, em que se sublinha a faina ribeirinha e o formigueiro humano da laboriosa cidade. Paralelamente, desenvolve-se uma acção típica entre a gente humilde e, em particular, no mundo fresco e colorido dum "atellier" de alta costura, uma frágil e ingénua história de amor, de que é protagonista Aurora, uma das jovens tripeiras que participam no Concurso do Vestido de Chita.
|
Manuel Guimarães (Porto, 1915 — Lisboa, 1975) foi um cineasta português que se destacou pela aplicação dos princípios ideológicos do neo-realismo na arte do cinema em Portugal. No entanto, a ditadura salazarista, mais atenta às manifestações da sétima arte que às “transgressões” no domínio da literatura, impediu-o com severidade de levar a bom termo os seus propósitos artísticos.
Biografia
Depois de ter concluído o Curso Geral dos Liceus, seguiu o de pintura, em 1931, na Escola de Belas Artes do Porto. Foi, a partir de 1936, decorador teatral, ilustrador e caricaturista. Desenhador de cartazes de cinema, interessou-se pela arte cinematográfica. Aderiu ao ofício como assistente de realizadores como Manoel de Oliveira, António Lopes Ribeiro, Jorge Brum do Canto, Arthur Duarte e Armando de Miranda.
Realizou em 1949 o documentário de curta-metragem O Desterrado, filme sobre a vida e a obra do escultor Soares dos Reis, que teve o Prémio Paz dos Reis, atribuído pelo o Secretariado Nacional da Informação (SNI) para as melhores curtas-metragens. Saltimbancos é a sua primeira longa-metragem, obra adaptada do romance homónimo do escritor Leão Penedo, cujo tema central era a vida dum pequeno circo ambulante.
Em 1952 Manuel Guimarães realizou o filme Nazaré,
Acossado pelo regime e desejando não abandonar o ofício, Guimarães viu-se forçado a optar, a partir de 1956, pela realização de filmes de cariz comercial sobre eventos desportivos. A sua tentativa de retomar a ficção (A Costureirinha da Sé -1958) não compensou, visto Guimarães ter de aceitar a condição de integrar no filme publicidade explícita. Fez em seguida alguns documentários de divulgação sobre Barcelos, o Porto e os vinhos seculares.
António da Cunha Telles, que entretanto se envolvera como produtor dos primeiros filmes do Cinema Novo português, interessou-se por ele e aceitou fazer a produção executiva e co-produção de dois dos seus próximos filmes: Crime de Aldeia Velha (1964), adaptação da peça homónima de Bernardo Santareno, e O trigo e o Joio (1965), que, do seu próprio romance, Fernando Namora adaptou a cinema. Na época, o grande público interessava-se porém por filmes mais apelativos. pelo passa-tempo. Manuel Guimarães voltou ao documentário, aplicando-se em temas artísticos.
O 25 de Abril de 1974 trouxe-lhe a esperança, mas já era tarde. Doente, Manuel Guimarães não terminaria o seu novo filme, Cântico Final, adaptado do romance homónimo de Virgílio Ferreira. A obra, afectada pelo desaire, seria concluída pelo seu filho, Dórdio Guimarães. Manuel Guimarães seria considerado por vários comentadores como injustiçado, e não só pelo velho regime.
Sem comentários:
Enviar um comentário