Zeinal Bava dava emprego a José Eduardo Moniz e satisfazia o desejo de Sócrates de o afastar da TVI
Depois de despedido
Moniz ia sair da TVI para a PT
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O director-geral da TVI é um dos funcionários mais bem pagos do grupo Media Capital/Prisa. Crise financeira e linha editorial da estação incomodam espanhóis
Correio da Manhã - 25 Junho 2009 - 02h11
Polémica: Negócio entre Prisa e PT suscita críticas
Saída de Moniz custa mais de 3 milhões
* Isabel Faria / M.A.G. / M.B. / J.F. / A.P.D.
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A concretizar-se o negócio entre a Portugal Telecom (PT) e o grupo espanhol Prisa, para a venda de uma participação minoritária na MC, a empresa portuguesa sofrerá uma remodelação, que implica reduzir custos e mudanças editoriais e tecnológicas.
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Por a área de televisão ser a mais rentável da MC, José Eduardo Moniz, de 56 anos, é um dos funcionários mais bem pagos do grupo, com um salário anual de 1,5 milhões de euros. A este valor acresciam prémios de desempenho, entretanto cortados devido à crise financeira, e despesas para imagem.
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Hoje, na reunião de conselho da MC, onde vai estar presente o conselheiro delegado da Prisa, Juan Luis Cebrián, o negócio de alienação de capital vai estar em cima da mesa. Tal como a saída ou não de Moniz, que, na semana passada, adiou a decisão sobre a candidatura à presidência do Benfica.
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Mas a grande tensão surge pelo facto de o governo português ter uma ‘golden share’ na PT, que lhe dá direito a pronunciar-se sobre os negócios estratégicos da operadora. O que, por sua vez, colide com a actual linha editorial da TVI, que exibiu várias peças sobre o caso Freeport, o qual implica o primeiro-ministro José Sócrates num alegado caso de favorecimento.
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Durante o dia de ontem, o director-geral da TVI não falou sobre as conversações entre a MC e a PT, mas o ambiente na estação era tenso. Aos rumores da saída de Moniz, acresciam os que davam conta de uma ‘limpeza’ na redacção. Contactada pelo CM, Manuela Moura Guedes assegurou: 'Vou continuar a apresentar o ‘Jornal Nacional de 6ª’ e, antes de ir de férias, faço questão de anunciar o meu regresso para Setembro.'
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Sobre as relações entre o presidente executivo da PT, Zeinal Bava, e José Eduardo Moniz, foi dito serem 'as melhores'.
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MAIS DADOS
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ONZE ANOS DE TVI
José Eduardo Moniz entrou para os quadros da TVI em 1998, onde se mantém como director-geral. Passou pelas administrações de Belmiro de Azevedo, de Miguel Pais do Amaral e da actual Prisa.
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CONFLITOS
Ao adquirir a MC, Pais do Amaral mostrou vontade de rescindir com Moniz. Este ficou e a TVI tornou-se líder de audiências e rentável. As relações azedaram quando Pais do Amaral afastou Marcelo Rebelo de Sousa na ausência de Moniz.
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ESPANHÓIS
Quando o grupo Prisa, próximo do PSOE, entrou na TVI, Moura Guedes saiu dos ecrãs. Voltou com ‘Jornal Nacional de 6.ª’.
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DIFICULDADES FINANCEIRAS OBRIGAM A VENDA DE ACTIVOS
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As dificuldades financeiras e a dívida de cinco mil milhões têm vindo a obrigar a Prisa, dona da Media Capital (MC), a alienar alguns activos, como a editora Santillana. A necessidade de vender 30% da MC foi conhecida em 2007, quando a Prisa passou a deter a maioria do capital da MC. Na altura, o então administrador-delegado, Manuel Polanco, disse: 'Estamos a equacionar dispersar 20% a 30% de capital e queríamos que o parceiro fosse português.'
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A MC é o activo mais rentável da Prisa e só no primeiro trimestre de 2009 apresentou um crescimento de 12% face ao ano anterior, com resultados de 58,6 milhões de euros. A maior fatia vem da TVI, com receitas de 33 milhões de euros.
