Uma explicação e três - apontamentos sobre a greve geral
* Victor Dias
Compreendo e respeito perfeitamente que diversos «bloggers», utilizando o grafismo à esquerda, tenham decidido, no seu entendimento sobre formas de solidariedade, declarar que os seus blogues hoje estão em greve. Espero que, em retribuição, também possam compreender e respeitar que outros, como eu, entendam que, estando-se a falar do domínio da informação, a forma de solidariedade mais eficaz não seja ficar obrigatoriamente calado durante este dia, deixando impunes e sózinhos na blogosfera os adversários e críticos da greve geral. Aliás, os menos novos, e sobretudo jornalistas, recordar-se-ão que, na primeira greve geral realizada no país, esta questão foi longa e apaixonadamente discutida.
Dada esta explicação, apenas três apontamentos parcelares em torno da greve geral em curso:
1. Não posso deixar de registar que há governantes que continuam a nos querer tomar por parvos ou imbecis. Na verdade, esta manhã, ouvi na TSF o secretário de Estado da Administração Pública a vangloriar-se e a considerar um indicador muito relevante que dez mil escolas tinham aberto as suas portas e, portanto, não estavam encerradas. Compreende-se perfeitamente que os sindicatos valorizem os casos de encerramento total de serviços como expressão máxima de adesão a uma greve. Mas já é um puro truque de propaganda barata e viciosa que um governante venha invocar as portas abertas como um facto de relevante significado quando todos estamos em condições de perceber que, para abrir uma porta, pode bastar um auxiliar ou um professor mesmo que dentro das escolas não esteja mais ninguém para dar aulas e que o funcionamento normal tenha sido profundamente afectado.
2. Podem alguns dizer que já estou pouco exigente, mas não é uma pequena coisa que, por causa da greve geral e graças a ela, hoje se possa ler junto à manchete do Público há «um milhão de trabalhadores precários com direito à greve limitado», que o título principal da página 2 seja «Mais de um milhão com emprego em risco se aderirem à paralisação» e que um quadro nessa mesma página destaque a existência de «646,7 mil trabalhadores com contrato a prazo no primeiro trimestre deste ano» e de «883,6 mil trabalhadores a recibo verde». E, como compreenderá quem for sério, é uma evidência que nenhum balanço ou apreciação global isenta da greve geral de hoje pode passar ao lado ou não ter em conta estes dados. Por outro lado, estes dados, em que muitos insistimos há muito tempo sem chegarem a manchete de jornal, colocam em cima da mesa do debate político, a inquietante e revoltante situação de, neste plano, estarmos manifestamente numa democracia mutilada, restringida e empobrecida.
3.Finalmente, mais percentagem menos percentagem, e no contexto de fortes constrangimentos, de medo de retaliações e represálias patronais (para já não falar daqueles trabalhadores para quem perder um dia de salário faz diferença), a greve geral de hoje é uma assinalável e marcante expressão de um vasto descontentamento popular com o estado de coisas em Portugal e com a política do governo e a prova provada de que o mundo do trabalho - ou seja, não se esqueça, o principal factor de criação de riqueza nacional -, não se resigna ao papel de sofredor e de vítima e que, antes pelo contrário, forte das suas convicções, do seu apego aos direitos duramente conquistados e à justeza das suas aspirações, se afirma como uma força incontornável para a mudança de rumo de que Portugal precisa.
* Victor Dias
Compreendo e respeito perfeitamente que diversos «bloggers», utilizando o grafismo à esquerda, tenham decidido, no seu entendimento sobre formas de solidariedade, declarar que os seus blogues hoje estão em greve. Espero que, em retribuição, também possam compreender e respeitar que outros, como eu, entendam que, estando-se a falar do domínio da informação, a forma de solidariedade mais eficaz não seja ficar obrigatoriamente calado durante este dia, deixando impunes e sózinhos na blogosfera os adversários e críticos da greve geral. Aliás, os menos novos, e sobretudo jornalistas, recordar-se-ão que, na primeira greve geral realizada no país, esta questão foi longa e apaixonadamente discutida.
Dada esta explicação, apenas três apontamentos parcelares em torno da greve geral em curso:
1. Não posso deixar de registar que há governantes que continuam a nos querer tomar por parvos ou imbecis. Na verdade, esta manhã, ouvi na TSF o secretário de Estado da Administração Pública a vangloriar-se e a considerar um indicador muito relevante que dez mil escolas tinham aberto as suas portas e, portanto, não estavam encerradas. Compreende-se perfeitamente que os sindicatos valorizem os casos de encerramento total de serviços como expressão máxima de adesão a uma greve. Mas já é um puro truque de propaganda barata e viciosa que um governante venha invocar as portas abertas como um facto de relevante significado quando todos estamos em condições de perceber que, para abrir uma porta, pode bastar um auxiliar ou um professor mesmo que dentro das escolas não esteja mais ninguém para dar aulas e que o funcionamento normal tenha sido profundamente afectado.
2. Podem alguns dizer que já estou pouco exigente, mas não é uma pequena coisa que, por causa da greve geral e graças a ela, hoje se possa ler junto à manchete do Público há «um milhão de trabalhadores precários com direito à greve limitado», que o título principal da página 2 seja «Mais de um milhão com emprego em risco se aderirem à paralisação» e que um quadro nessa mesma página destaque a existência de «646,7 mil trabalhadores com contrato a prazo no primeiro trimestre deste ano» e de «883,6 mil trabalhadores a recibo verde». E, como compreenderá quem for sério, é uma evidência que nenhum balanço ou apreciação global isenta da greve geral de hoje pode passar ao lado ou não ter em conta estes dados. Por outro lado, estes dados, em que muitos insistimos há muito tempo sem chegarem a manchete de jornal, colocam em cima da mesa do debate político, a inquietante e revoltante situação de, neste plano, estarmos manifestamente numa democracia mutilada, restringida e empobrecida.
3.Finalmente, mais percentagem menos percentagem, e no contexto de fortes constrangimentos, de medo de retaliações e represálias patronais (para já não falar daqueles trabalhadores para quem perder um dia de salário faz diferença), a greve geral de hoje é uma assinalável e marcante expressão de um vasto descontentamento popular com o estado de coisas em Portugal e com a política do governo e a prova provada de que o mundo do trabalho - ou seja, não se esqueça, o principal factor de criação de riqueza nacional -, não se resigna ao papel de sofredor e de vítima e que, antes pelo contrário, forte das suas convicções, do seu apego aos direitos duramente conquistados e à justeza das suas aspirações, se afirma como uma força incontornável para a mudança de rumo de que Portugal precisa.
Posted by VÍTOR DIAS
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