A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

sábado, maio 26, 2007




"Caçando e pescando, guerreando feliz"
- representações sobre índios feitas por crianças de uma escola pública de primeiro grau, na cidade de São Paulo (SP)

* Rita Amaral 

Dra. em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo
NAU-USP

1996

"Na tribo ele vive
Comendo raíz
Caçando e pescando
Guerreando, feliz.
O Deus é Tupã,
A lua é Jaci
A lingua que eles falam
é tupi-guarani"



Pela letra da música aprendida nas escolas de primeiro grau depreende-se que todos os índios são iguais. Vivem do mesmo modo, têm os mesmos deuses, falam a mesma língua. Vivem felizes e sem problemas.

O Brasil tem quase quinhentos anos, mas ainda desconhece a imensa sociodiversidade indígena que existe em seu território. Desconhece seus índios. A maioria das pessoas desconhece até mesmo quantos povos ou quantas línguas indígenas existem. O reconhecimento, mesmo que pequeno, dessa diversidade, não ultrapassa os restritos espaços da academia especializada.

Hoje, alunos do ensino fundamental, ou mesmo professores, que queiram saber mais sobre os povos indígenas brasileiros contemporâneos, enfrentarão dificuldades.

A imagem do índio conhecida pela população é a do índio romântico, a do índio selvagem, a do caboclo de umbanda. E existem várias razões para isto.

A primeira é que existem poucos espaços para a expressão dos índios no cenário cultural e polítco do país. Vivendo a maioria deles em locais de difícil acesso, com condições quase que exclusivamente orais de comunicação e falando geralmente apenas sua língua, com domínio relativo do português, as diferentes etnias encontram dificuldades para se expressar no mundo dos não-índios. Sua cultura e pontos de vista são tomados geralmente fora dos contextos onde vivem, mediados por intérpretes quase sempre inadequados e, finalmente, registrados como fragmentos incompreensíveis Basta mencionar, por exemplo, que das 206 etnias conhecidas (entre as mais de mil que segundo estimativas existiam antes da invasão do Brasil pelos europeus) e das cerca de 170 línguas, no máximo a metade, talvez, foi objeto de pesquisa por parte de etnólogos e lingüistas e a maior parte dos resultados, em geral teses acadêmicas, não está publicada e nem é acessível. ou o é apenas em línguas estrangeiras (Ricardo, 1995).

O público leigo interessado em conhecer mais a respeito dos índios está diante de um vácuo cultural e tem que se contentar com uma bibliografia didática precária, quando não preconceituosa e desinformada .Também na imprensa, apesar do interesse da mídia pelos índios nos últimos anos, o que se informa, e portanto, o que se sabe e se aprende sobre o assunto, são versões jornalísticas de fatos isolados, fragmentados, histórias superficiais e imagens genéricas, tremendamente reducionistas em relação à realidade.

É bastante comum lermos ou ouvirmos na imprensa noticias com o nome das "etnias" trocado, escrito ou pronunciado de maneira errada, sem nenhuma preocupação em buscar a correção. Ttambém não é difícil vermos um determinado povo indígena ser associado a locais diferentes daquele onde vive ou, ainda, a imagens que na verdade são até mesmo de outro povo indígena (Ricardo, 1995).

Os arquivos das redações dos jornais, mesmo os diários, têm informações descontínuas sobre as tribos em pauta, sem nenhuma densidade cultural ou histórica específica. Basta lembrar, por exemplo, as etnias que por circunstâncias históricas ocuparam concretamente o espaço do "indio de plantão" no noticiário e no imaginário do país em diferentes épocas. Isto aconteceu na década de 40, com os Karajá da Ilha do Bananal, com os Xavante de Mato de Grosso (que logo após os primeiros contatos com os civilizados apareceram, nos anos 50, vestindo ternos brancos numa loja da Ducal em São Paulo) e depois voltaram nos anos 70 com Mário Juruna. Ou ainda os Krenakarore, os "indios gigantes", pacificados e removidos para que uma rodovia ligando Cuiabá a Santarém fosse aberta na floresta, também na década de 70. Ou ainda os Kayapó guerreiros, de Raoni e Paiakã, do sul do Pará, nos anos 80. Some-se-lhes os Yanomami de Roraima, vítimas da invasão garimpeira há 10 anos e, mais recentemente, o retorno dos Guarani, cujos jovens passaram misteriosamente a cometer suicídio coletivamente. Até os famosos "índios do Xingu", que na década de 80 ocuparam muitos noticiários e são presença obrigatória em qualquer coleção de cartões postais do Brasil, não passam de uma generalização reducionista e grosseira ao se tratar de um conjunto de dezessete povos que vivem atualmente no Parque Indigena do Xingu, alguns deles tão diferentes entre si quanto brasileiros e japoneses.

