Editorial.
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O tabuleiro político do Oriente Médio está em movimento desde 14 de janeiro, quando o ditador tunisiano Ben Ali foi obrigado a deixar o poder. A queda, dia 11, de Hosny Mubarak, no Egito, foi outro lance de enorme importância. Mas, é preciso ressaltar, não é ainda um xeque mate para os antipopulares regimes aliados dos EUA e de Israel no Oriente Médio e no Norte da África.
A queda de Mubarak indica na verdade o início do processo de mudanças mais radicais, expresso neste domingo (13) pela decisão da junta militar que passou a dirigir o Egito, de fechar um Congresso ilegítimo, suspender a Constituição e iniciar a construção, com as forças políticas que estiveram à frente dos protestos, da transição para a democracia, que deve durar pelo menos seis meses, tempo suficiente para que as forças políticas possam se organizar, definir programas e apresentar candidatos.
A imprensa fala em revolução no Egito, e a palavra é mesmo adequada para descrever os acontecimentos lá ocorridos desde o primeiro protesto de massas em 25 de janeiro. Foram 18 dias de ebulição cujo preço em vidas humanas foi muito alto. Fala-se em 300 mortos, o que dá uma média de quase 17 por dia. Esta é talvez a mais forte medida da disposição dos egípcios para avançar nas mudanças cujo móvel, lembra com razão o ex-chanceler brasileiro Celso Amorim, tem expressões fundamentais nas contradições internas do Egito (empobrecimento, desemprego, alta do custo de vida, entre outras questões) e o forte sentimento anticolonialista e nacionalista que anima os povos do Oriente Médio e que está vivo entre a juventude.
Nesse sentido, a queda de Mubarak, que abre caminho para as mudanças, tem o sabor inegável de uma derrota histórica dos EUA e de Israel na região, mesmo que a junta militar egípcia proclame a disposição de manter os repudiados tratados de paz com Israel e assegurar-lhe o fornecimento de gás (o Egito é responsável pelo fornecimento de quase metade do gás consumido em Israel). Não poderia ser de outra forma pois não cabe à junta tomar decisões de caráter estratégico, mas sim organizar a transição. Medidas de relações exteriores desse alcance caberão legitimamente ao governo que, respaldado pelo povo, terá a força moral necessária para determinar os rumos a seguir.
A disposição popular, nesse sentido, não arrefeceu e ela se manifesta desde mudanças nos hábitos cotidianos até a compreensão de que o país só vai mudar de fato quando assumir plenamente sua soberania. Os jornais estão cheios de frase fortemente indicativas dessa disposição. Por exemplo, comentando a forte queda no assédio às mulheres que andam sozinhas pelas ruas egípcias, e que era tolerado até então, o escritor egípcio Alaa al Aswany comentou que "a revolução torna as pessoas melhores".
Mas torna também o povo mais determinado. Uma professora, Manal Ghannamy, militante dos protestos no Cairo, disse a um jornalista que "a luta não acabou porque temos ainda muitas reivindicações. Mudamos o regime, agora devemos tomar o caminho da democracia. Queremos solucionar nossos problemas internos: saúde, educação moradia, agricultura, emprego. Queremos um país aberto a todo o mundo. Queremos viver em paz com todos os países, inclusive com Israel". Outro ativista, Mohamed Rida, disse que "não queremos ser governados pelo exército, mas daremos a ele o tempo necessário para fazer as reformas".
É um sentimento popular em consonância com a principal força política e social do Egito, a Irmandade Muçulmana, que terá papel decisivo na formulação do futuro do país.
A revolução torna as pessoas melhores, disse Alaa al Aswany. E vai tornar o Egito melhor – é o que o povo pretende, e indicam declarações semelhantes às da professora Manal Ghannamy ou do ativista Mohamed Rida.
