Mundo
A mobilização civil para exigir a saída do presidente do Egito, Hosni Mubarak, recuperou nesta terça-feira (8) a força que parecia ter perdido nos últimos dias, com uma grande manifestação que levou famílias e crianças a retomarem, aos milhares, o centro do Cairo.
Depois de a violência dos seguidores do presidente ter atingido a cidade na última quarta-feira, centenas de milhares de egípcios retomaram o espírito eufórico das primeiras concentrações e expressaram repúdio a leis ou negociações que não prevejam a saída de Mubarak do poder.
EUA de saia justa
A mobilização popular contraria a tática errática dos Estados Unidos para o Egito. Barack Obama chegou a falar em “transição rápida” no país, em direção à “democracia”, mas nunca retirou apoio ao ditador e fiel aliado Hosni Mubarak.
À medida em que as manifestações foram arrefecendo, o chefe em plantão do império mudou o discurso e agora diz que a permanência do ditador é necessária para garantir uma transição pacífica no país. Trata-se, na verdade, de manobra política para preservar o domínio não só sobre o Egito, cuja ditadura faz o jogo de EUA e Israel, como de todo o mundo árabe, e em especial o Oriente Médio.
Mas tal política colide com o clamor do povo pelo fim imediato da ditadura. A manifestação desta terça-feira foram em resposta aos artifícios usados pelo ditador para preservar o poder, o que inclui a concessão de um aumento de 15% para o funcionalismo. A rebelião popular no Egito tem ímpeto revolucionário e um caráter ao mesmo tempo democrático e antiimperialista.
Retomando a praça
Tareq Hamza, um estudante de Engenharia, observou que a relativa calma que pairava no Egito desde o fim de semana, com ausência de incidentes violentos e a retomada da rotina, levou uma multidão a retornar à praça Tahrir, epicentro dos protestos.
“Fora de Tahrir, a vida voltou à normalidade. Por isso, muita gente aproveita para vir depois que sai do trabalho. Antes, nossas famílias não queriam que viéssemos. Agora elas não se preocupam mais ou até mesmo vêm participar (dos protestos)", disse Hamza à Agência Efe.
Calendário
Os manifestantes estabeleceram um calendário detalhado, com grandes convocações para terça-feiras e sextas-feiras, enquanto, nos demais dias da semana, a presença de milhares de pessoas em lojas tenta fazer com que a revolta não se apague.
A julgar pela resposta desta terça-feira, o medo da violência foi superado e o início do diálogo entre o vice-presidente Omar Suleiman - a quem Mubarak delegou a gestão da crise - e os manifestantes de oposição não foi suficiente para dispersar os protestos na Tahrir.
Nobel de química
Quem se juntou aos manifestantes nesta terça-feira foi Ahmed Zewail, Prêmio Nobel de Química em 1999 e um dos nomes mais cotados para liderar a transição, e Wael Goneim, executivo da Google, libertado nesta segunda-feira pelas autoridades - ele se transformou em herói popular por seu papel na revolta pela internet.
A mobilização em massa - cifrada em 300 mil pessoas pela organização Irmandade Muçulmana - congestionou por momentos o principal acesso à praça, a ponte de Qasr El Nil.
Para chegar à praça, há até mesmo carruagens puxadas por cavalos, que dão à concentração um ar ainda mais festivo que em ocasiões anteriores.
Mártires
Por toda a praça foram colocados grandes cartazes com fotos dos mortos - considerados "mártires" pelos manifestantes - em confrontos com a Polícia ou com os partidários do Governo.
E, enquanto isso, os ''hospitais'' de campanha instalados continuam incessantemente atendendo feridos em incidentes esporádicos, sobretudo com cortes na cabeça provocados pelas pedras lançadas por partidários de Mubarak.
Estes se concentraram às centenas nesta terça-feira na praça de Abdel Menem Riad, situada em frente às barricadas da Tahrir, mas não causaram distúrbios.
O ambiente, agora pacífico, se traduz no retorno das crianças à mobilização na praça, onde a cada dia são instaladas novas barracas. Podem ser vistas imagens simbólicas de dezenas de manifestantes ''acampados'' à sombra dos tanques do Exército, pichados de dizeres em favor da revolta.
Bandeira do Egito
E embora haja inúmeros cartazes e fotografias, o emblema desfraldado pelos manifestantes é a bandeira do Egito, nesta terça-feira mais numerosa do que nunca.
"Depois das palavras do presidente Hosni Mubarak (em 1º de fevereiro), a maioria das pessoas estavam em suas casas, esperando mudanças. Mas hoje há milhões nas manifestações, porque o povo quer ver algo novo, quer uma mudança rápida e recuperar seus direitos", disse à Agência Efe o bancário Shady Wahby.
