Idosos: Abusos estão "no armário" e precisam fazer o mesmo caminho da violência contra mulheres - especialistas
Lisboa, 15 Jun (Lusa) - A violência contra idosos está ainda "no armário" na sociedade portuguesa e precisa de fazer o mesmo caminho de divulgação que aconteceu com a violência doméstica contra as mulheres, apontaram hoje vários especialistas num seminário em Lisboa.
Lisboa, 15 Jun (Lusa) - A violência contra idosos está ainda "no armário" na sociedade portuguesa e precisa de fazer o mesmo caminho de divulgação que aconteceu com a violência doméstica contra as mulheres, apontaram hoje vários especialistas num seminário em Lisboa.
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No Dia Internacional de Sensibilização sobre a Prevenção da Violência contra as Pessoas Idosas, técnicos de assistência social e profissionais de saúde concordaram no diagnóstico da falta de visibilidade do problema, que impede que sejam feitas mais queixas, aliada a factores como a vergonha ou a falta de conhecimento das vítimas.
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Outra das conclusões indicada como alarmante é o facto de os abusos e a violência - física, mental ou financeira - serem praticados por familiares, o que contraria a ideia da instituição familiar como reduto de afecto e carinho para com os idosos.
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A jurista Paula Guimarães, coordenadora de um grupo de trabalho constituído pela Direcção-Geral de Saúde, disse à Agência Lusa que está em preparação uma campanha para "democratizar o acesso à informação e fazer um alerta à sociedade" para as formas de violência contra idosos.
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A apropriação de dinheiro e a colocação sem consentimento em lares - que configura muitas vezes um crime de sequestro - são algumas das formas de violência que "não são qualificadas como tal" na sociedade portuguesa, referiu.
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Paula Guimarães, que indicou a violência sobre idosos como "problema de saúde público", referiu que se conhece apenas a "ponta do icebergue", sem números fiáveis quanto à ocorrência de casos de abuso.
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Pela Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, José Félix afirmou que no caso da violência doméstica sobre as mulheres foram precisos "dez anos de alertas" para que o fenómeno seja hoje reconhecido e combatido.
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No caso da violência contra idosos, será preciso o mesmo investimento na "reconfiguração do enquadramento cultural" que ponha em destaque "a dignidade, o poder e o papel" dos idosos, para que deixem de ser vistos como "empecilhos".
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José Ferreira Alves, psicólogo da Universidade do Minho, indicou alguns "sinais vermelhos" na identificação de situações.
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No caso das vítimas verificam-se tendências suicidas, recorrência de ferimentos "acidentais", sintomas depressivos, queixas vagas e alterações de comportamento, enquanto no caso dos agressores há uma atenção "exagerada" dada à vítima, controlo das suas actividades ou presença constante, precisou José Ferreira Alves.
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Quanto ao perfil do abusador, Maria Vacas, da APAV, referiu que é comum ter um "historial de consumo de álcool ou drogas", apontando também circunstâncias que podem levar alguém que está no papel de "cuidador" de um idoso a tornar-se abusivo: o stresse de ter que lhe dedicar tempo, com prejuízo da sua vida pessoal, ou a necessidade de tarefas repetitivas.
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Fora do circuito da assistência social, da psicologia ou da saúde, a jornalista Ana Catarina Santos, autora de uma reportagem radiofónica premiada pela Assistência Médica Internacional (AMI), destacou a necessidade de os técnicos se "abrirem para o exterior" como forma de o problema se tornar mais visível, o que muitas vezes não acontece em nome da protecção da "privacidade" ou por "desconfiança" em relação ao jornalista e receio de que a comunicação social "vampirize" as situações.
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APN
Lusa/fim
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in Expresso -
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