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por Sérgio Barroso*
Deus se apiedará da alma – em chamas – desse senhor. Greenspan, chefão do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA), por nada menos que 18 anos, multiplicou a riqueza de poucos e iludiu multidões. Desgraçou a vida de incontáveis seres humanos. Como?
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Ao fazer desabar, anos a fio, a taxa básica de juros mais poderosa do planeta, o Midas da grande burguesia americana trejeitou-se num “maníaco soprador de bolhas” – designação magistral do professor Belluzzo. Pior: Greenspan afirmou que a crise atual ocorre sob a égide de modelos em que “respostas inatas do ser humano resultam das oscilações entre a euforia e o medo”. Vigarice.
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Karl Marx, o inglês J. Hobson – e mesmo um ex-diretor do Fed, o economista C. Kindleberger –, a exemplo, apontaram a especulação como fenômeno endógeno do modern capitalism. Para Marx, as formas do capital (como portador de juros e como fictício) são indissociáveis do desenvolvimento do moderno sistema de crédito. Ao brotar lucro e juros no capitalismo atual – dinheiro que cria dinheiro –, reproduzem uma “nova aristocracia financeira, nova espécie de parasitas... um sistema completo de especulação e embuste” – fulminou Marx (O Capital, Livro 3, Cap. XXVII). Disse Hobson, um liberal: os financistas do final do século 19 especulavam com títulos como numa “casa de jogo”; que “planejavam golpe (coup) contra a Bolsa de Valores” (Evolução do capitalismo moderno, Cap. X).
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Voltemos às psicoses da crise financeira. Greenspan, no final do dito artigo, labaredas nas calças, defende uma “regulação” do sistema financeiro dos EUA que não “iniba” o que ele chama de “salvaguardas mais confiáveis e eficazes: a flexibilidade do mercado e a competição aberta”. De bate pronto e anunciado no 31 de março, pelo secretário do Tesouro Henry Paulsen (esse tolinho foi ex-diretor do FMI e executivo-chefe do Goldman Sachs!), o plano “regulador de estabilidade de mercado” não passa de um festival de demagogia.
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Primeiro, porque ele, seguindo mais ou menos os conselhos de Greenspan, passou pelo crivo de um grupelho da alta finança americana – como não podia deixar de ser. Não à toa o liberal Paul Krugman escreveu, comparando: as medidas são “para esconder a falta de idéias práticas sobre o que fazer”; tomadas por “dirigentes [que] gostam de promover grande algazarra quando reorganizam caixinhas e linhas de um organograma informando quem se reporta a quem”.
Ou seja, trata-se de uma ressaca de fim de festa de governo, que em nada tocará na própria crise. (Em 5 de abril, o Departamento de Trabalho dos EUA informou quem de fato está se lascando com a crise: 80 mil novos desempregados, somando 232 mil, somente até março).
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Segundo, porque elas fora publicizadas exatamente quando se soube das violentas perdas bancárias com a crise, registradas oficialmente até 1º de abril, a superar os US$ 140 bilhões (blog Deal Journal,The Wall Street Journal, 1/4/2008). As baixas contábeis do banco suíço UBS totalizaram as maiores (US$ 27 bilhões).
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Veja o leitor mais da bagaceira: Merrill Lynch – US$ 19,4 bilhões; Morgan Stanley – US$ 12,9 bilhões; Deutsche Bank – US$ 7,12 bilhões; Bank of America – US$ 5,68 bilhões; Royal Bank of Scotland – US$ 5,621 bilhões; Credit Suisse – US$ 4,859 bilhões; Société Générale – US$ 3,775 bilhões; Goldman Sachs – US$ 3,7 bilhões, e por aí vai.
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Sexta passada, a Bloomberg subiu o rombo para US$ 195 bilhões; e o banco Lehman Brothers (quarto maior de investimentos dos EUA) declarou a liquidação de três de seus Fundos. Na segunda, seguradoras chiaram o estrago de US$ 38 bilhões.
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A quebradeira prosseguirá.
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Artigo publicado originalmente em O Jornal (AL), 16/4/2008
*Sérgio Barroso, Médico, doutorando em Economia Social e do Trabalho (Unicamp), membro do Comitê Central do PCdoB.
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in Vermelho - 19 DE ABRIL DE 2008 - 19h29
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