A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

sábado, agosto 14, 2010

Crise, luta e esperança - Miguel Urbano Rodrigues

  • Miguel Urbano Rodrigues

Crise, luta e esperança
O fim da actual crise de civilização é imprevisível. Inevitável, conduzirá ao desmoronar do capitalismo ou a uma era de barbárie. Prever datas para o desfecho seria, porém, um exercício de futurologia. Mas uma certeza se esboça já no horizonte: a derrota espera o imperialismo nas guerras criminosas que os EUA desencadearam para manter e ampliar o sistema de dominação mundial do capital.
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OS EUA estão atolados em guerras perdidas no Afeganistão e no Iraque e a sua aliança com o Estado neofascista de Israel é um factor de tensão permanente no Médio Oriente. As estratégias agressivas que desenvolvem na América Latina, na África e na Ásia Oriental são também incompatíveis com as aspirações dos povos ameaçados, contribuindo para o subir da maré anti-americana 
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Nesta fase, iniciada com as agressões no Médio Oriente e Ásia Central, o imperialismo estado-unidense encontrou situações históricas muito diferentes da que precedeu o seu envolvimento no Vietname e a humilhante derrota que ali sofreu. Nos EUA somente uma minoria percebeu que a guerra estava perdida quando Giap desfechou a ofensiva do Tet. A resposta de Johnson e Kissinger, cedendo aos generais do Pentágono, foi a ampliação da escalada. A agressão alastrou para o Laos e Washington enviou mais tropas para a fornalha vietnamita, semeando a morte a devastação no Sudeste Asiático.
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Transcorreram anos até à retirada dos EUA. Os povos foram lentos a compreender que o desfecho da trágica agressão ao Vietname era o prólogo de uma crise que significou a perda da hegemonia que Washington exercia sobre a economia do Ocidente desde o final da II Guerra. Nada foi igual desde então.
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Mas o establishment norte-americano não extraiu as lições implícitas no fracasso das guerras da Coreia e do Vietname. A estratégia foi reformulada, mas a ambição imperial permaneceu, assumindo novas formas. 
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O cenário das agressões adquiriu proporções planetárias a partir do desaparecimento da União Soviética. A primeira guerra do Golfo foi decidida no final da presidência de George Bush pai perante a passividade da URSS, prestes a desintegrar-se. Washington proclamou então que a humanidade havia entrado numa era de paz permanente, sob a égide dos EUA, garantes da Nova Ordem Mundial. Um obscuro epígono do capitalismo, Francis Fukuyama, saudou a morte do comunismo e anunciou o «Fim da História», apontando o neoliberalismo como a ideologia para a eternidade.
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O desmentido aos profetas imperiais não tardou.
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Quando as torres do World Trade Center desabaram, o mundo entrou numa fase de turbulências anunciatórias de uma profunda crise de civilização. Após o 11 de Setembro de 2001, Bush filho, alegando necessidade de uma «cruzada contra o terrorismo», e afirmando que Deus estava com os EUA, invadiu o Afeganistão, semeando a morte a destruição naquele remoto Pais da Ásia Central.
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Depois chegou a segunda guerra iraquiana, iniciada à revelia do Conselho de Segurança das Nações Unidas. A terra milenária da Mesopotâmia foi ocupada, os seus museus saqueados, o seu petróleo e gás entregues às petrolíferas dos EUA, dezenas de milhares de iraquianos chacinados.
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Autoproclamando-se nação predestinada, com vocação para redimir a humanidade dos seus pecados, os EUA, sob a batuta da extrema-direita republicana, passaram a actuar como um Estado terrorista, disseminando o terrorismo pelo planeta.
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Essa trágica situação somente foi possível pela cumplicidade da União Europeia, do Japão e do Canadá, estados ditos civilizados. Com o seu aval ao establishment bushiano abriram as portas à barbárie. 
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A eleição de um negro para a Presidência dos EUA gerou a ilusão de que o pesadelo iria findar. Mas Barack Obama, que chegou à Casa Branca com o apoio entusiástico do grande capital, mudou o discurso, mas manteve a politica imperialista. Pior, agravou-a. 

