Aproximamos-nos do final da legislatura e está cada vez mais patente o fracasso de uma política e de um governo na resolução dos principais problemas nacionais. . A concretização das metas e objectivos solene e previamente anunciados pelo PS e o seu governo que garantiam até ao fim do mandato forte crescimento económico e mais desenvolvimento em convergência com a União Europeia, mais emprego e mais qualificado e melhores condições de vida para os portugueses, são já uma miragem no horizonte de 2009. . O ano de 2008 dado pelo Governo como o grande ano da viragem no crescimento económico, é tão credível que já nem ele próprio acredita. . Ao crescimento económico insignificante dos últimos anos, sucede-lhe um novo abrandamento. O investimento privado contínua em queda. As exportações caem há seis meses consecutivos, tal como o consumo privado, em resultado da desvalorização dos salários e do acentuado aumento das taxas de juro. Todas as previsões económicas fazem marcha-atrás, tornando cada vez mais ridículas as torrentes de auto elogios do Governo. . Os sectores produtivos e o mundo das actividades que envolvem as pequenas e médias empresas passaram a sentir de forma exacerbada os efeitos da excessiva valorização do euro, dos custos agravados dos combustíveis, da energia e do crédito que custa mais de 40% do que a média europeia, para alimentar os altos lucros da banca e dos grandes grupos económicos que continuam a impor os seus preços de cartel. . Sucedem-se as falências de pequenas e médias empresas, agora a um ritmo mais elevado, ao mesmo tempo que as importações aumentam, particularmente de bens alimentares para compensar a falta de produção. A substituição da produção nacional pela estrangeira continua a ter uma preocupante evolução, em resultado da contínua liquidação do nosso aparelho produtivo, nomeadamente nos sectores da agricultura e das pescas. . Os principais problemas estruturais com que o país está há muito confrontado continuam sem conhecer qualquer significativo melhoramento e, muitos deles, conheceram nestes três anos de governo do PS um novo agravamento. A dívida pública aumentou. O endividamento externo continuou a crescer e hoje somos um dos países mais endividados da Europa. Continuaram a agravar-se o défice das contas externas, nomeadamente o défice comercial.
. A vida a piorar . No plano social, o desemprego cresceu para níveis históricos e os salários são esmagados e desvalorizados por uma política deliberadamente marcada pela preocupação da contenção salarial. A desvalorização do poder de compra dos salários é hoje uma das preocupações centrais da nossa intervenção. . Temos denunciado que os brutais aumentos dos preços dos bens e serviços essenciais, estavam a pôr em causa não só a credibilidade das projecções do Governo para a inflação, mas o próprio método e critérios para estimar o seu valor através do actual cabaz de compras das famílias que já não corresponde à realidade dos seus consumos. Temos exigido, neste último ano, medidas do Governo para acabar com estas formas encapotadas de promover o empobrecimento dos trabalhadores e dos reformados. . (...) . Portugal encontra-se mais endividado, deficitário e dependente, mas também mais desigual. . Ao contrário do que afirma o Governo, o país está mais vulnerável e pior preparado para enfrentar a crise financeira. Crise que não pode agora explicar o fracasso, nem ser pretexto para exigir novos sacrifícios aos trabalhadores, aos reformados, aos pequenos e médios empresários, aos portugueses. . Esta evolução é a consequência lógica de uma política que travou o investimento público, diminuiu o poder aquisitivo do povo, promoveu a financeirização da economia com a liquidação da actividade produtiva nacional, concentrou a riqueza e fez do controlo orçamental a primeira prioridade, em detrimento do crescimento económico. . Uma política que é da inteira responsabilidade do Governo do PS de José Sócrates e que teve graves e preocupantes consequências na degradação da situação social do país. . O agravamento das condições de vida a que assistimos, o desemprego, a precariedade, os baixos salários, o aumento dos preços e dos juros, a arbitrariedade patronal, com a tolerância e o incentivo do Governo PS, atingem fortemente os trabalhadores. . A incerteza e a preocupação estão presentes no dia a dia de centenas de milhares de trabalhadores ao mesmo tempo que os lucros da banca e dos grupos económicos e financeiros são dos maiores das últimas décadas, num círculo cruel de injustiças e desigualdades sociais. . Dupla injustiça quando vemos o País transformado num autentico paraíso fiscal para a banca que paga os impostos que quer e como quer a coberto das excepções e benefícios fiscais que os sucessivos governo do PS e do PSD-CDS-PP criaram e que o Governo José Sócrates, mesmo perante a evidência do escândalo da baixíssima taxa efectiva de IRC de 2007, admite e justifica pelo vazio da sua intervenção. . O Governo do PS de José Sócrates, tal como os anteriores decretaram e consideram de facto, Portugal, um off-shore para a banca! . Liquidar direitos . Injustiças que agora se pretendem agravar com a subversão e liquidação de direitos laborais essenciais dos trabalhadores portugueses que querem alterar para pior o Código do Trabalho e a legislação laboral da Administração Pública. . O que querem é intolerável. Não podemos aceitar a facilitação dos despedimentos sem justa causa, horários de trabalho incompatíveis com a vida pessoal e familiar, baixa de salários, liquidação dos direitos e da contratação colectiva, acentuação da arbitrariedade patronal e da limitação da liberdade sindical. . O que se impõe com urgência face à degradada situação social existente é o reforço da protecção dos direitos dos trabalhadores na lei e a sua efectiva aplicação. Ao Governo PS exigimos que retome propostas do PS quando era oposição e não as que a própria direita não teve força para impor! . O PCP vai combater a todos os níveis os propósitos do Governo e das Confederações Patronais, fazer frente a essa declaração de guerra contra os