Notas sobre Setúbal-cidade
* Victor Nogueira
Uma cidade são as pessoas, as pedras, as casas e a paisagem circundante. Mas as pessoas de Setúbal revelaram-se uma desilusão. A cidade reúne a dimensão humana das distâncias dentro de si própria das cidades pequenas com o individualismo das grandes cidades onde cada um trata de si, sem a solidariedade dos vizinhos mas, paradoxalmente, com a coscuvilhice e maledicência destes: todos sabem de todos mas cada um trata de si. Nada da camaradagem que encontrei entre as gentes do Barreiro!
Setúbal, destruída pelo terramoto de 1755 e rapidamente reconstruída, do passado pouco conserva. E o pouco que tinha em edifícios está em ruína e demolição aceleradas. Se é verdade que o Marquês de Pombal não veio a tempo de reconstruir a cidade ao jeito racionalista, Mata Cáceres, o Presidente socialista desde 1986 tem sido um terramoto que permite que a memória da urbe seja arrasada: moinhos de vento, fábricas conserveiras, bairros como o Salgado ou de Santos Nicolau... Persistem, esses sim, os bairros de lata, como o Mal Talhado, da Cova do Canastro, da Monarquina... Se interesse há por estes bairros, não é porque os seus habitantes mereçam melhores condições de vida mas porque se situam encravados em áreas apetecíveis para a especulação urbana. Nos esteiros, as embarcações típicas de outrora apodrecem afundadas no lodo, sem que a Câmara recupere algumas delas, como outras na Península de Setúbal o fazem.
Uma cidade é também o seu traçado e a paisagem circundante. Que resta de Setúbal? O Castelo de Palmela e o Forte de S. Filipe estão encobertos por cortinas de prédios altos, iguais em qualquer cidade e sem nada que a distinga. O mesmo se pode dizer do estuário do Sado e da Serra da Arrábida. A cidade voltou as costas ao rio, que os seus habitantes não desfrutam porque entretanto o porto fluvial vai crescendo e acrescentado à barreira física que já era a linha férrea. À beira rio, o horizonte é cortado e abafado por viadutos e muros gradeados. Lisboa alinda-se e Setúbal desfeia se com o lixo dela proveniente.
É verdade que uma nova camada consumidora surgiu e assim as discotecas e os pubs crescem na parte baixa, sobretudo a poente da Luísa Todi. Mas a vida associativa decresce, os cinemas encerram, a companhia de teatro residente fecha-se em si mesma. Em contrapartida aumentam as situações de marginalização ou exclusão sociais, florescendo as prostituições infantil e feminina, bem como o tráfico e o consumo de droga.
A várzea, solo agrícola fértil, é ocupada paulatinamente por prédios, acabando com as hortas e laranjais que davam origem a doçaria de nomeada. (Notas de Viagem, 1977)
Fotografia de Victor Nogueira (Estuário do Rio Sado)
Setúbal, destruída pelo terramoto de 1755 e rapidamente reconstruída, do passado pouco conserva. E o pouco que tinha em edifícios está em ruína e demolição aceleradas. Se é verdade que o Marquês de Pombal não veio a tempo de reconstruir a cidade ao jeito racionalista, Mata Cáceres, o Presidente socialista desde 1986 tem sido um terramoto que permite que a memória da urbe seja arrasada: moinhos de vento, fábricas conserveiras, bairros como o Salgado ou de Santos Nicolau... Persistem, esses sim, os bairros de lata, como o Mal Talhado, da Cova do Canastro, da Monarquina... Se interesse há por estes bairros, não é porque os seus habitantes mereçam melhores condições de vida mas porque se situam encravados em áreas apetecíveis para a especulação urbana. Nos esteiros, as embarcações típicas de outrora apodrecem afundadas no lodo, sem que a Câmara recupere algumas delas, como outras na Península de Setúbal o fazem.
Uma cidade é também o seu traçado e a paisagem circundante. Que resta de Setúbal? O Castelo de Palmela e o Forte de S. Filipe estão encobertos por cortinas de prédios altos, iguais em qualquer cidade e sem nada que a distinga. O mesmo se pode dizer do estuário do Sado e da Serra da Arrábida. A cidade voltou as costas ao rio, que os seus habitantes não desfrutam porque entretanto o porto fluvial vai crescendo e acrescentado à barreira física que já era a linha férrea. À beira rio, o horizonte é cortado e abafado por viadutos e muros gradeados. Lisboa alinda-se e Setúbal desfeia se com o lixo dela proveniente.
É verdade que uma nova camada consumidora surgiu e assim as discotecas e os pubs crescem na parte baixa, sobretudo a poente da Luísa Todi. Mas a vida associativa decresce, os cinemas encerram, a companhia de teatro residente fecha-se em si mesma. Em contrapartida aumentam as situações de marginalização ou exclusão sociais, florescendo as prostituições infantil e feminina, bem como o tráfico e o consumo de droga.
A várzea, solo agrícola fértil, é ocupada paulatinamente por prédios, acabando com as hortas e laranjais que davam origem a doçaria de nomeada. (Notas de Viagem, 1977)
Fotografia de Victor Nogueira (Estuário do Rio Sado)
2 comentários:
Não tens mais fotografias de Setúbal tão bonitas como esta?
É que não conheço Setúbal, comheço s
o de passagem e seria uma maneira agradável de nos mostrares como é essa cidade, aos que não podem ir aí conhecê-la
Bj
Maria
É por isso que eu não gosto de cidades!...
Quem me dera viver no campo. Pelo menos viver na provícia, embora hoje já seja tudo muito diferente!
Quanto àos falatórios, para mim não tem importância, eu quero lá saber que falem de mim ou não!...
Nunca me importei muito com conversas...
Bj
Maria
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