A mudança começou. E ela precisa ir até o fim, com a conquista da democracia e com a derrota da presença do imperialismo norte-americano e a ignominiosa convivência com o principal fator de perturbação da paz no Oriente Médio constituído pelos governos sionistas e agressores de Tel Aviv. O rumo da paz e da estabilidade depende agora deste outro passo que, ele sim, pode representar um xeque mate para os inimigos do povo da região.
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A queda de Mubarak indica na verdade o início do processo de mudanças mais radicais, expresso neste domingo (13) pela decisão da junta militar que passou a dirigir o Egito, de fechar um Congresso ilegítimo, suspender a Constituição e iniciar a construção, com as forças políticas que estiveram à frente dos protestos, da transição para a democracia, que deve durar pelo menos seis meses, tempo suficiente para que as forças políticas possam se organizar, definir programas e apresentar candidatos.
A imprensa fala em revolução no Egito, e a palavra é mesmo adequada para descrever os acontecimentos lá ocorridos desde o primeiro protesto de massas em 25 de janeiro. Foram 18 dias de ebulição cujo preço em vidas humanas foi muito alto. Fala-se em 300 mortos, o que dá uma média de quase 17 por dia. Esta é talvez a mais forte medida da disposição dos egípcios para avançar nas mudanças cujo móvel, lembra com razão o ex-chanceler brasileiro Celso Amorim, tem expressões fundamentais nas contradições internas do Egito (empobrecimento, desemprego, alta do custo de vida, entre outras questões) e o forte sentimento anticolonialista e nacionalista que anima os povos do Oriente Médio e que está vivo entre a juventude.
Nesse sentido, a queda de Mubarak, que abre caminho para as mudanças, tem o sabor inegável de uma derrota histórica dos EUA e de Israel na região, mesmo que a junta militar egípcia proclame a disposição de manter os repudiados tratados de paz com Israel e assegurar-lhe o fornecimento de gás (o Egito é responsável pelo fornecimento de quase metade do gás consumido em Israel). Não poderia ser de outra forma pois não cabe à junta tomar decisões de caráter estratégico, mas sim organizar a transição. Medidas de relações exteriores desse alcance caberão legitimamente ao governo que, respaldado pelo povo, terá a força moral necessária para determinar os rumos a seguir.
A disposição popular, nesse sentido, não arrefeceu e ela se manifesta desde mudanças nos hábitos cotidianos até a compreensão de que o país só vai mudar de fato quando assumir plenamente sua soberania. Os jornais estão cheios de frase fortemente indicativas dessa disposição. Por exemplo, comentando a forte queda no assédio às mulheres que andam sozinhas pelas ruas egípcias, e que era tolerado até então, o escritor egípcio Alaa al Aswany comentou que "a revolução torna as pessoas melhores".
Mas torna também o povo mais determinado. Uma professora, Manal Ghannamy, militante dos protestos no Cairo, disse a um jornalista que "a luta não acabou porque temos ainda muitas reivindicações. Mudamos o regime, agora devemos tomar o caminho da democracia. Queremos solucionar nossos problemas internos: saúde, educação moradia, agricultura, emprego. Queremos um país aberto a todo o mundo. Queremos viver em paz com todos os países, inclusive com Israel". Outro ativista, Mohamed Rida, disse que "não queremos ser governados pelo exército, mas daremos a ele o tempo necessário para fazer as reformas".
É um sentimento popular em consonância com a principal força política e social do Egito, a Irmandade Muçulmana, que terá papel decisivo na formulação do futuro do país.
A revolução torna as pessoas melhores, disse Alaa al Aswany. E vai tornar o Egito melhor – é o que o povo pretende, e indicam declarações semelhantes às da professora Manal Ghannamy ou do ativista Mohamed Rida.
A mudança começou. E ela precisa ir até o fim, com a conquista da democracia e com a derrota da presença do imperialismo norte-americano e a ignominiosa convivência com o principal fator de perturbação da paz no Oriente Médio constituído pelos governos sionistas e agressores de Tel Aviv. O rumo da paz e da estabilidade depende agora deste outro passo que, ele sim, pode representar um xeque mate para os inimigos do povo da região.
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