MULHERES NA RESISTÊNCIA AO ESTADO NOVO (1)
o exemplo de Maria Machado
O período de exercício da governação em Portugal em que a liderança foi levada a cabo por Oliveira Salazar e por Marcelo Cartano, pelas características inerentes ao regime que representavam, tornara-se particularmente propício ao surgimento de uma oposição social, onde assumiu destaque inequívoco a luta e resistência do Partido Comunista Português (PCP), e neste, dos homens e mulheres que clandestinamente o integravam, porque era essa mesma clandestinidade que o enquadrava em termos político-partidários.
As mulheres que durante o período do Estado Novo assumiram a sua oposição ao que vigorava, fizeram-no em vários cenários e perante as situações que consideravam de injustiça social: nas fábricas, nos campos, como trabalhadoras ou entre trabalhadores, na defesa dos interesses comuns (de classe), nas escolas, nas universidades ou no âmbito de várias actividades intelectuais, de defesa da Paz e dos Direitos Humanos.
Para proporcionarmos um mais "vivo"conhecimento sobre o que foi viver na clandestinidade, em situações de risco, sofrendo torturas ou vivênciando a prisão, deixamos aqui 1 exemplo de uma mulher que, para além da sua especificidade como pessoa, tipifica sofrimentos e dramas por muitas outras (comunistas, mas também de outros quadrantes) vivenciadas e face às quais a Polícia Política (e não só) exerceu especial actuação.
Neste contexto de lembrança da luta oposicionista e de resistência efectivada pelas mulheres, para além do caso que a seguir concretizaremos, deixamos como o registo o nome de:
- Adélia Correia Terruta
- Aida da Conceição Paula
- Aida de Freitas Loureiro Magro
- Albina Fernandes
- Alice da Purificação Dias de Azevedo
- Bernardina Antunes Araújo Neves
- Cândida Margarida Ventura
- Casimira da Conceição Silva
- Cesaltina Maria Feliciano
- Clarisse Casaco Tacão
- Colélia Maria Alves ou Maria Augusta
- Dalila Duque Fonseca
- Élia Maria Mecha Mendonça
- Elvira Mendonça
- Felismina da Conceição Figueiredo
- Fernanda da Paiva Tomás
- Georgette de Oliveira Ferreira
- Isaura Conceição da Silva
- Lígia Calapez Gomes
- Luísa Paula
- Maria Albertina Ferreira Diogo
- Maria Alda Barbosa Nogueira
- Maria Ângela Vidal e Campos
- Maria Augusta ou Colélia Maria Alves
- Maria Cecília Ferreira Alves ou Maria Cecília Ferreira Alves Ramos de Almeida
- Maria da Conceição de Sousa
- Maria da Conceição Vassalo e Silva da Cunha Lamas ou Maria Lamas
- Maria Eugénia Bilnstein de Meneses Luís Sequeira Varela Gomes
- Maria Isabel Hahenman Saavedra de Aboim Inglês
- Maria Isabel Leite Oliveira
- Maria José Lopes da Silva
- Maria Julieta Guimarães Gandra
- Maria Lourença Cabecinha
- Maria Matilde Cerejeira Nunes Bento
- Maria da Piedade Gomes dos Santos
- Maria Rosa Pereira Marques Nunes Penim Redondo
- Maria Rosa Viseu
- Mariana Balbina Janeiro
- Mariana Oliveira Franco Trindade Gabinete
- Natália Henriques Soares David
- Olímpia Ribeiro da Silva Braz
- Olívia Maria ou Olívia Maria Sobral
- Sofia Ferreira ou Sofia de Oliveira Ferreira
- Virgínia de Faria Moura
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MARIA DOS SANTOS MACHADO
Alcunha- "A Rubina"
Estado- Divorciada
Profissão- Professora oficial
Naturalidade- Calheta (Açores)
Data de nascimento- 25/02/1890
Processo nº 826/45 enviado ao Tribunal Militar Especial em 19/12/45. Livro 18/Nº 3559
Maria Machado começou a sua vida como professora, nos Açores, de onde era natural. Não era pessoa que se contentasse com o exercício mais ou menos tranquilo de uma profissão que lhe garantia o sustento diário. Espírito aberto e activo, em breve fundava uma biblioteca na sua terra natal, para que, não só os seus alunos, mas também os adultos de quem muito se ocupava, tivessem oportunidade de tomar contacto com a literatura mundial. O ambiente limitado da sua ilha não bastava para que desse vazão a todas as suas aspirações. Veio para o continente e continuou a exercer o professorado. Foi uma professora bastante progressista para o seu tempo, pois nas suas aulas usava o chamado "Método Activo", utilizando, por exemplo, abelhas vivas de que se servia para as suas "Lições de Coisas".
