A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

sábado, junho 27, 2009

Negócios muito católicos?

Negócio entre compadres...
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O governo de Sócrates reconheceu, pela primeira vez, existir uma parceria na área da Segurança Social, entre o Estado laico e a Igreja Católica. Este longo namoro entre «oficiais do mesmo ofício» era de há muito evidente. A novidade consiste em ser agora oficialmente reconhecida a sua existência.
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As linhas gerais deste «acordo entre compadres», anunciadas pelo próprio ministro da Segurança Social, Vieira da Silva, são esclarecedoras e referem-se ao sector, vago e muito extenso, dos serviços à família e da protecção no desemprego. É previsível que noutras áreas da governação o mesmo venha a acontecer, nomeadamente na Saúde, no Ensino e na Justiça. Entretanto, o Governo procura conservar a mascarilha do optimismo e do bom sucesso mas na realidade está apavorado com a possibilidade de uma explosão social. Há mais de 600 mil desempregados, digam as estatísticas oficiais o que disserem, e esse número vai crescer muito mais. A Segurança Social está burocratizada, separada da realidade, e todas as medidas que anuncia para o combate à pobreza e ao desemprego não passam do papel. Sócrates é palavroso e nada mais.
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Mas vêm aí as eleições e é preciso procurar fazer alguma coisa, mesmo que nada se faça. Por isso, Vieira da Silva declarou publicamente e com desfaçatez que os desempregados irão trabalhar nas IPSS, Misericórdias, creches e lares para idosos, residências para deficientes e centros de dia e acolhimento. Serão instadas mais 400 novas unidades de equipamentos sociais. Criar-se-ão 9600 postos de trabalho. «O sistema é de parceria: o Estado comparticipa no financiamento e no funcionamento da rede»... e a Igreja capitaliza os subsídios e é ela quem mais ordena na nova ordem social. Quanto a Sócrates, deu-se o grande milagre da conversão. Da noite para o dia, o seu discurso político passou da arrogância à humildade cristã baseada nos «valores».
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Um passo mais e o Poder está no papo ...
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Entre a promessa e a concretização metem-se as legislativas e este Governo será demitido. O tempo passa e promessas leva-as o vento. Normalmente é isto que acontece. Mas neste caso, tudo indica que não será assim. A Igreja tem a noção exacta da sua força política. Conquistou agora novas posições que não abandonará voluntariamente. Domina o Poder. Ocupou um grande espaço que lhe poderá permitir aumentar a influência junto de camadas importantes da população. Perante um governo sem «rei nem roque» é a Igreja que reivindica e obtém o que muito bem quer.
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Tente Sócrates traí-la e verá o que lhe acontece.
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As IPSS declaram não ter verbas para o combate à pobreza e logo elas aparecem. As Misericórdias dizem que o SNS rouba doentes aos seus hospitais e imediatamente as suas camas são ocupadas e o Estado paga à Igreja essa ocupação.. As IPSS reclamam mais benefícios fiscais e logo o governo desce três pontos na taxa que elas pagam à Segurança Social. Imagine-se a quanto não corresponderá a quebra das receitas fiscais para o Estado, se soubermos que as instituições sociais católicas são para cima de 2600! A própria Opus Dei diz que não tem dinheiro e precisa que o Estado a ajude... Pode a Igreja ficar descansada. O Estado dará resposta positiva a todos os seus queixumes!
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Entretanto, reuniram-se em Fátima os bispos da Conferência Episcopal. Reclamaram a regulamentação, até finais do Verão, do articulado da Nova Concordata. Exigiram mais poderes para a Igreja na assistência espiritual às forças militares e militarizadas, na educação moral e religiosa, nos privilégios fiscais, nos trabalhos nas prisões e nos hospitais públicos, nos encargos com a manutenção dos edifícios religiosos, na intervenção canónica nos divórcios, etc., etc. Globalmente, estas exigências representam um importante caderno reivindicativo. Mas há mais.
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Na área da Saúde, também as notícias que chegam são de completo entendimento entre a Igreja e um Estado irreconhecível como tal. As misericórdias vão ter o monopólio da rede de cuidados continuados, vai ser-lhes pago o serviço de apoio domiciliário, vão assumir a responsabilidade (e o proveito) da liquidação da escandalosa lista de espera para as cirurgias às cataratas e nas doenças oncológicas, vão ter mais verbas orçamentais para os lares da Igreja... e não se vê um fim a este caudal de cedências. Todo o poder ao Patriarcado!
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É preciso resistir.
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in Avante 2009.06.25
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