O regime Mubarak anunciou nesta terça-feira a criação de uma comissão para preparar as reformas constitucionais, mas os manifestantes da Tahrir avisam que retornarão na próxima sexta-feira (11) com mais força, para reivindicar a renúncia do presidente e honrar a memória das vítimas mortais, que, segundo a ONG Human Rights Watch, já chegam a 297.
Da redação, com agências
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EUA de saia justa
A mobilização popular contraria a tática errática dos Estados Unidos para o Egito. Barack Obama chegou a falar em “transição rápida” no país, em direção à “democracia”, mas nunca retirou apoio ao ditador e fiel aliado Hosni Mubarak.
À medida em que as manifestações foram arrefecendo, o chefe em plantão do império mudou o discurso e agora diz que a permanência do ditador é necessária para garantir uma transição pacífica no país. Trata-se, na verdade, de manobra política para preservar o domínio não só sobre o Egito, cuja ditadura faz o jogo de EUA e Israel, como de todo o mundo árabe, e em especial o Oriente Médio.
Mas tal política colide com o clamor do povo pelo fim imediato da ditadura. A manifestação desta terça-feira foram em resposta aos artifícios usados pelo ditador para preservar o poder, o que inclui a concessão de um aumento de 15% para o funcionalismo. A rebelião popular no Egito tem ímpeto revolucionário e um caráter ao mesmo tempo democrático e antiimperialista.
Retomando a praça
Tareq Hamza, um estudante de Engenharia, observou que a relativa calma que pairava no Egito desde o fim de semana, com ausência de incidentes violentos e a retomada da rotina, levou uma multidão a retornar à praça Tahrir, epicentro dos protestos.
“Fora de Tahrir, a vida voltou à normalidade. Por isso, muita gente aproveita para vir depois que sai do trabalho. Antes, nossas famílias não queriam que viéssemos. Agora elas não se preocupam mais ou até mesmo vêm participar (dos protestos)", disse Hamza à Agência Efe.
Calendário
Os manifestantes estabeleceram um calendário detalhado, com grandes convocações para terça-feiras e sextas-feiras, enquanto, nos demais dias da semana, a presença de milhares de pessoas em lojas tenta fazer com que a revolta não se apague.
A julgar pela resposta desta terça-feira, o medo da violência foi superado e o início do diálogo entre o vice-presidente Omar Suleiman - a quem Mubarak delegou a gestão da crise - e os manifestantes de oposição não foi suficiente para dispersar os protestos na Tahrir.
Nobel de química
Quem se juntou aos manifestantes nesta terça-feira foi Ahmed Zewail, Prêmio Nobel de Química em 1999 e um dos nomes mais cotados para liderar a transição, e Wael Goneim, executivo da Google, libertado nesta segunda-feira pelas autoridades - ele se transformou em herói popular por seu papel na revolta pela internet.
A mobilização em massa - cifrada em 300 mil pessoas pela organização Irmandade Muçulmana - congestionou por momentos o principal acesso à praça, a ponte de Qasr El Nil.
Para chegar à praça, há até mesmo carruagens puxadas por cavalos, que dão à concentração um ar ainda mais festivo que em ocasiões anteriores.
Mártires
Por toda a praça foram colocados grandes cartazes com fotos dos mortos - considerados "mártires" pelos manifestantes - em confrontos com a Polícia ou com os partidários do Governo.
E, enquanto isso, os ''hospitais'' de campanha instalados continuam incessantemente atendendo feridos em incidentes esporádicos, sobretudo com cortes na cabeça provocados pelas pedras lançadas por partidários de Mubarak.
Estes se concentraram às centenas nesta terça-feira na praça de Abdel Menem Riad, situada em frente às barricadas da Tahrir, mas não causaram distúrbios.
O ambiente, agora pacífico, se traduz no retorno das crianças à mobilização na praça, onde a cada dia são instaladas novas barracas. Podem ser vistas imagens simbólicas de dezenas de manifestantes ''acampados'' à sombra dos tanques do Exército, pichados de dizeres em favor da revolta.
Bandeira do Egito
E embora haja inúmeros cartazes e fotografias, o emblema desfraldado pelos manifestantes é a bandeira do Egito, nesta terça-feira mais numerosa do que nunca.
"Depois das palavras do presidente Hosni Mubarak (em 1º de fevereiro), a maioria das pessoas estavam em suas casas, esperando mudanças. Mas hoje há milhões nas manifestações, porque o povo quer ver algo novo, quer uma mudança rápida e recuperar seus direitos", disse à Agência Efe o bancário Shady Wahby.
O regime Mubarak anunciou nesta terça-feira a criação de uma comissão para preparar as reformas constitucionais, mas os manifestantes da Tahrir avisam que retornarão na próxima sexta-feira (11) com mais força, para reivindicar a renúncia do presidente e honrar a memória das vítimas mortais, que, segundo a ONG Human Rights Watch, já chegam a 297.
Da redação, com agências
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