
Che Guevara and Fidel Castro
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* Altamiro Borges 
Excitada com a decisão de Fidel Castro de deixar a presidência do Conselho de Estado de Cuba, a mídia hegemônica tem adotado uma pauta esquizofrênica. Num ritual macabro, ela promove o “obituário precoce” do líder revolucionário, como que torcendo por sua morte; ao mesmo tempo, ela faz especulações sobre a chamada “transição” na ilha, apostando na introdução da “economia de mercado” e da democracia burguesa.
por ALTAMIRO BORGES*
Do ponto de vista jornalístico, pouco se aproveita. São mais opiniões ideologizadas do que informações. Tanto que a mídia procura esconder os efeitos nefastos do criminoso bloqueio econômico a Cuba, que completa 46 anos neste mês de fevereiro.
Em fevereiro de 1962, o presidente John Kennedy, do Partido Democrata, baixou  o decreto 3.447 impondo o “embargo total” à ilha rebelde. Na prática, a medida  tornou oficial o cerco deflagrado logo após o histórico triunfo da revolução, em  janeiro de 1959. De lá para cá, todos os governos dos EUA só radicalizaram tais  medidas – a exemplo da Lei Torricelli (1992) e da Helms-Burton (1996). Com a sua  doutrina da guerra infinita contra o “eixo do mal”, o torturador George Bush  endureceu o bloqueio e patrocinou várias operações terroristas contra o regime  cubano. Todas estas ações atentam contra o Direito Internacional e desrespeitam  recorrentes decisões da ONU.
“Política de genocídio”
O desumano bloqueio a Cuba causa enormes sacrifícios a este heróico povo  e merece a repulsa indignada dos setores progressistas da humanidade – o que não  inclui a mídia venal! Segundo o Relatório Anual sobre o Bloqueio, até 2005 o  prejuízo econômico direto já ultrapassava US$ 82 bilhões, com uma média anual de  perdas de 1.782 milhões de dólares. “Essa cifra total não inclui os mais de US$  54 bilhões imputáveis aos danos diretos ocasionados pelas sabotagens e ações  terroristas estimuladas, organizadas e financiadas pelos EUA, nem o valor dos  produtos deixados de produzir ou os prejuízos derivados das onerosas condições  creditícias impostas a Cuba”.
Na avaliação do governo cubano, o longo bloqueio representa “uma política  de genocídio, em virtude do artigo II da Convenção de Genebra para a prevenção e  sanção do crime de genocídio, de 9 de dezembro de 1948. Não há norma do direito  internacional que justifique o bloqueio em tempo de paz. Nesse sentido, a ilha é  alvo da guerra econômica”. Em decorrência destas medidas arbitrárias, Cuba não  pode exportar nenhum produto para os EUA e nem receber turistas deste país.  Também não tem acesso a créditos e nem pode usar o dólar em suas transações  comerciais. Os navios e aviões cubanos são terminantemente proibidos de  ingressar na “pátria da liberdade”.
Agressão extraterritorial
Visando asfixiar economicamente a ilha, a política de cerco dos EUA tem  caráter extraterritorial. Ela impede importações de firmas ianques instaladas em  outros países e sanciona investimentos estrangeiros em Cuba. A Lei Torricelli  suspendeu as importações procedentes de subsidiárias estadunidenses em outros  países, que chegavam, em 1991, a US$ 718 milhões. Prova desta ação desumana do  “império do mal”, a maior parte destas importações, cerca de 90%, era  constituída por alimentos e medicamentos. A lei também fixou que um navio de  outro país que atraque em Cuba só pode ingressar nos EUA depois de seis meses e  mediante uma permissão especial.
Já a Lei Helms-Burton estabeleceu sanções para os “atuais e potenciais”  investidores em Cuba. O país é obrigado a pagar adiantada qualquer importação,  sem a possibilidade de obter créditos financeiros, inclusive dos bancos  privados. Além disso, a venda e o transporte de mercadorias só podem ser  realizados através da obtenção de licenças especiais a cada operação. Cuba não  pode utilizar sua própria frota mercante para realizar esse transporte, sendo  forçada a recorrer a navios estrangeiros. Essas restrições arbitrárias atingiram  duramente a importação de produtos médicos, inclusive com a proibição da venda  de equipamentos com tecnologia avançada.
Cortejo macabro dos gusanos
Apesar deste desumano e brutal cerco, o heróico povo cubano resistiu e  resiste no seu projeto de construção de uma pátria livre, soberana e socialista.  Mesmo após a débâcle do bloco soviético, que agravou os danos econômicos, a ilha  rebelde se manteve na sua trilha revolucionária. Vários fatores ajudam a  explicar esse feito glorioso: as históricas conquistas sociais da revolução; o  forte sentimento antiimperialista do povo cubano, retroalimentado pelas ações  terroristas dos EUA; a ampla rede de organizações revolucionárias; e o  indiscutível carisma de Fidel Castro.
Este último fator é que explica a enorme excitação recente do governo, da  burguesia e da máfia cubana dos gusanos (vermes) nos EUA. Desde meados de 2006,  quando Fidel Castro teve que ser hospitalizado, que os anticomunistas realizam  festas macabras nas ruas de Litle Havana, em Miami. Este instinto assassino  sempre esteve presente nas ações terroristas contra o presidente cubano e mesmo  nas declarações de reacionários ianques. Numa entrevista ao jornal Miami Herald,  a senadora republicana Ileana Lehtinen chegou a sugerir que se acelerasse a  morte do líder revolucionário. “Há centenas de formas de se matar o enfermo  Fidel Castro”. Agora, com o anúncio da pretensa “renúncia”, a direita mundial e  sua mídia venal voltam a ficar ouriçadas.
*Altamiro Borges é jornalista, membro do Comitê Central do PCdoB e autor  do livro "Venezuela: originalidade e ousadia" (Editora Anita Garibaldi, 3ª  edição).
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in VERMELHO - 20 DE FEVEREIRO DE 2008 - 17h27
 
 
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