Assim, a idéia de quem sejam os índios e seu modo de viver e de pensar tem sido transmitida de maneira displicente, não apenas pela mídia escrita (revistas, jornais) como também pela televisao, pelo rádio e pelos professores, apoiados em livros escolares mal preparados, além da informação subjetiva diária transmitida por imagens utilizadas em produtos ou em referências diagonais.

Nem sempre (ou quase nunca), contudo, esta imagem corresponde à realidade dos diferentes grupos indígenas brasileiros. Concerne, antes, a uma estereotipia que concebe os índios de modo simplista, como primitivos e distantes de nossa cultura, especialmente no que diz respeito à tecnologia. Geralmente essa imagem é, ela mesma, influenciada pela idéia romântica dos índios, encontrada nos livros escolares, nos romances e poemas como os de José de Alencar e Gonçalves Dias e, também, pela literatura dos viajantes da época colonial, que os retratava com olhos etnocêntricos e de rapina, que preferiram ver nos índios homens incapazes de gerirem por si só suas terras e riquezas, além de inferiorizá-los em termos de sua fé.

Da impressão etnocêntrica de que os grupos que não fizeram as mesmas escolhas tecnológicas e culturais que os ocidentais são grupos inferiores é que vem, ainda, a noção de que os índios são prequiçosos, ignorantes, perigosos, vingativos, traiçoeiros e que, vivendo ab origene, portanto não partilhando o processo civilizatório europeu, devem ser vistos como selvagens incompetentes ou, no outro extremo, como o bon sauvage de Rousseau.

Da televisão emana, ainda, a imagem do índio norte-americano, freqüentemente confundido com o brasileiro, que deste é completamente diferente, assim como dos desenhos e revistas em quadrinhos. Recentemente, Maurício de Souza, desenhista brasileiro, criou um personagem indígena em suas histórias infantis, o indiozinho Papa-Capim, que transmite a imagem de um indiozinho simpático, mas que vive nu e de arco e flecha em punho. Na televisão, o programa infantil Glub-Glub, transmitido pela TV Cultura, emissora do Estado, tem como introdução ao programa apresentado por dois peixinhos (e não por dois indiozinhos, o que é significativo), a cena, em desenho animado, de um índio que navega numa piroga carregada de eletromésticos, mostrando que os índios já têm interesses por esse tipo de objetos (que ao mesmo tempo só existem alí como pretexto para os peixinhos do rio terem uma televisão), mas desempenha o mero papel de referência. Este índio aparece nu e vestido de penas, como sempre. Pouco além disso existe que fale dos índios para crianças, e é basicamente da mídia e dos desenhos que as crianças obtêm atualmente suas referências sobre a imagem dos índios, além da escola. Fora disso, no cotidiano, as imagens dos índios são encontradas fragmentadas em produtos que carregam nomes indígenas, como Biscoitos Aymoré, Café Cacique, Mudanças Anhanguera. E em nomes de cidades, bairros e ruas, poucas vezes percebidos como nomes indígenas, como Itu, Araraquara, Jundiaí, Cumbica, Pirituba, Piqueri, Ibirapuera, Anhangabaú, Itu, Jaú, Itaim, Morumbi, Sacomã, Itaú etc. Apesar disso, pouco se lida com a imagem e a identidade dos índios no cotidiano urbano.

