18.08.2010 - 07:32 Por Raquel Martins
A taxa de desemprego manteve-se nos 10,6 por cento no segundo trimestre de 2010 e o número de desempregados até se reduziu ligeiramente face ao trimestre anterior, mas a economia portuguesa continua a ter sérias dificuldades em criar postos de trabalho para colocar os mais de 590 mil desempregados.
Centro de Emprego na Avenida 5 de Outubro, em Lisboa
(Foto: Laura Haanpaa/arquivo)
Os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), ontem divulgados, dão conta de uma realidade preocupante - mais de metade destes desempregados procura trabalho há mais de um ano e dificilmente conseguirá encontrar. É que uma parte significativa dos desempregados de longa duração tem baixas qualificações e mais de 44 anos de idade, um perfil que está completamente fora das exigências das empresas na hora de contratar.
A situação torna-se mais grave numa altura em que o Governo decidiu retirar alguns dos apoios extraordinários dados aos desempregados - como o prolongamento por seis meses do subsídio social de desemprego - e alterar as condições de atribuição dos apoios sociais. No segundo trimestre de 2010, e de acordo com o INE, 326 mil desempregados estavam nessa situação há mais de um ano (e entre estes 54 por cento procuravam trabalho há mais de dois anos). Trata-se de um aumento de 38,7 por cento face ao segundo trimestre de 2009.
Este elevado número de desempregados há mais de um ano representa já 55,3 por cento do total de desempregados, colocando a taxa de desemprego de longa duração no nível mais elevado de sempre: 5,8 por cento.
Pelo contrário, o desemprego de curta duração (há menos de 12 meses) recuou quatro por cento, sinal de que a entrada de novas pessoas no desemprego está a estancar, em contraste com os aumentos na ordem dos 50 por cento registados ao longo de todo o ano passado, quando a crise económica se estendeu ao mercado de trabalho, provocando um aumento dos despedimentos colectivos e do encerramento de empresas.
O próprio Governo admite que tem um grave problema entre mãos. Ontem, o secretário de Estado do Emprego, Valter Lemos, reconheceu que o desemprego de longa duração é a área "mais difícil" de recuperação do mercado de trabalho. "Temos nesse emprego de longa duração pessoas com baixa qualificação, em regra, e com idade já relativamente avançada e por isso, neste momento, essa é a zona de maior dificuldade", disse o governante, acrescentando que "sem haver uma forte criação de emprego é muito difícil recolocar essas pessoas no mercado de trabalho".
Ainda de acordo com os dados fornecidos ao PÚBLICO pelo INE, 74 por cento dos desempregados de longa duração não foram além do ensino básico (no total do desemprego essa proporção é de 73 por cento) e 37 por cento têm mais de 44 anos de idade (no total de desempregados a proporção é de 30 por cento).
Mas embora as estatísticas do INE dêem sinal de que entre o primeiro e o segundo trimestre do ano houve um abrandamento, impulsionado pela redução da população activa e pelo emprego sazonal - em regra o desemprego cai sempre no período de Abril a Junho -, os números continuam a ser preocupantes e dificilmente a taxa de desemprego prevista pelo Governo de 9,8 por cento será cumprida.
É certo que do primeiro para o segundo trimestre houve uma redução de 2,4 mil desempregados, mas na comparação com 2009 o desemprego continuou a subir e mais 82 mil pessoas ficaram sem trabalho, sobretudo mulheres e jovens pouco qualificados. Além disso, aumentaram os inactivos disponíveis e desencorajados, isto é, as pessoas que pretendem trabalhar mas não fizeram qualquer diligência para isso nas três semanas anteriores ao inquérito do INE ou consideram que já não vale a pena procurar. Somando estes aos 590 mil desempregados apurados oficialmente, o número de pessoas sem emprego cresce logo para os 687 mil e a taxa de desemprego para os 12,1 por cento.
Além disso, a economia continua a ter dificuldades em criar novos postos de trabalho, sinal de que os empresários ainda não acreditam na retoma. No segundo trimestre havia menos 85 mil postos de trabalho do que há um ano.
