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"Pensava deixar de escrever uma reflexão por ao menos dez dias, mas eu não tinha direito de guardar silêncio por tanto tempo. Temos que abrir fogo ideológico sobre eles", escreve Fidel, respondendo aos comentários de Bush filho.
Sob o título "Reflexões do companheiro Fidel", ao invés de "Reflexões do  Comandante-em-Chefe", Fidel afirma ter acompanhado pela televisão "a posição  embaraçosa de todos os candidatos a presidente dos Estados Unidos" em suas  reações e destacou que "se viram obrigados um por um a proclamar suas exigências  imediatas a Cuba para não arriscar um só eleitor".
"Meio século de bloqueio parece pouco aos prediletos. Mudança, mudança,  mudança!, gritavam em uníssono. Estou de acordo, mudança!, mas nos Estados  Unidos. Cuba mudou e seguirá seu rumo dialético", acrescentou.
Leia abaixo o texto, publicado no Granma:
Na última terça-feira não houve notícia internacional fresca. Minha  modesta mensagem ao povo, no dia anterior, não teve dificuldade para ser  divulgada com amplitude. Desde as 11 da manhã comecei a receber notícias  concretas. Na noite anterior eu havia dormido como nunca. Tinha a consciência  tranqüila e me havia prometido umas férias. Os dias de tensão, esperando o 24 de  fevereiro me deixaram tenso.
Não direi hoje uma palavra das pessoas dedicadas em Cuba e no mundo que  de mil formas diferentes expressaram suas emoções. Recebi igualmente um elevado  número de opiniões recolhidas nas ruas por meio de métodos confiáveis, nas quais  quase sem exceção, e de forma espontânea, manifestaram seus mais profundos  sentimentos de solidariedade. Algum dia abordarei o tema.
Neste instante me dedico ao adversário. Pude observar a posição  embaraçosa de todos os candidatos a presidente dos EUA. Eles se viram obrigados,  um a um, a proclamar suas imediatas exigências sobre Cuba para não arriscar um  só eleitor. 
Meio século de bloqueio parecia pouco aos favoritos. "Mudança! Mudança!  Mudança", gritavam em uníssono.
Estou de acordo, mudança! Mas nos EUA. Cuba mudou há um tempo e seguirá  seu rumo dialético. "Não regressar jamais ao passado", exclama nosso povo.
"Anexação! Anexação! Anexação", responde o adversário; é o que no fundo  pensam quando falam de mudanças.
Martí, rompendo a descrição de sua luta silenciosa, denunciou o império  voraz e expansionista já descoberto e descrito por sua genial inteligência, mais  de um século da declaração revolucionária da independência das 13 colônias.
Não é o mesmo o fim de uma etapa cujo fim foi um sistema  insustentável.
De imediato as submissas potências européias aliadas a esse sistema  proclamam as mesmas exigências. A seu juízo havia chegado a hora de dançar com a  música da democracia e da liberdade que, desde os tempos de Torquemada, jamais  realmente reconheceram. O colonialismo e o neocolonialismo de continentes  inteiros de onde extraem energia, matérias-primas e mão-de-obra baratas os  desqualificam moralmente.
Um ilustríssimo personagem espanhol, antigo ministro da Cultura e  impecável socialista, hoje e desde há um tempo defensor das armas e da guerra, é  a síntese da falta de razão. Kosovo e a declaração unilateral de independência  os golpeia nesse instantes como impertinente pesadelo.
No Iraque e Afeganistão, seguem morrendo homens de carne e osso com  uniformes dos EUA e da Otan. A lembrança da URSS, desintegrada em parte pela  aventura intervencionista, persegue aos europeus como uma sombra.
Bush pai postula a McCain como seu candidato, enquanto Bush filho, na  África – origem do homem ontem e continente mártir de hoje – onde ninguém sabe o  que ele faz ali, disse que minha mensagem era o início do caminho da liberdade  de Cuba, ou seja, a anexação decretada por seu governo em volumoso e enorme  texto. 
Um dia antes, pela TV internacional, se mostrava um grupo de bombardeiros  de última geração realizando manobras espetaculares, com garantia total de que  bombas de qualquer tipo podem sem lançadas sem que radares detectem as naves  portadoras e nem se considere isso como um crime de guerra.
Um protesto de importante países se relacionava com a idéia imperial de  provas uma arma, com o pretexto de evitar a possível queda sobre outro país de  um satélite espião, um dos muitos artefatos que, com fins militares, os EUA  lançaram na órbita do planeta.
Pensava deixar de escrever uma reflexão por ao menos dez dias, mas eu não  tinha direito de guardar silêncio por tanto tempo. Temos que abrir fogo  ideológico sobre eles.
Escrevi isso às 12h35 da terça-feira. Ontem fiz a revisão e hoje,  quinta-feira à tarde, entregarei o texto. Roguei encarecidamente que minhas  reflexões sejam publicadas na página 2 ou em qualquer outra de nossos jornais,  nunca na primeira página, além de fazer sínteses dos textos nos demais veículos  de comunicação se eles forem extensos. 
Estou dedicado agora no esforço por fazer constar meu voto unido em favor  da Presidência da Assembléia Nacional e do novo Conselho de Estado, e como  fazê-lo.
Agradeço aos leitores por sua espera paciente.
Fidel Castro Ruz
21 de fevereiro de 2008 
Tradução: Fernando Damasceno
 
 
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