Economia
As multinacionais que controlam a indústria automobilística no Brasil têm razões de sobra para festejar a recuperação e o crescimento da economia nacional, do qual o ramo é um dos maiores beneficiários. As estatísticas indicam a expansão da produção, da venda e dos lucros, em boa medida remetidos às suas matrizes no exterior. Apesar dos bons resultados, as empresas relutam em realizar novas contratações.
Consumo em alta aumenta o lucro das multinacionais e o caos no transporte urbano |
Exportações crescem 78,4%
As 315.879 unidades fabricadas em julho representam incremento de 3,2% em relação ao mês anterior. O número é 12% maior do que o registrado em julho do ano passado. As exportações também cresceram consideravelmente: 78,4% no acumulado do ano (422.227 unidades). Em julho, as vendas para o mercado externo (64.864) tiveram aumento de 2% na comparação com o mês passado e expansão de 80,5% em relação a julho de 2009.
As vendas apresentaram expansão anual de 5,9% em julho, batendo o recorde para o mês com o emplacamento de 302,3 mil unidades. Em relação a junho, a alta foi de 15,1%. As montadoras registraram uma nova marca também no acumulado de janeiro a julho (1,88 milhão de veículos), com acréscimo de 8,5% sobre igual período em 2009.
Exploração em alta
Apesar de registrar ligeira elevação, o nível de emprego não acompanhou o ritmo da expansão da produção, vendas e lucros. O total de empregados nas montadoras somou ao final do mês passado 114.507 trabalhadores (as), com abertura de 650 novos postos de trabalho em relação a junho (113.857).
Levando em conta também os funcionários em fabricantes de máquinas agrícolas, a indústria empregava 132.165 pessoas - acima dos 130.968 funcionários registrados em junho e ultrapassando também o patamar contabilizado em outubro de 2008 (131.717), quando a crise mundial começou a afetar a economia nacional.
A modesta evolução das contratações indica que a expansão da produção está se dando através do aumento do grau de exploração dos operários, com a intensificação das horas extras e do ritmo de trabalho. O presidente da Anfavea, Cledorvino Beline, disse nesta quinta (5) que as empresas pretendem reduzir ainda mais o ritmo de contratações.
Contradição
Assim, os que produzem e promovem os lucros das multinacionais são os que menos se beneficiam dos seus resultados, o que traduz a contradição entre o caráter social da produção e a apropriação privada dos lucros, característica do modo de produção capitalista que está na raiz das crises do sistema, conforme observou o filósofo alemão Karl Marx.
A indústria automobilística foi o ramo da indústria mais afetado pela crise exportada pelos EUA, que por aqui aportou no final de 2008. A primeira providência das multinacionais foi demitir, conceder férias coletivas e impor retrocessos nas relações trabalhistas como flexibilização da jornada (banco de horas), redução de salários e parcelamento do 13º, entre outras coisas.
Interesses distintos
Embora alegando dificuldades para justificar as demissões e outras medidas contra seus funcionários, as empresas ampliaram as remessas de lucro ao exterior para socorrer matrizes em crise. Somente entre janeiro a setembro de 2009, as montadoras enviaram 4,8 bilhões de dólares aos seus países de origem, a título de lucros e dividendos, contra US$ 1,7 bilhão no mesmo período de 2008, configurando um aumento formidável, de 284%. O valor é mais de duas vezes superior ao dos recursos públicos liberados pelo governo federal para financiar a aquisição de automóveis (4 bilhões de reais). São recursos subtraídos da poupança nacional que reduzem a taxa de investimentos e a potencialidade de crescimento do país.
A expansão das vendas e da produção de automóveis é um bom sinal para a economia brasileira, mas é também um excelente negócio para as multinacionais, cujos interesses nem sempre estão em sintonia com os do povo e da nação. Os impactos ambientais e a sustentabilidade do avanço do consumo neste ramo, num contexto de crescente caos no transporte urbano, são questões que suscitam novas preocupações e dúvidas.
Da redação, Umberto Martins, com agências
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