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Nas eleições de início de junho na Holanda, o “Partido para a liberdade“ do populista de direita Wilders tornou-se a terceira força política no país. Também o partido da direita liberal VVD saiu como vencedor nas votações. O VVD é tanto pelo seu programa, quanto nas suas ações públicas fortemente influenciado pelo populismo de direita. Em conjunto, esse bloco direitista recebeu 36% do total de votos.
Por Bernhard Müller e Bernhard Sande, na revista alemã Sozialismus.
Na verdade, a (re-)ascensão da direita populista na Holanda não é um caso isolado. Em muitos países europeus, tendo como pano de fundo a grande crise e a desorientação dos partidos burgueses e social-democratas, ocorre uma transformação das estruturas políticas tradicionais, uma fragmentação na formação da vontade política pública e um fortalecimento da política de exclusão social influenciada pelo ressentimento.
Isso revela-se não apenas nas mudanças políticas no leste da Europa. Como no caso do dramático deslocamento para a direita ocorrido na Hungria nas últimas eleições parlamentares, nas quais a socialdemocracia, que até então governava, perdeu mais da metade de seus votos e , junto com a esquerda, resvalou para uma posição política marginal. O vencedor foi o partido conservador de direita Fidez - “Aliança dos jovens democratas“ -, que com 52,7% dos votos conseguiu mais de dois terços dos mandatos em disputa. A terceira força política, com 16,7% da votação, é o partido Jobbik - “Comunidade dos jovens justos – Movimento por uma Hungria melhor“ -, com uma plataforma abertamente anti-semita e contra a minoria cigana Rom. Como revelam vários estudos, como quase não há emigração nos países do leste europeu, a agressão conservadora se volta contra as próprias minorias, sobretudo os ciganos, os judeus – especialmente na Hungria, Sérvia e Eslovaquia-, e também os homosexuais.
O Jobbik aproveita-se não apenas das consequências da crise atual, como da massiva privatização de empresas públicas e de parte do sistema de seguridade social, que abriu um vasto campo para a corrupção e a política clientelista. Esses fatores somados geram insegurança em grande parte da população, que tampouco confia na capacidade da elite política em encontrar respostas para os problemas econômicos e sociais em constante agravamento.
Na Itália, os populistas de direita já estão no poder há tempos; na Austria, eles contam com mais de 30% de aprovação nas sondagens realizadas; e na França, após anos de querelas internas, a Frente Nacional passa por uma fase de crescimento.
O caso Holanda
A sociedade holandesa penetra cada vez mais em uma espiral de crise econômica e social, no interior da qual a população não enxerga saída. O grande perdedor das últims eleições foram os democrata-cristãos, que tiveram 13% a menos da votação anterior e quase a metade de seus mandatos. Os socialistas perderam 6,7% de seus votos e 10 dos 25 mandatos que tinham. A direita liberal, VVD, prometeu durante a campanha colocar o orçamento do governo em ordem através da redução de seus gastos – incluindo a diminuição dos servidores públicos, a elevação da idade para aposentadoria de 65 para 67 anos, e cortes nos programas de assistência social. Por outro lado, quer abolir o imposto sobre herança.
Isso revela-se não apenas nas mudanças políticas no leste da Europa. Como no caso do dramático deslocamento para a direita ocorrido na Hungria nas últimas eleições parlamentares, nas quais a socialdemocracia, que até então governava, perdeu mais da metade de seus votos e , junto com a esquerda, resvalou para uma posição política marginal. O vencedor foi o partido conservador de direita Fidez - “Aliança dos jovens democratas“ -, que com 52,7% dos votos conseguiu mais de dois terços dos mandatos em disputa. A terceira força política, com 16,7% da votação, é o partido Jobbik - “Comunidade dos jovens justos – Movimento por uma Hungria melhor“ -, com uma plataforma abertamente anti-semita e contra a minoria cigana Rom. Como revelam vários estudos, como quase não há emigração nos países do leste europeu, a agressão conservadora se volta contra as próprias minorias, sobretudo os ciganos, os judeus – especialmente na Hungria, Sérvia e Eslovaquia-, e também os homosexuais.
