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Vermelho - 15 de Fevereiro de 2011 - 0h01
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A frase inicial não é boa. Relembra uma famosa frase dita e depois não honrada na melhor tradição da longa e histórica luta de toda uma geração de lutadores da causa das liberdades democráticas e do socialismo.
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Mas a simbologia está presente: retrata o espanto – em certa medida a frustração – diante do ato inesperado de um aliado, no caso aliada, com o aumento da taxa de juros e a resistência em conceder um aumento maior ao salário mínimo.
O aumento da taxa Selic em 0,5% beneficia diretamente os que especulam no mercado financeiro. Hoje uma razoável parcela de pequenos e médios poupadores também especula, mas os grandes beneficiados com essa ciranda financeira são, inquestionavelmente, grandes especuladores e os banqueiros de maneira geral.
Por outro lado, a negativa de um aumento maior para o salário mínimo prejudica milhões de pessoas cujos vencimentos são indexados ao “mínimo” e retarda a política de recuperação do poder de compra do salário mínimo.
O argumento de que se faz necessário elevar a taxa de juros para conter a escalada da inflação padece de sustentação lógica e teórica. Não funciona e só amplia ainda mais a dívida pública que por sua vez passa a exigir cada vez mais uma enorme carga de empréstimos para novamente financiá-la, estabelecendo um macabro ciclo vicioso que só tende a ampliar-se.
O exemplo maior do fracasso dessa política está nos números oficiais do próprio governo. Em 1994, 1º ano de FHC, a dívida representava 30% do PIB. Elevou a taxa de juro e quando saiu em 2002 a dívida representava 55,50% do PIB, com uma taxa de juros na casa dos 25%.
Lula reduziu os juros, criou uma política de recuperação do valor do salário mínimo e quando deixou o governo em 2010 essa relação dívida/PIB havia caído para algo como 42%. Um avanço, sem dúvidas, mas aquém do necessário.
Se essa tendência modesta for abandonada será a tragédia. É preciso conter a sanha dos “guardas livros”, como ironicamente o velho Brizola batizava essa legião de burocratas que tenta reduzir a administração pública a um escritório de contabilidade.
Segundo relatório do Banco Central (BC), a dívida pública brasileira fechou o ano de 2010 no patamar de 1.694.000.000.000 (um trilhão, seiscentos e noventa e quatro bilhões de reais), registrando um aumento de 197 bilhões (13,5%) em relação a 2009. A projeção para 2011 é da ordem de 1,9 trilhões de reais, sendo que em torno de 28 a 33% estarão indexados a taxa selic.
Se trabalharmos com uma indexação modesta (30%) chegaremos a 579 bilhões e concluiremos que o aumento de 0,5% representa um desembolso de 2,9 bilhões de reais dos cofres públicos, ou seja, valor suficiente para pagar salário mínimo por 13 meses a 409 mil pessoas.
Ademais, quando se aumenta o salário mínimo, aumenta-se a economia e por conseqüência a arrecadação de impostos, na medida em que as famílias de baixa renda praticamente consomem todo o seu vencimento no consumo de bens essenciais.
Com maior arrecadação o governo pode, inclusive, reduzir a carga tributária e a própria taxa de juros, o que acarreta em mais investimento da iniciativa privada e, por derivada, mais empregos, mais atividade econômica, mais arrecadação e, conseqüentemente, mais investimento público.
O aumento da taxa de juros representa um ciclo inverso, onde tudo se reduz e o governo é obrigado a tomar novos empréstimos para seguir rolando a sua dívida pública que, ao que tudo indica deve ultrapassar a casa dos 2 trilhões em breve.
Se é assim tão fácil, a pergunta de por que não se faz é inevitável.
Aqui entra a questão de classe e o papel do estado, cuja essência é a de defesa dos interesses da classe dominante, como Marx demonstrou, e não a de conciliação dos distintos interesses de classe como preconizava Montesquieu.
8 comentários
Mas a simbologia está presente: retrata o espanto – em certa medida a frustração – diante do ato inesperado de um aliado, no caso aliada, com o aumento da taxa de juros e a resistência em conceder um aumento maior ao salário mínimo.
O aumento da taxa Selic em 0,5% beneficia diretamente os que especulam no mercado financeiro. Hoje uma razoável parcela de pequenos e médios poupadores também especula, mas os grandes beneficiados com essa ciranda financeira são, inquestionavelmente, grandes especuladores e os banqueiros de maneira geral.
Por outro lado, a negativa de um aumento maior para o salário mínimo prejudica milhões de pessoas cujos vencimentos são indexados ao “mínimo” e retarda a política de recuperação do poder de compra do salário mínimo.