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140 MILHÕES EM INVESTIMENTO PUBLICITÁRIO
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A Portugal Telecom (PT) é um dos três maiores investidores publicitários em televisão com um orçamento de 140 milhões de euros (a preços de tabela e incluindo os canais por cabo). A distribuição deste ‘bolo’ publicitário será significativamente alterada se a PT concretizar o negócio com a Media Capital.
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Segundo apurou o CM, um dos canais mais prejudicados por esta reafectação publicitária será a SIC liderada por Pinto Balsemão. O canal de Carnaxide e a PT têm um conflito antigo em relação ao preço praticado pelo fornecimento dos conteúdos que passam na plataforma MEO.
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REACÇÕES
'GOVERNO NÃO TEM PODER DE DECISÃO DA PT' (Arons de Carvalho, PS)
'Isto prova que era necessária uma lei da não-concentração. E é abusivo pensar que o Governo teve intervenção no negócio. O Governo não tem poder de decisão na PT.'
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'MAIS UM NEGÓCIO ESTRAMBÓLICO' (Francisco Louçã, BE)
'Aqui está um exemplo de um negócio estrambólico. A PT vai pagar 150 milhões de euros por uma coisa que vale apenas 84 milhões.'
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'ESTAMOS PERANTE UM CASO DE CONCENTRAÇÃO' (Bruno Dias, PCP)
'Estamos perante mais um caso de concentração dos media. A vida já nos mostrou que este tipo de fenómenos não traz bons resultados.'
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'INFLUÊNCIA DO ESTADO NA COMUNICAÇÃO' (Diogo Feyo, CDS-PP)
'A nossa preocupação é com a questão da liberdade de imprensa, da influência do Estado em pleno século XXI em relação à comunicação social.'
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'ESTADO NÃO SE METE NISSO'
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O primeiro-ministro assegurou ontem desconhecer o negócio entre a Portugal Telecom (PT) e a Media Capital (MC). 'Nada sei disso, são negócios privados e o Estado não se mete nesses negócios. Não estou sequer informado disso', afirmou José Sócrates, no final do debate quinzenal, no qual foi confrontado pelo CDS-PP com a proposta de compra de 30% da MC pela PT, na qual o Governo tem uma golden share de 500 acções.
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Ontem, corriam rumores de que Henrique Granadeiro e José Sócrates reuniram durante a manhã. Confrontado pelo CM, o presidente da PT negou: 'Não falei com José Sócrates nem estive com ele'.
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O ministro dos Assuntos Parlamentares, Augusto Santos Silva, por seu turno, remeteu considerações sobre o negócio entre a PT e a Media Capital para os reguladores. A Autoridade da Concorrência e a Entidade Reguladora para a Comunicação (ERC) são os dois organismos que terão de dar um parecer sobre se a aquisição põe em causa o pluralismo e não-concentração. Caso o parecer seja negativo, não há negócio. O CM sabe que, a concretizar-se o negócio, a ERC decidirá favoravelmente.
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Santos Silva sublinhou ainda que a sua opinião é a que está no 'regulamento sobre a não-concentração, que foi aprovado pelo Parlamento e vetado pelo Presidente da República'.
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LÍDER DO PSD 'PREOCUPADA'
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Manuela Ferreira Leite manifestou-se ontem 'altamente preocupada' com o eventual negócio entre a PT e a Prisa para a venda de uma participação minoritária na Media Capital, que detém a TVI. Em entrevista à SIC, a líder do PSD afirmou que não acredita que o primeiro-ministro, José Sócrates, desconhecesse este negócio, tendo rotulado de 'escandalosa' a possibilidade de o director-geral da TVI, José Eduardo Moniz, vir a ser substituído.
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FRASES
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'A PT vai ter um negócio em que pretende comprar parte da TVI, será que isso vai alterar a linha editorial da TVI? Ou acha que se deve manter tal como está, não tirem de lá ninguém?'
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'A Portugal Telecom é uma empresa com autonomia, que pode e deve desenvolver os seus negócios com total autonomia. O Governo nada sabe.'
José Sócrates
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'Como cidadã estou muito preocupada com o negócio entre a PT e a TVI. É gato escondido com o corpo todo de fora.'
Manuela Ferreira Leite
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