O Jobbik aproveita-se não apenas das consequências da crise atual, como da massiva privatização de empresas públicas e de parte do sistema de seguridade social, que abriu um vasto campo para a corrupção e a política clientelista. Esses fatores somados geram insegurança em grande parte da população, que tampouco confia na capacidade da elite política em encontrar respostas para os problemas econômicos e sociais em constante agravamento.
Na Itália, os populistas de direita já estão no poder há tempos; na Austria, eles contam com mais de 30% de aprovação nas sondagens realizadas; e na França, após anos de querelas internas, a Frente Nacional passa por uma fase de crescimento.
O caso Holanda
A sociedade holandesa penetra cada vez mais em uma espiral de crise econômica e social, no interior da qual a população não enxerga saída. O grande perdedor das últims eleições foram os democrata-cristãos, que tiveram 13% a menos da votação anterior e quase a metade de seus mandatos. Os socialistas perderam 6,7% de seus votos e 10 dos 25 mandatos que tinham. A direita liberal, VVD, prometeu durante a campanha colocar o orçamento do governo em ordem através da redução de seus gastos – incluindo a diminuição dos servidores públicos, a elevação da idade para aposentadoria de 65 para 67 anos, e cortes nos programas de assistência social. Por outro lado, quer abolir o imposto sobre herança.
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Já o “partido“ de Wilders tem os clássicos ingredientes do populismo direitista. Trata-se na verdade de um movimento que tem à sua frente um líder carismático, e com um forte componente de autoritarismo dirigido contra os proclamados inimigos – entre eles os emigrantes. Segundo suas próprias palavras: “o islamismo é uma ideologia totalitária, tal como o comunismo e o fascismo. O islã não é uma religião, é uma ideologia; por isso, não pode beneficiar-se da liberdade religiosa.“ O seu “programa“ contra a crise é marcado por um discurso de exclusão social que responsabiliza o Estado sobretudo pelos gastos estatais com os desempregados, os bairros com maioria de emigrantes, o sistema de saúde, etc. E segundo ele, a criminalidade é cada vez mais associada à juventude oriunda de famílias estrangeiras e carentes. Tudo isso indica que, no curso da crise, aproximam-se novas confrontações sociais e políticas relacionadas com a redistribuição de seu ônus.
Bélgica: separatismo
A Bélgica tem uma longa tradição de surrealismo. Mas por trás da disputa entre Flandres e Valonia está a questão sobre como os custos da crise serão repartidos entre essas duas regiões. Já antes do fim do governo anterior, os jornais belgas escreviam: „A nossa sociedade está em perigo“. Entre 2004 e 2007, o crescimento médio do país foi de mais de 2,5% ao ano. Em 2008, atingiu apenas 1%; já em 2009 teve uma redução de 3,1% - coisa que não acontecia desde o final de Segunda Guerra Mundial.
Já o “partido“ de Wilders tem os clássicos ingredientes do populismo direitista. Trata-se na verdade de um movimento que tem à sua frente um líder carismático, e com um forte componente de autoritarismo dirigido contra os proclamados inimigos – entre eles os emigrantes. Segundo suas próprias palavras: “o islamismo é uma ideologia totalitária, tal como o comunismo e o fascismo. O islã não é uma religião, é uma ideologia; por isso, não pode beneficiar-se da liberdade religiosa.“ O seu “programa“ contra a crise é marcado por um discurso de exclusão social que responsabiliza o Estado sobretudo pelos gastos estatais com os desempregados, os bairros com maioria de emigrantes, o sistema de saúde, etc. E segundo ele, a criminalidade é cada vez mais associada à juventude oriunda de famílias estrangeiras e carentes. Tudo isso indica que, no curso da crise, aproximam-se novas confrontações sociais e políticas relacionadas com a redistribuição de seu ônus.
Bélgica: separatismo
A Bélgica tem uma longa tradição de surrealismo. Mas por trás da disputa entre Flandres e Valonia está a questão sobre como os custos da crise serão repartidos entre essas duas regiões. Já antes do fim do governo anterior, os jornais belgas escreviam: „A nossa sociedade está em perigo“. Entre 2004 e 2007, o crescimento médio do país foi de mais de 2,5% ao ano. Em 2008, atingiu apenas 1%; já em 2009 teve uma redução de 3,1% - coisa que não acontecia desde o final de Segunda Guerra Mundial.