O argumento de que se faz necessário elevar a taxa de juros para conter a escalada da inflação padece de sustentação lógica e teórica. Não funciona e só amplia ainda mais a dívida pública que por sua vez passa a exigir cada vez mais uma enorme carga de empréstimos para novamente financiá-la, estabelecendo um macabro ciclo vicioso que só tende a ampliar-se.
O exemplo maior do fracasso dessa política está nos números oficiais do próprio governo. Em 1994, 1º ano de FHC, a dívida representava 30% do PIB. Elevou a taxa de juro e quando saiu em 2002 a dívida representava 55,50% do PIB, com uma taxa de juros na casa dos 25%.
Lula reduziu os juros, criou uma política de recuperação do valor do salário mínimo e quando deixou o governo em 2010 essa relação dívida/PIB havia caído para algo como 42%. Um avanço, sem dúvidas, mas aquém do necessário.
Se essa tendência modesta for abandonada será a tragédia. É preciso conter a sanha dos “guardas livros”, como ironicamente o velho Brizola batizava essa legião de burocratas que tenta reduzir a administração pública a um escritório de contabilidade.
Segundo relatório do Banco Central (BC), a dívida pública brasileira fechou o ano de 2010 no patamar de 1.694.000.000.000 (um trilhão, seiscentos e noventa e quatro bilhões de reais), registrando um aumento de 197 bilhões (13,5%) em relação a 2009. A projeção para 2011 é da ordem de 1,9 trilhões de reais, sendo que em torno de 28 a 33% estarão indexados a taxa selic.
Se trabalharmos com uma indexação modesta (30%) chegaremos a 579 bilhões e concluiremos que o aumento de 0,5% representa um desembolso de 2,9 bilhões de reais dos cofres públicos, ou seja, valor suficiente para pagar salário mínimo por 13 meses a 409 mil pessoas.
Ademais, quando se aumenta o salário mínimo, aumenta-se a economia e por conseqüência a arrecadação de impostos, na medida em que as famílias de baixa renda praticamente consomem todo o seu vencimento no consumo de bens essenciais.
Com maior arrecadação o governo pode, inclusive, reduzir a carga tributária e a própria taxa de juros, o que acarreta em mais investimento da iniciativa privada e, por derivada, mais empregos, mais atividade econômica, mais arrecadação e, conseqüentemente, mais investimento público.
O aumento da taxa de juros representa um ciclo inverso, onde tudo se reduz e o governo é obrigado a tomar novos empréstimos para seguir rolando a sua dívida pública que, ao que tudo indica deve ultrapassar a casa dos 2 trilhões em breve.
Se é assim tão fácil, a pergunta de por que não se faz é inevitável.
Aqui entra a questão de classe e o papel do estado, cuja essência é a de defesa dos interesses da classe dominante, como Marx demonstrou, e não a de conciliação dos distintos interesses de classe como preconizava Montesquieu.
8 comentários
* Engenheiro Agrônomo, Professor da UFAM, Deputado Estadual, Membro do CC do PCdoB, Secretário Nacional da Questão Amazônica e Indígena.
* Opiniões aqui expressas não refletem necessariamente as opiniões do site.
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priscila e inflacao
15/02/2011 21h57 priscila, a chamada inflacao por demanda ocorre exatamenten quando a producao se retrai, o que ocorre, dentre outros aspectos, pela elevacao da taxa de juros que encarece a "mercadoria" dinheiro. Se os salarios se elevam e a producao tambem nao ha como o industrial e o comercio especularem; mas se nao há produtos aí sim a inflacao dispara. de qualquer forma, obrigado pelas criticas. eron
eron bezerra manaus - AM -
afff
15/02/2011 19h41 lutemos, então, por um mínimo de R$10mil, R$15mil... que tal? se um deputado pode, a população toda pode!!! e vamo que vamo! o/... juro que não leio mais os comentários daqui... pior que reaça é a esquerda irresponsável.
priscila são paulo - SP -
gostei...Marcelo Buraco...
15/02/2011 19h37 E parabenizo o MESTRE ERON, cabra bom. comedor de jaraqui do amazonas,alás...jaraqui é a bandeira do amazonas. muito boa a reportagem, ah..quando vc vem de novo a rondonia, fazer outra palestra. os VERMELHOS RONDONIENSE, entenderam o recado. obgdo camarada. ah..Marcelo, concordo com vc. a Priscila, ainda ta naquela velha musica...e assim se passaram 10 anos...concordas? vamos sim todos a rua por 580. os deputados...aumentaram, será que não sobrou nada pros trabalhadores? kkkkkkkkkkkk me faz rir...sabias? kkkkkkkkkkkk
ZÉ DO FACÃO PORTO VELHO - RO -
caraca
15/02/2011 19h19 marcelo buraco, não critique quem não conhece! não tenho nada dessas coisas que vc citou, nada disso tem valor pra mim. se fosse tal burguesinha, nem estaria lendo o vermelho!!!!!!! e ainda acho que aumento do mínimo (que é um INDEXADOR, não só uma renda), impulsionaria sim a inflação... como disse anteriormente, não sei se vc entendeu, não acho R$580 um salário mínimo digno, longe disso! porém, a equipe do governo precisa ter prudência e saber conciliar as necessidades do povo e as capacidades do governo, é preciso agir com responsabilidade! lembrem-se que às vezes é preciso recuar para seguir em frente.