Ainda assim, o secretário de Estado do Emprego, Valter Lemos, considerou que a manutenção da taxa de desemprego nos 10,6 por cento é "uma boa notícia" e não resistiu a declarações de optimismo quanto ao futuro, à semelhança dos seus antecessores. "A nossa expectativa é, se a economia continuar a funcionar de forma positiva, não só mantermos essa situação de estancamento do crescimento [do desemprego], mas de que possamos vir a decrescer o número de desempregados e do desemprego", disse, sem precisar quando é que o Governo espera estancar estes números.
Tanto a oposição como os sindicatos destoaram deste optimismo e acusaram o Governo de errar nas políticas de apoio ao emprego.
.A situação torna-se mais grave numa altura em que o Governo decidiu retirar alguns dos apoios extraordinários dados aos desempregados - como o prolongamento por seis meses do subsídio social de desemprego - e alterar as condições de atribuição dos apoios sociais. No segundo trimestre de 2010, e de acordo com o INE, 326 mil desempregados estavam nessa situação há mais de um ano (e entre estes 54 por cento procuravam trabalho há mais de dois anos). Trata-se de um aumento de 38,7 por cento face ao segundo trimestre de 2009.
Este elevado número de desempregados há mais de um ano representa já 55,3 por cento do total de desempregados, colocando a taxa de desemprego de longa duração no nível mais elevado de sempre: 5,8 por cento.
Pelo contrário, o desemprego de curta duração (há menos de 12 meses) recuou quatro por cento, sinal de que a entrada de novas pessoas no desemprego está a estancar, em contraste com os aumentos na ordem dos 50 por cento registados ao longo de todo o ano passado, quando a crise económica se estendeu ao mercado de trabalho, provocando um aumento dos despedimentos colectivos e do encerramento de empresas.
O próprio Governo admite que tem um grave problema entre mãos. Ontem, o secretário de Estado do Emprego, Valter Lemos, reconheceu que o desemprego de longa duração é a área "mais difícil" de recuperação do mercado de trabalho. "Temos nesse emprego de longa duração pessoas com baixa qualificação, em regra, e com idade já relativamente avançada e por isso, neste momento, essa é a zona de maior dificuldade", disse o governante, acrescentando que "sem haver uma forte criação de emprego é muito difícil recolocar essas pessoas no mercado de trabalho".
Ainda de acordo com os dados fornecidos ao PÚBLICO pelo INE, 74 por cento dos desempregados de longa duração não foram além do ensino básico (no total do desemprego essa proporção é de 73 por cento) e 37 por cento têm mais de 44 anos de idade (no total de desempregados a proporção é de 30 por cento).
Mas embora as estatísticas do INE dêem sinal de que entre o primeiro e o segundo trimestre do ano houve um abrandamento, impulsionado pela redução da população activa e pelo emprego sazonal - em regra o desemprego cai sempre no período de Abril a Junho -, os números continuam a ser preocupantes e dificilmente a taxa de desemprego prevista pelo Governo de 9,8 por cento será cumprida.
É certo que do primeiro para o segundo trimestre houve uma redução de 2,4 mil desempregados, mas na comparação com 2009 o desemprego continuou a subir e mais 82 mil pessoas ficaram sem trabalho, sobretudo mulheres e jovens pouco qualificados. Além disso, aumentaram os inactivos disponíveis e desencorajados, isto é, as pessoas que pretendem trabalhar mas não fizeram qualquer diligência para isso nas três semanas anteriores ao inquérito do INE ou consideram que já não vale a pena procurar. Somando estes aos 590 mil desempregados apurados oficialmente, o número de pessoas sem emprego cresce logo para os 687 mil e a taxa de desemprego para os 12,1 por cento.
Além disso, a economia continua a ter dificuldades em criar novos postos de trabalho, sinal de que os empresários ainda não acreditam na retoma. No segundo trimestre havia menos 85 mil postos de trabalho do que há um ano.
Ainda assim, o secretário de Estado do Emprego, Valter Lemos, considerou que a manutenção da taxa de desemprego nos 10,6 por cento é "uma boa notícia" e não resistiu a declarações de optimismo quanto ao futuro, à semelhança dos seus antecessores. "A nossa expectativa é, se a economia continuar a funcionar de forma positiva, não só mantermos essa situação de estancamento do crescimento [do desemprego], mas de que possamos vir a decrescer o número de desempregados e do desemprego", disse, sem precisar quando é que o Governo espera estancar estes números.
Tanto a oposição como os sindicatos destoaram deste optimismo e acusaram o Governo de errar nas políticas de apoio ao emprego.
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