trabalhadores portugueses . No seguimento de muitas iniciativas, designadamente das propostas recentemente apresentadas para o combate à precariedade, vai apresentar na Assembleia da República uma proposta unificada para eliminar os aspectos negativos do Código do Trabalho. . (...) . Defender o nosso mar . Nestas jornadas parlamentares na Região Autónoma dos Açores impõe-se abordar as questões ligadas ao mar, tanto mais num momento em que aqueles que parece terem agora descoberto o mar como factor de desenvolvimento, são afinal os mesmos que ao longo das ultimas três décadas foram e são responsáveis pelo declínio do nosso sector da pesca e da indústria conserveira, da destruição quase completa da construção naval e da frota de marinha mercante nacionais e que pactuaram e promoveram com situações de autêntica agressão da gestão sustentável da orla marítima. . Sem dúvida que há muito que se exige uma política e investimento públicos que possibilitassem “tirar o melhor partido dos recursos disponíveis, conhecer o património marinho promovendo a sua utilização e preservação, recuperar e tornar economicamente viável e de forma sustentável os recursos naturais depauperados, resolver os problemas de conflitos sectoriais nas utilizações do mar”, em áreas como os transportes, energia, pescas e aquicultura, investigação, ambiente, educação, turismo ou defesa nacional e segurança. . Uma política que parta da realidade, das potencialidades e das necessidades do País e de um projecto de desenvolvimento endógeno, o que exige a afirmação da soberania e independência nacionais, isto é, a salvaguarda da soberania nacional quanto à gestão do seu território, designadamente das suas águas territoriais e zonas económicas exclusivas (ZEE), nas suas diferentes dimensões, como: a exploração dos recursos, os transportes, a investigação, a gestão de fronteiras e a segurança, o ordenamento do território, o ambiente ou as actividades económicas, de que é exemplo a pesca. . No entanto, a assunção deste princípio fundamental está a ser, uma vez mais, colocada em causa. . Ameaças à soberania . Estamos confrontados com graves ameaças de perda de soberania nacional, nomeadamente quanto às questões do mar, não só pelo conteúdo da proposta de Tratado - agora rebaptizado de “Lisboa” - mas igualmente por todo um conjunto de políticas e medidas que sistematicamente colocam em causa a soberania nacional, transferindo poder de decisão para a União Europeia. . Tal significaria o reforço dos poderes das suas instituições supranacionais à custa da soberania de Portugal, país com a maior Zona Económica Exclusiva ao nível da União Europeia. . O agora denominado tratado de «Lisboa» – cuja ratificação “de cruz” está prevista para o próximo dia 23 de Abril na Assembleia da República – tão glorificado pelo PS e o seu governo, tão apoiado pelo PSD e pelo CDS-PP, propõe que a União Europeia disponha de competência exclusiva quanto à «conservação dos recursos biológicos do mar, no âmbito da política comum das pescas». Ou seja, a perda de soberania nacional quanto à gestão dos nossos recursos biológicos marinhos. . (...) . Aqui reafirmamos a nossa mais firme rejeição de tais propostas e a exigência do respeito da soberania e da competência de cada Estado quanto à gestão das suas águas territoriais e zonas económicas e exclusivas (ZEE), designadamente no que se refere aos recursos marinhos. . Ao nível da União Europeia, para além desta questão central, temos vindo a batermo-nos pelo reconhecimento das especificidades das regiões ultraperiféricas, como os Açores e a Madeira, avançando com políticas e medidas, sem sujeição a critérios de transitoriedade nem a evoluções conjunturais ou artificiais de riqueza, que contribuíssem para dar resposta aos constrangimentos permanentes a que estão sujeitas estas regiões, pugnando pela criação de um programa comunitário, com os adequados meios financeiros. . Medidas que incluiriam, por exemplo, a consideração da área correspondente às ZEE dos Açores e da Madeira, como "zona de acesso exclusiva", a fim de garantir a sustentabilidade dos ecossistemas marinhos, da actividade da pesca e das respectivas comunidades locais.
Valorizar a ética política
A evolução da situação política e social tem vindo a demonstrar, tantas vezes de forma dramática, bem visível nos problemas sociais do País, que a política de direita praticada à vez por PS e PSD, com ou sem o CDS-PP, está ao serviço dos grandes interesses económicos e não ao serviço do País e da maioria dos portugueses. É sem surpresa, mas com uma profunda indignação, que assistimos ao permanente trânsito de ministros e dirigentes partidários, para grandes empresas e grupos económicos, em regra nos sectores em que tiveram responsabilidades políticas e em que até tomaram decisões favoráveis a essas empresas. É quase como se houvesse uma espécie de progressão na carreira. Está-se em ministro e pratica-se uma política lesiva do interesse colectivo e de benefício dos grandes interesses económicos. Sai-se de ministro e a seu tempo lá virá o cargo, principescamente pago e acolchoado com luxuosas mordomias, numa empresa antes tutelada ou beneficiária de decisões tomadas. É um escândalo! Um escândalo que tem de ser combatido, certamente com melhorias nas leis, mas que não dispensa a valorização da ética política. Um escândalo que contribui para reforçar o descrédito da política perante o povo. Um escândalo que é mais uma prova de que, cada vez mais, e ao contrário do que impõe a nossa Constituição, é o poder económico que manda no poder político. . Mas o que esta situação evidência é a urgente necessidade de pôr fim ao ciclo vicioso da alternância sem alternativa que amarra o país ao bloco central dos interesses. . É perante esta realidade que nós afirmamos a premência da construção de um caminho novo alternativo e uma solução nova que só é possível com o PCP, a grande força de oposição a esta política e a este Governo do PS. . (...) . (Subtítulos da responsabilidade da redacção)
. .in Avante 2008.04.24 . .
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