A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

quinta-feira, maio 10, 2007

A gestão do caos

* Jorge Messias


Não faltam pontos de partida para se chegar à conclusão de que o sistema capitalista mundial vacila à beira do caos. Se a humanidade nunca conheceu tantas e tão grandes fortunas, também a riqueza cresce de forma cada vez mais desigual. Aumenta o fosso entre os países mais ricos e os mais pobres. A nível dos estados, no seu interior, há bolsas de riqueza, bolsas de pobreza e bolsas de miséria. Diz-se que Portugal tem dois milhões de pobres. Mas nem se pode sequer calcular por quantos casos de miséria o capitalismo é responsável em toda a terra. Portugal detém o nada invejável primeiro lugar da tabela classificativa mundial dos desequilíbrios entre pobreza e riqueza, entre a justa e a injusta distribuição de bens. Mas num só ano, em 2006, os lucros dos 5 maiores bancos portugueses cresceram 506 milhões em relação ao ano anterior. Na Europa, no mesmo período, os 15 maiores grupos bancários tinham declarado lucros de 100 mil milhões de euros!
Para combater a fome, a doença e o desemprego, não há dinheiro. Mas no Iraque, entre chacinas sem fim, gastam-se 2,5 triliões de dólares em armas e a guerra custa à volta de 6 mil milhões por mês. No Darfur e nos Grandes Lagos, onde existem grandes jazidas de petróleo reservadas pelas holdings de Bush, os civis morrem como tordos, tal como na Somália e na Nigéria.
Por todo o lado nascem novos conflitos e a tortura é prática normal. Se tudo continuar a caminhar neste sentido, não tardará que expludam nos cinco continentes as revoltas dos escravos. Porque os senhores do grande capital financeiro não dominam a História nem as forças com que lidam. Mas conhecem bem os riscos que o capitalismo atravessa. E procuram geri-los a seu favor.

A administração das crises

Os observadores ocidentais mais chegados às guerras do petróleo são em geral da opinião de que o Iraque é um laboratório experimental. Pensam também que a delicada crise que ameaça os operadores financeiros pode resolver-se com estratégias simples mas seguras.
Primeiro, tem de garantir-se que as instalações petrolíferas funcionem em pleno, mesmo quando isoladas por terríveis lutas civis. Os poços de petróleo devem ser santuários. Assim, pagarão as facturas da guerra e garantirão os lucros fabulosos do mercado.
Em segundo lugar, importa fomentar os confrontos entre fracções rivais. Se a guerra santa puder ser lançada, melhor. Será a solução mais barata. Caso assim não seja há sempre disponível o recurso aos meios de privatização da guerra, através do terrorismo praticado pelas milícias privadas que enxameiam as regiões em armas. Se os sunitas e os xiitas se não lançarem uns contra os outros, o grande capital tem sempre modo de dar-lhes o necessário empurrão.
Por fim, torna-se essencial dividir o território do país, retalhando as bases do apoio popular e controlando as fontes de matérias-primas. Depois, é esperar calmamente que o incêndio se extinga e os escravos se matem uns aos outros.
As tácticas aconselhadas para o Iraque fazem curiosamente pensar naquilo que por cá se começa a ver. Várias forças reclamam como solução para o caso português a supressão do Estado social, a criação de poucos mas gigantescos grupos monopolistas e a rápida instalação de infra-estruturas que abram caminho a uma união ibérica onde o mais fraco se submeta ao mais forte.
Foi neste sentido que recentemente Ramalho Eanes defendeu a sua tese de doutoramento na Universidade de Navarra. Tese de um militar com percursos políticos na direita ultraconservadora e de alguém que foi e é destacado seguidor do OD e de Escrivá de Balaguer. Tese defendida por um conhecido aluno da Obra numa universidade gerida pela Prelatura pessoal do papa.
Tanto quanto foi divulgado, o esquema proposto conta com dois actores principais: um Estado «forte» (mas não totalitário, esclarece Eanes sem nada esclarecer); e uma população livre mas militarizada e organizada numa coesa «sociedade civil». As iniciativas a tomar terão de ser compartidas, no pitoresco vocabulário do general. Isto é, deverá estabelecer-se um diálogo regrado, comprometido e comprometedor, entre o tal Estado forte e uma sociedade civil globalizada. Acrescentou Eanes que a Nova Ordem sugerida exige uma aproximação de Portugal a Espanha e o fim definitivo da política ibérica das «costas voltadas» que se arrasta há três séculos.
Tese aparte outros factos concorrem no mesmo sentido. A multiplicação das Opas e de operações financeiras que submetem as empresas ao capital espanhol. As fundações ibéricas que descaracterizam a nossa identidade própria. Os mistérios insondáveis que envolvem as Otas ou os TVGS deste país. Ou as funções efectivas atribuídas à «sociedade civil».
«Tudo a bem da Nação», dirão os fascistas.

in Avante 2007.05.10
quadro - Caos por Héctor Llamas Sandín

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