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Apenas com a ajuda aos bancos, o governo gastou 15 bilhões de euros. A isso, somam-se os gastos com um sistema de assistência social já enfraquecido. O número de desempregados cresce: em Flandres, em dezembro de 2009, aumentou em quase 24%; e em janeiro, mais 15%. Em fevereiro de 2010, o total de desempregados era 12% maior que no mesmo período do ano anterior.
Apenas com a ajuda aos bancos, o governo gastou 15 bilhões de euros. A isso, somam-se os gastos com um sistema de assistência social já enfraquecido. O número de desempregados cresce: em Flandres, em dezembro de 2009, aumentou em quase 24%; e em janeiro, mais 15%. Em fevereiro de 2010, o total de desempregados era 12% maior que no mesmo período do ano anterior.
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Mesmo sendo o voto obrigatório na Bélgica, o percentual de não votantes subiu em 2% nas últimas eleições, e o número de votos inválidos em 5,8%.. Com a erosão da base de apoio da democracia-cristã, uma nova organização da direita populista entrou em cena, a NVA - “Nova Aliança pela Valonia“ - que obteve 17,4% dos votos nas recentes eleições parlamentares. Mas a direita como um todo obteve cerca de 28% dos votos em todo o país; e em Flandres quase a sua metade. Enquanto a direita cresce, a esquerda práticamente não desempenha papel algum: uma aliança de seis pequenas organizações – “Front de gauche“ – obteve 0,2% dos votos; o Partido Operário Belga, 0,3%
O que fazer ?
Hungria, Holanda e Bélgia são casos exemplares de tendências atuais em movimento no cenário político europeu. Tendo como pano de fundo a insatisfação com as consequências da crise econômica e financeira, e a falta de propostas consistentes dos partidos burgueses e social-democratas, surgem movimentos de direita com seus líderes carismáticos e com estratégias de salvação que prometem uma saída via uma política racista de exclusão social, encontrando respaldo em setores da sociedade inseguros quanto ao futuro.
Mesmo sendo o voto obrigatório na Bélgica, o percentual de não votantes subiu em 2% nas últimas eleições, e o número de votos inválidos em 5,8%.. Com a erosão da base de apoio da democracia-cristã, uma nova organização da direita populista entrou em cena, a NVA - “Nova Aliança pela Valonia“ - que obteve 17,4% dos votos nas recentes eleições parlamentares. Mas a direita como um todo obteve cerca de 28% dos votos em todo o país; e em Flandres quase a sua metade. Enquanto a direita cresce, a esquerda práticamente não desempenha papel algum: uma aliança de seis pequenas organizações – “Front de gauche“ – obteve 0,2% dos votos; o Partido Operário Belga, 0,3%
O que fazer ?
Hungria, Holanda e Bélgia são casos exemplares de tendências atuais em movimento no cenário político europeu. Tendo como pano de fundo a insatisfação com as consequências da crise econômica e financeira, e a falta de propostas consistentes dos partidos burgueses e social-democratas, surgem movimentos de direita com seus líderes carismáticos e com estratégias de salvação que prometem uma saída via uma política racista de exclusão social, encontrando respaldo em setores da sociedade inseguros quanto ao futuro.
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Até agora, a esquerda não conseguiu ainda apresentar claramente as suas alternativas para se contrapor a essas perigosas tendências. Em muitos países, ela se encontra marginalizada ou dividida. Por isso, o desafio para a esqueda européia é o de testar e precisar as suas propostas e as suas estratégias políticas.
Tradução do alemão de Luciano C. Martorano
.Até agora, a esquerda não conseguiu ainda apresentar claramente as suas alternativas para se contrapor a essas perigosas tendências. Em muitos países, ela se encontra marginalizada ou dividida. Por isso, o desafio para a esqueda européia é o de testar e precisar as suas propostas e as suas estratégias políticas.
Tradução do alemão de Luciano C. Martorano
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