No entanto, Maria Machado acabaria por ser afastada do ensino público, sendo-lhe também encerrada uma escola destinada aos filhos dos ferroviários e por si dirigida. Presa, presencia o espancamento dos seus alunos.
Impossibilitada, pelo Governo, de continuar a ganhar a sua vida como professora oficial que era, fez-se governanta de uma casa de família, enquanto dava lições de graça a adultos, nas horas vagas.
A sua luta pela democracia e pela igualdade nunca diminuiu. Foi-lhe uma vez assaltada a casa onde, com outros elementos pertencentes ao PCP, imprimia um jornal clandestino do Partido. Foi presa pela PIDE, julgada e condenada.
Maria Machado foi uma das fundadoras da Liga Portuguesa para a Paz e a sua actividade política continuaria a valer-lhe prisões. Da última vez que foi presa, deu entrada, de maca, na sede da PIDE, na Rua António Maria Cardoso (Lisboa), pois partira um pé. Os seus amigos tiveram que empreender uma grande luta para que fosse libertada.
Doente do coração, faleceu a 4 de Outubro de 1958.
Sandra Cristina AlmeidaSublinhados da autora
Estava na Net pesquisando outras coisas quando vi Maria Machado. Como a minha mulher também se chama Maria Machado ( Maria Machado Castelhano Pulquério) fui ver. Afinal era a célebre Maria Machado professora, grande figura e exemplo da luta pela Liberdade. Apesar de conhecer o seu passado achei de muito interesse este post/apontamento.Aproveito para felicitar o Weblog História e Ciência que faz um trabalho de grande mérito.
A MMCP também navegou pelas mesmas águas da sua homónima. Seguiu-lhe o exemplo! Pouco depois da instrução primária, em Vale de Vargo, Serpa, em 1961, com 12 anos, passou a viver na clandestinidade com os pais, funcionários do PCP. Ajudava-os a imprimir e distribuir O Avante e outra imprensa clandestina. Frequentou um curso político em Moscovo em 1966 e 67 onde conheceu o marido. Em Portugal de novo, em 1968, participou com ele na organização e actividade da Acção Revolucionária Armada até ao 25 de Abril de 1974. Teve uma filha em 1969 e um filho em 1974 que fizeram a aclandestinidade sem perceberem muito bem o que se passava. Sem o 25 de Abril, teriam o destino que a PIDE lhes impunha: serem separados dos pais aos 7 anos (ir à escola não era compatível com o segredo em que as casas clandestinas tinham de se manter). Felizmente a revolução aconteceu e os filhos com 4 anos um, e um mês o outro, puderam ter uma vida normal.
MM não chegou a ser presa porque quando a PIDE assaltou a casa dos pais (José Pulquério e Úrsula Machado) e os prendeu durante 5 anos, Maria Machado tinha-se mudado para outra casa clandestina com o marido, 2 meses antes. Assim só foi presa a irmã mais nova, Maria José, com 16 anos. A irmã mais velha também escapou à prisão por se encontrar em Moscovo a frequentar um curso superior de canto. Presentemente a irmã mais velha, representa Amália, com La Féria,no Casino do Estoril. Chama-se Luisa Bastos.
Afixado por: Raimundo Narciso em setembro 30, 2003 01:02 PMFONTE:
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