Existe, também, a imagem muito particular do índio construída no universo religioso da Umbanda, religião de origem africana, que muitos conhecem. É a imagem dos caboclos, ou caboclos de pena, entidades espirituais consideradas indígenas e que também´são cultuadas nos candomblés do rito angola. Essa entidade é dita ser o espírito dos antepassados indios, e faz parte do imaginário do indio romântico. Quando incorporadas em transes, essas entidades costumam usar cocar e colares de sementes e fumar charuto ou cachimbo. Poucas vezes tais entidades se referem a tribos de origem e, na maioria das vezes, têm nomes em português, como "Pena Branca" "Treme Terra", "Sete Flechas," "Pedra Preta" etc. Mas existem algumas poucas que se referem a tribos e nomes indígenas, como os caboclos Tupinambá, Ubirajara, cabocla Moema, Jurema etc. Nas lojas que vendem artigos religiosos é possivel encontrar imagens em gesso dessas entidades. Geralmente representando índios e índias de pele escura, seminus, vestindo saiote de penas e cocar, com pinturas aleatórias pelo corpo, sem relação com pinturas étnicas. Outras vezes essas imagens representam claramente índios norte-americanos, com calças compidas com franjas e alpargatas e machadinhas, talvez porque este índio corresponda melhor a um certo padrão moral, já que contrariamente ao índio brasileiro, aparece sempre vestido. Ou porque se os vê bem mais em filmes na televisão que aos índios brasileiro sob qualquer circunstância. Resumindo: o índio brasileiro tem pouca visibilidade e isto se revela nas imagens deles que se vê, quando se as vê.

Nesta rápida e limitada pesquisa, procurei saber de que modo 40 crianças que estavam iniciando o acesso ao mundo das imagens que a sociedade brasileira e a mídia transmitem (na faixa etária entre 5 e 10 anos de idade, sendo 50% delas já totalmente alfabetizadas e 50% em processo de alfabetização), concebiam a imagem dos índios. Se teriam alguma noção de quem são e como vivem os índios, do processo de aculturação, se os concebiam como próximos ou distantes de nós, brancos, negros ou orientais de cultura marcadamente ocidental. Se tinham noção da diversidade étnica interna à categoria "indios" (se sabem que há indios de diversas nações, completamente diferentes entre si) e como compreendem o caráter dos índios (maus, bravos, preguiçosos, ou bons, corajosos etc.).Para tanto, foi pedido às crianças, por meio da intermediação das professoras, de uma sala de aula da 3a série do primeiro grau e outra de pré-escola, que desenhassem um índio, numa folha de papel, com material de livre escolha.

Da série de imagens por elas produzidas tomei os dados para o estudo desta apreensão. Nestas imagens foram avaliadas não apenas as cenas, mas também os planos, as cores, a presença de elementos pertinentes ou não à cultura indígena, expressões, objetos, animais que aparecessem ou não etc. Foram recolhidos 40 desenhos, alguns dos quais aparecem aqui. Buscando compreender que tipo de informações as crianças têm que vêm do campo cultural, mais amplo, foram ainda fotografadas e analisadas outras imagens de índios como as que aparecem em pinturas, desenhos animados, revistas infantis, livros, lojas etc, que ajudam a compor o conjunto a que eventualmente o imaginário infantil se refere. Aqui, uma primeira revelação: fora do universo religioso da umbanda e do candomblé, quase não se vê referências a índios nos espaços da cidades senão em seus topônimos. As poucas encontradas estão em nomes fantasias de empresas ou produtos, mas são realmente reduzidos. Nestas aparecem geralmente apenas cabeças de índios, de expressao fechada, de cocar, relacionando-se portanto com a liderança dos caciques.

Resultados:

A concepção que as crianças fazem dos índios é a tradicional. Corresponde melhor à concepção dos antigos livros escolares e do imaginário (sempre reiterado pela cultura) do que à realidade indígena. Não se sabe que muitos índios vivem em casas de alvenaria, em cidades, nem que alguns estão nas universidades, usam computadores, dirigem carros, pilotam helicópteros, participam de projetos de educação e da politica nacional ou internacional.

Para as crianças. os índios têm pele escura e cabelos pretos, lisos, longos ou curtos. Os olhos poucas vezes são retratados amendoados. Quase sempre têm pinturas faciais, mas não se referem a nenhuma etnia em particular (em apenas um caso desenho do índio mostrava a tentativa de representar grafismos indígenas no corpo e um corte de cabelo diferenciado), e as crianças em geral nem conheciam este termo. Três traços coloridos espalhados nas duas faces e adornos plumários, enfeites nos nariz e colares apareceram e 23 desenhos. Os índios são sempre muito enfeitados, mostrando que o aspecto diferencial por eles observado é basicamente estético.

A maioria das crianças pensa que os índios vivem nus. Ou vestem-se só com saiotes de penas. Vivem sempre na floresta, comendo frutas e raízes, ou alguma caça.

