A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

terça-feira, fevereiro 08, 2011

Guerra Colonial Portuguesa - João Pedro Freire

Fotos de João Pedro Freire - Fotos do Mural

Foto 331 de 332 

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É importantíssimo que a memória sobre a Guerra Colonial seja preservada para que as novas gerações saibam, com exemplos vividos, o que foi e o que representou.
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Há 50 anos, eu tinha 3 anos!
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Até aos 16 anos, juntamente com a minha Mãe, as minhas irmãs e o meu irmão, acompanhei o meu Pai, nas comissões militares, em Moçambique, em Angola e na Guiné-Bissau.
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Lembro-me muito bem desses tempos e não tenho muita saudade deles. Porque foram momentos de angústia, de grande stress à espera que o meu Pai regressasse, que fizeram com que a memória ficasse bem gravada!
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Sim, e eu tinha a idade que tinha!
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Aprendi que a guerra colonial era uma guerra anacrónica, injusta, despropositada que só servia para manter em Lisboa uma clique fascista e nas antigas colónias uns quantos que viviam da exploração de mão-de-obra quase escrava.
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Por exemplo, em Moçambique, quando lá estive, na zona das plantações de sisal, lembro-me que havia grandes proprietários que todos os finais de mês davam uma carga de pancada aos trabalhadores, expulsando-os, para depois recrutarem outros diferentes para o mês seguinte. E este cenário repetia-se, mês após mês …
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Ou então, quando a mim – na altura, uma criança – alguns residentes dessas antigas colónias me chamavam a atenção para os pretos que não deveriam ser tratados por “senhor”, porque … eram pretos!
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Tenho, no entanto, outras recordações boas. Do espaço familiar com carinho que os meus Pais sempre souberam criar, pese a envolvente de guerra, dos amigos que fui criando, de África com as suas paisagens com um cheiro especial, …
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Eu cresci nesse ambiente e ao ritmo de um ano lectivo na “Metrópole” (como se dizia) e dois anos em qualquer colónia (o tempo de uma comissão militar) … esse ritmo também não deixa boas recordações, mas regista, para sempre, memória com traços fortes.
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O momento mais marcante, até estruturante, desses anos foi, sem dúvida, o 25 de Abril de 1974 … o final da guerra é mesmo um sinal de libertação! E esse momento de libertação fica também gravado com os momentos de profunda alegria e felicidade que eu vi nos meus Pais, em todos os camaradas de armas do meu Pai e nos tais pretos que me diziam para não tratar por “senhor”.
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A libertação que assisti em Bissau, testemunhei-a depois também nos momentos de conquista das liberdades, da democracia e na possibilidade do povo poder decidir e escolher o seu destino, quando regressei a Lisboa.
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Por isto, a memória da guerra colonial deve ser preservada e apresentada, com exemplos concretos, às novas gerações. Até para que outras guerras possam ser combatidas … porque uma guerra é sempre uma sucessão de momentos angustiantes, traumatizantes e destruidores, que parecem infindáveis …
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Obrigado ao Mário Tomé pelo seu excelente texto sobre a guerra colonial, colocado aqui no Facebook.
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Adicionada ontem
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Francisco Santos, Carlos Filipe, Lurdes Martins e 12 outras pessoas gostam disto.
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Catarina Pessoa obrigada pela partilha. É tão importante para a nossa memória colectiva e para a nossa identidade como povo que as pessoas partilhem conosco aqueles tempos.
Domingo às 18:34 · GostoNão gosto ·
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Maria Da Graça Vaz Vi amigos partir para esta Guerra alguns voltaram, outros não.
Como cantava Zeca Afonso voltaram nuna caixa de pinho