priscila são paulo - SP -
Começou como Lula...mas
15/02/2011 16h41 O texto do camarada Amazonense esta traduzindo este inicio de governo Dilma corretamente, que na minha opinião significa o seguinte: Enquanto a política econômica deste novo governo for baseada no superávit primário, câmbio flutuante e juros altos, nosso país não vai conseguir um desenvolvimento sustentável e as crises socioeconômicas vão continuar assombrando os lares dos trabalhadores brasileiros, mas a esquerda consequente deve dar um crédito até o momento que perceber que internamente na base, a disputa pela hegemonia das idéias avançadas e progressistas foram derrotadas e as reformas foram deixadas de lado. A partir daí o rompimento será inevitável, até porque a corda no pescoço do povo está esticada a muito tempo, há que pensar na grande politica e ter responsabilidade acima de tudo,mas..... abs
Flávio Maia caxias do sul - RS -
Discurso do "tenho medo" para deixar tudo como esta, ou pior
15/02/2011 16h23 Infelizmente alguns setores, que se reivindicam de esquerda, ou ao menos se reivindicavam, dentro e fora do Governo, repetem o discurso PIGneano da Regina Duarte, que tentou criar um clima de terror caso Lula fosse eleito em 2002,buscando convencer a população que a econômia do país se desmantelaria, o que não colou. Agora estes mesmos profetas do apocalipse afirmam que o aumento do salário mínimo além dos 545 reais e a redução dos juros levariam à disparada da inflação. Primeiro não sou economista, mas: 1)Se a tese de que o aumento do salário mínimo dispara a inflação, tese tão defendida pelos militares, FHC e cia, os dois mandatos de Lula, com a sua política de valorização do salário mínimo sempre acima da inflação, jogaram na lata de lixo da história esta malfadada tese; CONTINUA
Arnaldo de Salvo Jr Santo André - SP -
Parabéns Eron, vamos avançar essa luta.
15/02/2011 16h16 Acho que deveríamos (CTB e demais Centrais) chamar um dia nacional de paralisação. Não elegemos este Governo pra ficar no saudosismo da época de combates contra a ditadura militar. Temos que ser combativos é todo dia, essa é nossa opção, lutar pela classe trabalhadora. E pra leitora Priscila que fez o comentário logo abaixo: Priscila com R$ 580,00 o trabalhador (a) vai compra mais bens "essenciais" de consumo. Leia-se: pão, ovos, leite, arroz, feijão, farinha, carnes, vestuário, higiene. Minha cara coleguinha, vc pelo jeito é de família de classe média que pensa que bens de consumo só se baseia no seu novo celular, sua net 3G, seu notebook, seu tênis importado, seu relógio gringo, seu óculos de sol europeu, seu perfume francês e por aí vai. Aliás, a classe média gera muita riqueza pros países ricos, e coloca a balança comercial a favor dos gringos, mas ficam preocupados em aumentar o salário de sua empregada doméstica, seu jardineiro, motorista, sua cabelereira, sua manicure, etc.
Marcelo Buraco Santo André - SP inflação
15/02/2011 15h29eu não entendo nada de economia, mas o texto parece não se sustentar... enquanto defende a redução das taxas de juros, dizendo "elevar a taxa de juros para conter a escalada da inflação padece de sustentação lógica e teórica", diz "famílias de baixa renda praticamente consomem todo o seu vencimento no consumo de bens essenciais"... claro que, com taxas de juros menores (crédito facilitado) e mais dinheiro nas mãos da população AO MESMO TEMPO, aconteceria um aumento do consumo, pressionando a indústria, gerando a famigerada inflação, que, convenhamos, seria um tiro no pé de qualquer governante. aumentar o mínimo para um valor digno é necessário, reduzir os juros é necessário... porém, é uma tarefa de longo prazo, para que o aumento da renda não provoque aumento do custo de vida pela alta dos preços. a presidenta Dilma e sua equipe têm uma grande tarefa pela frente... é preciso cautela para não termos uma decaída à época de FHC e nem ter atitudes disparatadas.priscila são paulo - SP.
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