O  pântano afegão

Admiradores do presidente norte-americano afirmam que ele é um humanista, vítima de uma engrenagem que o instrumentaliza. Mas a defesa que dele fazem não convence.
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O Prémio Nobel da Paz tomou decisões que contribuíram para aprofundar a crise mundial. No plano interno a sua política tem sido, no fundamental, de capitulação perante as exigências do grande capital. Significativamente, o seu secretário do Tesouro, Geithner é um político que goza da confiança total de Wall Street. 
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No terreno internacional, o presidente aumentou muito o orçamento do Pentágono, pediu ao Congresso verbas colossais para as guerras asiáticas, enviou mais 30 000 militares para o Afeganistão, e faz da vitória nessa guerra uma prioridade da sua política exterior. 
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Entretanto, acumula derrotas no teatro afegão. A ofensiva no Helmand foi um fracasso; a de Kandahar foi sucessivamente adiada.
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A divulgação dos documentos secretos oferecidos pela WikiLeaks ao NY Times, ao Guardian e ao Der Spiegel instalou o pânico na Casa Branca, e o inquérito do Pentágono sobre a fuga de informações classificadas abalou fortemente a confiança dos americanos no sistema de segurança do Departamento de Defesa.
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Em declarações recentes, Julian Assange, o australiano que criou o WikiLeaks, revelou que crimes cometidos pelo exército dos EUA excedem em horror os massacres do Vietname. A chamada Força Tarefa Conjunta 373 tem por missão abater secretamente chefes talibãs e elementos suspeitos de pertencer à Al Qaeda.
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Grupos de matadores especiais intitulados Kia são responsáveis pelo assassínio de centenas de civis em ataques cujas vítimas são designadas nos relatórios como «mortos em acções».
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O rol dos crimes das tropas de ocupação da NATO também ocuparia muitas páginas. A chacina de Kunduz, da responsabilidade do contingente alemão, abalou o governo da chanceler Merkel, mas foi apenas uma das muitas matanças de civis cometidas pelas tropas de ocupação.
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Julian Assange cita como exemplo das atrocidades dos aliados o bombardeamento de uma aldeia por uma força polaca. Dezenas de pessoas ali reunidas para festejar um casamento morreram num acto de retaliação concebido com crueldade.
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Rotineiramente, o alto comando norte-americano promove inquéritos nesses casos para «apurar responsabilidades». Mas ninguém é punido.
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Hamid Karzai, o presidente fantoche, protesta e pede providências, mas a indignação é simulada.
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Milhares de civis nas aldeias da fronteira paquistanesa foram mortos pelos bombardeamentos realizados pelos drones - os aviões sem piloto. O actual comandante Supremo, o general Petraeus, define essas «missões» assassinas como indispensáveis ao êxito da nova estratégia de luta «contra o terrorismo». 

