A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

sábado, maio 26, 2007



Africanos e índios na América Latina do período colonial
(do livro “Race and ethnicity in Latin America”, P. Wade)


Estou lendo “Race and ethnicity in Latin America” do Peter Wade. Cheguei no livro do Wade, vinda do livro do Hermano Vianna sobre o samba. Vianna se aprofunda na análise da obra de Gilberto Freyre para explicar como o assunto “raça” era abordado por intelectuais da época. A partir daí, Vianna tenta explicar como foi que o samba passou de algo que era visto com desdém – como coisa de negros – para um símbolo de identidade nacional. Esse é o ponto central do livro. Volto ao livro dele no futuro.

Mas de volta ao Wade...

A fim de tentar entender melhor um pouco as discussões sobre raça no Brasil, sem necessariamente usar Gilberto Freyre, recorri ao livro do Wade.

O que eu mais gosto nesse livro do Wade é o apanhado histórico que ele faz: ele discute extensivamente o modo como se definiam, discutiam e concebiam ambos os termos “raça” e “etnia” em vários países da América Latina em diferentes momentos históricos.

O que segue é um apanhado das idéias que ele levanta nos capítulos 1 e 2, principalmente na parte que trata de como africanos e índios eram vistos na América Latina do período colonial.

• As diferenças e similaridades entre a América Latina e os Estados Unidos em termos de identidades raciais e racismo não podem ser entendidas sem que se entenda o que estes termos (raça e etnia) significam. [Ele fala isso após gastar 20 páginas definindo detalhadamente estes termos.]

• É comum dizer-se que os EU são o lar do “verdadeiro” racismo, um racismo profundo baseado em genética, enquanto que a América Latina é caracterizada por um racismo mais superficial, de aparência ou fenótipo. Wade argumenta que tal oposição é equivocada (p. 24).

• O estudo de negros e índios na América Latina tem sido, de certa forma, dividido em (1) estudos sobre a escravatura ou assuntos relacionados à escravatura e relações entre raças e (2) estudos dos índios. Wade analisa o porquê de tal divisão e argumenta que isto ainda informa muito da pesquisa e das políticas do século XX. Esta divisão, segundo ele, apenas esconde contrastes e semelhanças entre negros e índios na América Latina. Índios e africanos tiveram papéis diferentes no processo de colonização, tanto social quanto conceptualmente. Índios deviam ser, oficialmente, protegidos e explorados. Africanos eram escravos e, embora tivessem direitos garantidos pela legislação, esta era inconsistente e variava grandemente; a principal preocupação era com controle, não proteção (p.27).

• Não foi possível manter três categorias distintas como talvez quisessem os colonizadores: espanhóis, índios e africanos: respectivamente dominadores, pagantes de impostos e escravos. As autoridades falavam da “república de españoles” e da “república de índios”, esta última baseada na comunidade indígena, criada e regulada pela legislação. Mas tal ideal foi sabotado pela possibilidade da criação de uma classe de negros livres (slave manumission) e da existência dos “criollos”. Acima de tudo o ideal de separação foi minado pela “mestizaje” (p.28).

• “Índio” era uma categoria administrativa específica – uma categoria fiscal, já que o típico índio morava numa comunidade indígena e pagava imposto. Isso não era tão evidente no Brasil, onde a população indígena sedentária que podia ser explorada não era tão expressiva.

• Mas todo esse cenário não se aplicava aos negros. O status de escravo, é claro, era claramente definido e o escravo era uma categoria central no censo.

• Este sistema de estratificação socio-racial é frequentemente denominado “sociedad de castas”. Não é um termo usado para o Brasil, já que a situação lá era um pouco mais fluida, embora fosse similar. Neste sistema, brancos ocupavam o topo, índios e negros estavam embaixo e as posições intermediárias eram definidas por critérios de status, dentre os quais cor e descendência eram muito importantes, mas não definitivos. A ocupação do indivíduo podia, na verdade, influenciar na classificação, assim como a posição do cônjuge.

• Índios tinham uma posição relativamente institucionalizada, enquanto que negros não tinham: alguns estavam na categoria de escravos, outros naquela vaga categoria intermediária de castas, pardos, ou libres. Também tem-se a impressão de que os índios eram vistos como sendo superiores aos negros (havia restrições a casamentos com negros, mas permitia-se aos brancos casarem-se com índios).

• Índios e negros tinham diferentes relações com a estrutura burocrática oficial. Mas como a relação entre lei e ordem social é difícil de ser estabelecida, não se pode argumentar que tal diferença traduziu-se diretamente em percepções diferenciadas de negros e índios; índios eram frequentemente tratados de forma miserável.

Fonte:   http://eamusica.blogspot.com/2007/01/africanos-e-ndios-na-amrica-latina-do.html


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