A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

quinta-feira, fevereiro 14, 2008

Triste fim do jornalismo investigativo

por Maurício de Castro

Nesta semana, um colega de um grande jornal paulista, interiorizando a prepotência dos seus empregadores, enviou uma carta a todos os parlamentares cobrando que cada um apresente as notas fiscais relativas aos gastos com a verba indenizatória. Se eles não responderem, é provável que sejam "condenados" pelo jornal por ausência de documentos que "provem" sua inocência.


Que os grandes veículos da mídia atuam como partido político, tentando influenciar decisões, apoiando e atacando candidaturas e posições políticas, é um consenso entre todos os que atuam nesta área. A imagem de um editor que exige uma matéria que "bata" em determinado político é uma realidade na maioria das redações. Mas as denúncias publicadas neste ano, mostram que esta escalada em busca de denúncias alcançou um novo patamar.


Todas as pedras da Praça dos Três Poderes sabem que nos meses de recesso parlamentar, os setoristas do Congresso e do Planalto ficam desesperados à cata de qualquer nota ou informação. Vale tudo, desde prestações de contas dos mandatos, passando por pequenas fofocas dos bastidores, chegando a denúncias de qualquer sorte, desde que possam desgastar o Congresso.


Este ano, porém, a veia lacerdista que contamina alguns veículos saltou. As primeiras denúncias sobre a suposta epidemia de febre amarela não resistiram e se deixaram levar pelo caminho fácil do alarmismo. Como resistir à oportunidade de alavancar vendas baseado no medo de uma doença e também atacar o governo. Era uma aposta segura. Entretanto, faltou combinar com os doentes. A "epidemia" mostrou-se fraca e perdeu sua força editorial. Não importa que milhões de brasileiros tenham corrido para se vacinarem, apavorados com as "notícias". Não importa que pessoas que jamais irão a áreas de risco tenham se exposto aos efeitos adversos da vacina. Eis que surge o escândalo dos cartões. Um avanço deste governo, a transparência nos gastos com cartões corporativos, é rapidamente transformado em um instrumento de tortura. A exposição de gastos irrelevantes toma páginas e páginas. Não interessa que os gastos feitos tenham sido ressarcidos aos cofres públicos, como a compra de uma tapioca por engano, que havia sido ressarcida no dia 29 de outubro do ano passado. Para a mídia, nada disso importa, o fundamental é uma manchete que ataque. Não importa o desgaste público, e as suas consequências, é preciso aproveitar este novo nicho, e se possível transformar a pauta em fato político.


Estas atitudes, apesar do caráter policialesco e partidário, não nos surpreendem pois a cobertura das eleições de 2006 rasgaram quaisquer ilusões que ainda pudessem existir sobre a mídia brasileira.


Mas esta semana, um colega de um grande jornal paulista, interiorizando a prepotência dos seus empregadores, enviou uma carta a todos os parlamentares com o seguinte texto:

"Tendo em vista que o Congresso criará uma CPI para investigar os gastos dos cartões corporativos do Executivo, e a título de transparência no uso do dinheiro público, solicito ao sr.:
1) Cópia de todas as notas fiscais e comprovantes dos gastos ressarcidos pela verba indenizatória nos últimos três meses.
2) Cópia de todo o material de 'divulgação do mandato parlamentar', produzido nos últimos três meses.
3) Cópia de todo o material produzido nos últimos três meses,..., a título de 'consultorias, assessorias, pesquisas e trabalhos técnicos'.
Solicito uma resposta até a sexta-feira, dia 15 de fevereiro".


Não se trata de uma piada. É o que parece. O repórter deste jornalão mandou um ofício para os parlamentares apresentarem suas notas fiscais e dá um prazo.


Toda a verificação realizada pela auditoria permanente da Câmara dos Deputados e pelo tribunal de contas da União não vale nada. O que realmente importa é o crivo de aprovação ou não deste jornal. Seria cômico se não fosse trágico. O jornalismo investigativo pressupõe um processo crítico baseado em fontes e informações confiáveis, mas para que tanto trabalho, basta enviar uma "intimação" aos parlamentares. Se eles não responderem, serão condenados por ausência de documentos que "provem" sua inocência. E quem julgará? Um repórter que fez carreira depois do estranho episódio do desmonte da candidatura de Roseana Sarney em 2002.É nisso que se resume a cobertura jornalística hoje em Brasília.


Imagine se um parlamentar questionasse o porquê de as tabelas publicitárias de quase todos os veículos cobrarem o dobro quando se trata de anúncios do poder público. Imaginemos se uma CPI fosse proposta neste sentido, qual seria o tamanho da gritaria.


Tristes tempos estes, onde o complexo de superioridade contaminou de tal modo a imprensa, impedindo que nossos colegas vejam que apesar de se prestarem aos serviços mais vis, isso não os torna menos proletários da informação, não os torna menos insignificantes na disputa da luta de classes.



Maurício de Castro
Brasília-DF

in VERMELHO

13 DE FEVEREIRO DE 2008 - 18h07

Sem comentários: