Quarta, 09 Abril 2008 . | |
Bernardino Soares, na declaração política realizada na AR, afirmou que «se há matéria em que se acentua a descredibilização do regime democrático, ela é a da evidente e escandalosa promiscuidade entre o poder político e o poder económico. A situação a que chegámos não pode deixar de merecer uma forte intervenção de todos os que prezam a independência do poder político e a soberania popular.»
Declaração política sobre a escandalosa promiscuidade entre o poder político e o poder económico Intervenção de Bernardino Soares na AR
Senhor Presidente, Senhores Deputados,
A situação a que chegámos não pode deixar de merecer uma forte intervenção de todos os que prezam a independência do poder político e a soberania popular. De facto, e ao contrário do que diz a Constituição, em Portugal cada vez mais o poder político se subordina ao poder económico.
É ao contrário. Progressivamente e de uma forma avassaladora o que vemos é que é o poder económico que determina muitas das decisões do poder político, orientando-as em seu favor.
Não se trata apenas do caso, com evidente relevância e significado, do ingresso do ex-ministro das obras públicas e dirigente do PS, Jorge Coelho, numa das maiores construtoras nacionais. Trata-se antes de uma prática reiterada e vulgarizada, bem patente no facto de metade das empresas do PSI-20 ter ex-governantes nos seus órgãos sociais.
É uma matéria em que se aplica uma espécie de Tratado de Tordesilhas entre o PS e o PSD, com umas abertas para o CDS, como ainda há pouco ficou patente nas exigências do Presidente do PSD sobre o poder na CGD.
Podíamos estar aqui durante longos minutos a desfiar exemplos, assim permitisse a memória.
Por exemplo de outros ex-ministros das obras públicas. Um é hoje administrador de uma empresa a quem adjudicou uma valiosa e leonina concessão; outro passou para a GALP, depois para a EDP.
E podíamos continuar com referências a situações nesta própria Assembleia, sobre a profusão de cargos e consultorias em seguradoras, bancos, grupos económicos da saúde e da área social, casinos, empresas de comunicações e tudo o mais que se esconde nas sociedades de advogados. Até temos um deputado porta-voz de um partido, e logo o mais representado, que é provedor das empresas de trabalho temporário e defende, claro está com toda a independência, que a legislação laboral devia ser ainda mais liberalizada.
Com tal panorama, multiplicado por diversos níveis de poder, não admira o Estado a que o país chegou, com a profusão de decisões lesivas do interesse público tomadas por sucessivos Governos.
São os sucessivos processos de privatizações sempre favorecendo os adquirentes que muitas vezes nada pagaram ou pagaram com o dinheiro do Estado. É a entrega de empresas fundamentais para os serviços públicos a grupos e accionistas privados.
É a escandalosa impunidade da banca no aumento dos lucros e diminuição de impostos pagos.
É a subordinação do Estado ao domínio informático da Microsoft, que acabou por exemplo rapidamente com as veleidades de um secretário de estado da justiça que queria, imagine-se, aproveitara as vantagens do software livre.
Temos a entrega da rede viária e da Estradas de Portugal às grandes construtoras.
Temos a concentração de obras nas escolas em grandes pacotes para que só as grandes construtoras tenham acesso a eles.
Temos o processo dos PIN e das regiões de turismo desenhadas à medida dos interesses de projectos turísticos e imobiliários.
Tivemos a tomada de posição na GALP pelo grupo Amorim financiada pelos lucros que lhe seriam devidos no futuro enquanto accionista, entretanto convenientemente garantidos.
Temos a repartição entre quatro ou cinco grupos económicos das parcerias público-privadas da saúde, com elevados prejuízos para o Estado.
Temos um governo que vai desmantelando a ADSE e os direitos dos trabalhadores da administração pública e depois suporta financeiramente o Hospital da Luz com uma valiosa convenção.
Temos um QREN que com um gestão altamente centralizada deve estar já no fundamenta repartido ou em vias de repartição pelos grandes projectos dos grupos económicos.
Etc., etc., etc..
É por causa destas decisões e da política de favorecimento dos grandes interesses económicos que se agravam as desigualdades. Há dinheiro para tudo isto que atrás referi, em que se consomem muitos milhões de euros. Mas nunca há dinheiro para salários, para reformas, para investimento em serviços públicos, para as pequenas e médias empresas.
Disse. . . |
"e como que a experiência é a madre das cousas, por ela soubemos radicalmente a verdade" (Duarte Pacheco Pereira)
A Internacional
__ dementesim
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Do rio que tudo arrasta se diz que é violento
Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem.
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Quem luta pelo comunismo
Deve saber lutar e não lutar,
Dizer a verdade e não dizer a verdade,
Prestar serviços e recusar serviços,
Ter fé e não ter fé,
Expor-se ao perigo e evitá-lo,
Ser reconhecido e não ser reconhecido.
Quem luta pelo comunismo
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Só tem uma verdade:
A de lutar pelo comunismo.
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Bertold Brecht
terça-feira, abril 15, 2008
PCP - a escandalosa promiscuidade entre o poder político e o poder económico
Etiquetas:
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