A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

sábado, março 10, 2007


Pedra Filosofal

Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso,
em serenos sobressaltos
como estes pinheiros altos


que em verde e ouro se agitam
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma. é fermento,
bichinho alacre e sedento.
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel.
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa dos ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é Cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança.,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
para-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra som televisão
desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre a mãos de uma criança.

(António Gedeão)

Quadro

The Alchymist, In Search of the Philosopher’s Stone, Discovers Phosphorus, and prays for the successful Conclusion of his operation, as was the custom of the Ancient Chymical Astrologers - Derby Museum and Art Gallery - Derby (UK)

"Eles não sabem que o sonho

é uma constante da vida."

Foram estas palavras que depois de apresentadas pela primeira vez em 1969 no programa de televisão "Zip-Zip", pela voz de Manuel Freire marcaram uma geração que, reprimida por uma ditadura fascista e atormentada por uma guerra colonial sem fim à vista, se encontrava ávida de liberdade em que o sonho se afirmava como o único caminho. Desde então, o poema "Pedra Filosofal" tornou-se uma bandeira de luta e de crítica, fazendo crer que o sonho comanda a vida. Toda a simbologia deste poema numa fase tão conturbada da história recente contribuiu ainda mais para adensar a aura que o transformou num grito de revolta e sofrimento mas ao mesmo tempo de afirmação e esperança.

Texto retirado de

http://www.citi.pt/cultura/literatura/poesia/antonio_gedeao/geracao_filosofal.html

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