Domingo às 18:37 · GostoNão gosto ·
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Lurdes Martins Obrigada pela exposição, vou partilhar.
Abreijo
Domingo às 19:28 · GostoNão gosto ·
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Orquidea Soares de Lima Grande texto. Gostei mesmo!
E, amiga Maria da Graça, parece-me que quem cantava que voltaram numa caixa de pinho, era José Mário Branco: "O soldadinho não volta, do outro lado do mar......"
Domingo às 20:38 · GostoNão gosto ·
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Rui Mateus Não esquecer que existiram concepções diferentes como se devia combater a guerra colonial por cá...é bom refrescar a memória..
Domingo às 21:05 · GostoNão gosto ·
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António Manuel Ribeiro Lourinho
Quem cantava "menina dos Olhos Tristes" era o Adriano Correia de Oliveira e o Zé Afonso, em duas versões diferentes do mesmo poema. Mas reportando-me à guerra, agradeço o que aqui se colocou. Toca-me profundamente mas não tive essa visão ro...mântica do preto que se não podia tratar por "senhor", não tive a alegria de aspirar os cheiros de África nessa visão idílica, nem a vida fácil de convívio com a família nessa imensidão territorial. Os cheiros que reconheço são os da cordite, do fumo dos disparos, dos rebentamentos de minas, do sangue dos meus camaradas mortos ou estropiados, do pó regado a sangue, suor e lágrimas. A envolvência era a do medo, (porque os heróis também o sentem), e o quotidiano era a imensa incerteza, não pelo dia seguinte mas sim pelo segundo imediato. A minha memória vai para aqueles que num segundo riam e, no outro, era já cadáveres ou estropiados em sofrimento que se haveria de prolongar até aos dias de hoje, no caso dos que ainda vivem. À noite, a incerteza penetrava cada poro e a companhia que nos ladeava era a de uma espingarda aninhada ao nosso lado, uma boina a servir de fronha numa almofada que era de pedra, sem referir a magra e insípida ração de combate que, sendo de conservas, era aquecida por um calor extremo em cada momento, deteriorando o seu conteúdo e gerando muitas vezes alergias oroginadas pela decomposição. O romantismo estava ausente. Tomara que esta descrição fosse um "quadro" pintado com a minha imaginação. O povo português nunca terá noçao da verdadeira dimensão do sofrimento das gerações que participaram neste massacre colectivo. A Pátria, (ou Mátria) é madrasta com esses seus filhos bem como com as suas famílias que sofreram e sofrem ainda os efeitos devastadores dos dramas então vividos. Por isso, a hipocrisia me queima e continuará a ferir, sempre que uma coroa de flores é colocada sobre os monumentos aos meus irmãos caídos. Aproveitem as minha palavras para reflectirem. Sinto tudo quanto aqui escrevo e alguma felicidade remanesce por poder escrever. Õutros, muitos, mantêm-se no silêncio e arrastam o seu sofrimento calados sem capacidade para o revelar. Fiquem bem. Aceitem esta versão, um pouco diferente dos filhos dos militares de carreira que, esses sim, podem ter visões românticas das passagens por África.
há 15 horas · GostoNão gosto · 5 pessoasA carregar... ·
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Lurdes Martins António, um abraço muito apertado. E não deixe que o tratem mal, por ter estado na frente onde deviam estar os que tanto defendiam a guerra. Ninguém nasceu para matar - é uma violência que deixa refém a vida inteira e lembre-se que, apesar de tudo, está vivo e, como diz o povo, "enquanto há vida há esperança". Que viva a esperança muito mais que o passado, são os meus votos sinceros. Beijo
há 14 horas · GostoNão gosto ·
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António Manuel Ribeiro Lourinho Obrigado Lurdes Martins. Como antes disse, mantenho a gratidão a Deus ter-te poupado o corpo. A mente, sofrida, não me tolda a visão de todas as coisas. Outros estarão perturbados ao ponto de nem sequer se poderem exprimir. A sua revolta interior leva-os a procedimentos que são socialmente reprováveis e nós que somos tão rápidos e lestos a julgar. Beijos e todo a paz para si.
há 11 horas ·
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Victor Nogueira
Viva. Aqui fica o meu testemunho
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há 7 horas
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