A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

MULHERES NA RESISTÊNCIA AO ESTADO NOVO (4) - Ivone Dias Lourenço


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Sexta, 25 Janeiro 2008

ivone-dias-lourencoFaleceu Ivone Dias Lourenço. Nascida em 1937 em Vila Franca de Xira, membro do PCP desde 1953, integrava actualmente o colectivo do «Avante!» sendo desde o 25 de Abril secretária da redacção do órgão central do PCP. O funeral realizou-se cemitério do Alto de São João.

No funeral de Ivone Dias Lourenço
Intervenção de Domingos Abrantes

Camaradas e Amigos

Querido Camarada Dias Lourenço

Amiga Lígia e restante família

Estamos hoje aqui para nos despedirmos para sempre da nossa camarada e amiga, Ivone Dias Lourenço. Cabe-me a difícil tarefa de dizer algumas palavras neste último adeus.

Se é sempre difícil e doloroso vermos partir camaradas que através de tantos anos e tormentos deram o melhor da sua vida ao Partido e à luta dos trabalhadores e do nosso povo, muito mais difícil se torna, quando a esses camaradas nos liga uma sólida e profunda amizade pessoal, como é o caso.

Tive a sorte e a alegria de viver os primeiros passos políticos da nossa camarada Ivone. Todo o militante comunista tem uma história, um percurso, uma biografia. No caso da Ivone uma biografia bem singular que fala por si. A biografia de uma militante que de forma abnegada dedicou uma vida inteira à causa do Partido, à luta do nosso povo, pela liberdade, pela democracia e pelo socialismo.

A evocação da vida da camarada Ivone, como jovem, como mulher, como resistente, como membro e funcionária do Partido Comunista Português, tem o valor de uma lição e de um exemplo.

Ao salientar-se o que há de mais marcante na sua vida e na sua actividade torna-se necessário desde logo, lembrar que a camarada Ivone (bem como a sua irmã Lígia aqui presente) era filha da camarada Casimira e do António Dias Lourenço, funcionários clandestinos do Partido.

Não se trata de um mero apontamento circunstancial. Trata-se de um oportuno lembrar e de não deixar esquecer, sobretudo, quando assistimos ao branqueamento do fascismo, à minorização e denegrimento do papel dos comunistas e de graves ataques às liberdades, que a separação dos pais dos filhos, por exigências da vida clandestina, constituiu um pesado tributo humano pago pela opção de entrega plena à luta contra o fascismo, à luta pela liberdade, por parte de tantos camaradas.

A Ivone iniciou a sua actividade política no MUD Juvenil, ao qual aderiu em 1952, era então quase uma menina, com apenas 15 anos. E, no entanto, essa quase menina revelava já uma enorme determinação, um surpreendente espírito de entrega pessoal à organização a que decidira aderir e um profundo sentido das responsabilidades, além da contagiante alegria, apesar do que já havia passado.

Em 1954, aderiu ao Partido e passados dois anos, com 19 anos de idade, mergulhou na vida clandestina como funcionária do Partido.

Presa em 1957, na margem sul do Tejo, só viria a ser libertada 7 anos depois, fazendo parte do núcleo de mulheres que mais anos passaram nas cadeias fascistas.

O seu comportamento corajoso frente aos esbirros da PIDE, foi exemplar.

Os anos de juventude sacrificada, os muitos anos de cadeia, não abalaram as suas disponibilidades revolucionárias, a sua dedicação ao Partido, a consciência dos seus deveres como revolucionária profissional que era e de que se orgulhava de ser.

Passados escassos 3 meses de estar em liberdade, reingressou novamente na vida clandestina, situação em que se encontrava no norte do país no dia 25 de Abril de 1974.

Desde 1974 até ao fim da vida, trabalhou na redacção do órgão central do Partido Comunista Português: o «Avante!» e para a Festa do «Avante!», tarefa a que dedicou muitas energias.

Da vida da camarada Ivone se pode dizer, justa e literalmente, que esta se confunde com a vida e a luta do PCP e do nosso Povo.

Uma vida que é um exemplo de coragem, de dedicação pessoal, de confiança nos destinos dos ideais e da luta que abraçou.

Uma vida que é igualmente um grande exemplo de simplicidade, de modéstia, no mais amplo sentido das palavras e como qualidade de militante comunista.

Camaradas,

A Ivone fez parte dos muitos que deram o melhor das suas vidas para que os portugueses pudessem viver num país de liberdade e democracia. O seu nome figurará para sempre na longa lista dos comunistas que pela sua acção tornaram possível a conquista da liberdade em que vivemos.

É por isso que não podemos calar a nossa indignação e o nosso protesto pelo facto da Comissão de Avaliação da Atribuição da Pensão de Mérito pela contribuição para a implantação da democracia ter considerado que a camarada Ivone não merecia esta pensão, que nada fizera de relevante pela democracia, injustiça e indignidade que não conseguiu ver reparada.

Trata-se de um sinal dos tempos e do rumo que vai tomando o regime democrático. Mas nenhuma decisão arbitrária do poder instituído pode apagar o inquestionável papel determinante dos comunistas na luta pela liberdade, como é uma realidade inquestionável terem os comunistas mostrado e continuarem a mostrar, através das mais duras provas a sua inteira dedicação à causa da liberdade, à causa de um Portugal democrático, soberano e socialista.

Passados mais de 3 décadas de Abril temos de concluir que as batalhas pela liberdade e pela democracia não terminaram. Mas por muito difíceis e incertos que sejam os tempos que temos pela frente, olhamos o futuro com confiança.

Uma Partido como o PCP, fiel aos seus ideais e aos seus princípios profundamente ligado aos trabalhadores e às massas populares, que foi capaz de forjar e continuar a forjar jovens, mulheres e homens que são exemplos de coragem, de determinação, de confiança como a nossa Ivone, tem todas as razões para confiar no futuro.

À Ivone o que podemos dizer neste momento de dolorosa despedida?

Que trabalharemos com afinco para que o seu exemplo e de tantos outros abnegados camaradas fortifique, para que o PCP, seu e nosso Partido, seja mais forte, que o socialismo e o comunismo, ideais das nossas vidas triunfem.

Adeus e até sempre querida Ivone!

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