Farsa dramática

Hillary Clinton, o vice-presidente Joe Binden e
Robert Gates o secretário da Defesa, têm visitado frequentemente o Afeganistão. A encenação pouco varia. Deslocam-se para levantar o moral das tropas, dizer lhes que estão a lutar pela pátria, pela liberdade e a democracia contra o terrorismo, que a luta exige grandes sacrifícios, mas que a vitória na guerra afegã é uma certeza.
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Todos aproveitam para pedir ao presidente Karzai que «governe democraticamente», afaste colaboradores que não merecem a confiança dos EUA, e ponha termo à corrupção implantada no país.
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Karzai faz promessas, reune assembleias tribais que lhe aprovam a política e repete que é fundamental negociar com os «talibãs recuperáveis». É ele, chefe da mafia, o primeiro responsável pelo sumiço de milhares de milhões de dólares doados em conferências internacionais para o desenvolvimento e reconstrução do país, destruído pela invasão americana. A realidade não alterou o método. Em Kabul, a última dessas conferências acaba de aprovar mais uns milhares de milhões para «ajudar» o Afeganistão. 
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Entretanto, a produção de ópio, insignificante à data da invasão, aumentou 90% na última década. É do domínio público que familiares do presidente mantêm íntimas ligações com o negócio da droga.
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Nas suas periódicas visitas ao Paquistão, Hillary Clinton admoesta o presidente Asif Zardari pela insuficiência do esforço de guerra nas áreas tribais do Waziristão na fronteira do Afeganistão. Joe Binden repete-lhe o discurso. Ambos insinuam cumplicidade do Exército com as chefias talibãs.
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O primeiro-ministro britânico Cameron ao visitar o país foi tão longe nas suas críticas que o governo de Islamabad cancelou uma visita a Londres do chefe dos serviços de inteligência paquistaneses convidado pelo Intelligence Service.
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Crónicas de correspondentes europeus em Kabul e declarações de soldados dos EUA regressados da guerra afegã esclarecem que a moral das tropas de combate caiu para um nível muito baixo. 
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A demissão do general Stanley McChrystal, que criticara numa entrevista o presidente Obama, contribuiu para acentuar o mal-estar no Alto Comando. O general tem um currículo de criminoso, mas as suas opiniões sobre a condução da guerra são partilhadas por muitos oficiais. 
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Assim vão as coisas na guerra podre do Afeganistão.
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No Iraque, a «pacificação» é um mito como demonstra o aumento de mortos em atentados bombistas em Bagdad e na região Norte, controlada pelos kurdos. O discurso de Obama aos veteranos deficientes, no dia 1 de Agosto, sobre a retirada das tropas foi um exercício de hipocrisia, semeado de mentiras e estatísticas falsas.
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Na Palestina, Israel continua a bloquear Gaza, bombardeada com frequência, e amplia a construção de casas na Jerusalém árabe e em colonatos na Cisjordânia
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O Irão é atingido por novas sanções, aprovadas pelo Conselho de Segurança, e a CIA promove atentados terroristas no Kuzistão, fronteiro do Iraque, e na província baluche, vizinha do Paquistão.
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Na América Latina, Uribe, nas vésperas de ceder a presidência a Juan Manuel Santos, seu filhote político, criou uma crise com a Venezuela bolivariana ao forjar acusações sobre a presença das FARC em território daquele país. Os EUA, que vão instalar 7 novas bases militares na Colômbia, aprovaram imediatamente a provocação.

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Neste contexto de escalada militar em múltiplas frentes, a crise interna prossegue. O magro crescimento do PIB esconde a realidade.
 
O número de casas vendidas é o mais baixo dos últimos anos. Milhares de empresas fecham todos os meses. Em cidades outrora famosas pela riqueza, como Detroit e Pittsburg, bairros inteiros estão hoje desabitados. O desemprego alastra. Nas universidades aumenta o ensino elitista. A tão elogiada reforma dos «cuidados de saúde» dificultou mais o acesso de milhões de imigrantes ilegais aos hospitais (v. Fred Goldstein, odiario.info, 22.04.2010).
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A Finança, essa prospera. Os gestores dos grandes bancos continuam a receber reformas e prémios fabulosos. Um desses gigantes, a Wells Fargo, acumulou lucros de milhares de milhões de dólares com a lavagem do dinheiro da droga (v. Cadima, Avante!, 29.07.2010).
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O controlo hegemónico do sistema mediático pelo grande capital impede, porem, a humanidade de tomar consciência da profundidade da crise. Nos EUA, pólo do sistema, o discurso do Presidente transmite um panorama optimista da situação, anunciando melhores tempos e vitórias imaginárias.
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Somente uma minoria de cidadãos, nos EUA, na Europa, e nos demais continentes estão em condições de descodificar o discurso da mentira irradiado pelo grande capital.
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Para as forças progressistas ajudar os povos a compreender a complexidade e a extrema gravidade da crise do sistema é, por isso mesmo, uma tarefa revolucionária. Porque essa compreensão é fundamental para o incremento e dinamização da luta dos trabalhadores em cada país contra o projecto de dominação imposto pelo sistema que ameaça mergulhar a humanidade na barbárie. 
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Avante 2010 08 12
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