Apenas seis desenhos representaram índios vestidos. Também do universo da televisão e dos filmes de cowboy parece vir o vestiário dos índios quando eles aparecem vestidos. Geralmente com roupas de franjas e as índias se parecendo com Pocahontas, quando estão vestidas. Talvez por causa da muito recente exibição do desenho animado de Walt Disney Mas aparecem também muitas indias com seios de fora e tanga. Foi interessante constatar que existem nos desenhos tanto índios quanto índias. E ambos realizam as mesmas tarefas, o que não corresponde à realidade indígena mas a um novo conceito das relações entre homens e mulheres ocidentais.

A pesca não apareceu em nenhum desenho, nem as plantações. Uma única cesta foi desenhada e algumas poucas cerâmicas, mostrando que as crianças não estão bem informadas sobre a importância da cestaria e da cerâmica, não só como objetos utilitários mas também na distribuição de papéis sociais e de gênero nas tribos. Em apenas duas cenas os indios aparecem em torno de uma fogueira e em uma apenas estão tocando um tambor estilo trocano.

Poucas vezes os indios aparecem sem suas flechas e arco, mas também poucas vezes estão sendo usados. Arco e flecha parecem fazer parte do que se poderia chamar de "estojo de identidade" indígena, compondo a imagem, sem no entanto relacionar-se diretamente à sua função de arma para caça e defesa. Um dos alunos desenhou um alvo dentro da maloca indígena, indicando que a idéia do uso da flecha passa pelo treinamento da técnica. Ou como entretenimento. Flecha e arco são geralmente carregados às costas. Apenas um desenho retrata uma ave sendo ferida por uma flecha, e em outro o índio a aponta para uma serpente, curiosamente uma naja. Em apenas dois casos os índios usam suas flechas contra seres humanos, ambos os casos contra brancos ameaçadores.

A julgar pela expressão facial dos índios desenhados, eles são alegres, simpáticos, sorridentes, amistosos. Vivem em grupo (os índios em quase todos os desenhos apareceram acompanhados), isolados dos brancos.

As mulheres índias apareceram muitas vezes com os homens.

A maloca (oca) aparece em muitos desenhos, mostrando que uma idéia bastante marcante é a de que eles moram de modo diferente dos brancos. (Segundo alguns etnólogos da área indígena, também para os índios, a idéia de que os brancos moram de modo diferente é marcante). Algumas crianças misturaram a casa de alvenaria com a cobertura de palha.

Nos únicos três desenhos em que o branco apareceu, apareceu em atitude hostil ou para entrevistá-los. Apenas neste desenho a cultura branca não é agressora. As duas situações de conflito são representadas com os brancos e não com outros índios. Isso mostra que elas não têm noção de que os índios vivem em tribos diferentes, às vezes até inimigas, e que do vêem e aprendem na escola deduzem que o inimigo natural do índio é o branco. Num dos desenhos um branco atira num índio já aculturado (usa roupas comuns, e sabe-se que é um índio porque ele usa uma pena na cabeça) em sua própria maloca com revólver. Este branco pode ser um cowboy de filme americano, pois usa um chapéu deste tipo. Mas pode também ser um seringueiro.

Em outro desenho, um índio atira uma flecha num branco que pode ser um português, pois usa um grande bigode, e este é o modo como os brasileiros costumam retratar os portugueses. Nesse caso a referência seria à historia da colonização, quando houve muitos conflitos entre brancos e índios. Um dos desenhos mais marcantes mostra um índio sendo entrevistado pela televisão (o que se deduz pelo tipo de microfone, com logomarca), e declarando, meio envergonhadamente, que as coisas melhoraram na aldeia porque agora eles têm escola, como se reconhecendo que não estudar é ruim. Isso também mostra o desconhecimento que as crianças têm do quanto os índios conhecem e sabem e com quem aprendem as coisas quanto não têm escola. Assim, os índios são visto como ignorantes enquanto não têm acesso a esta.

Significativamente, alguns índios aparecem posssuindo cavalos. Num dos desenhos aparece o índio é representado montando, inclusive. Com um longo cocar, sugere um índio norte-americano, um apache de cinema, já que no Brasil, apenas os Kadiwéu domesticaram os cavalos e são uma etnia pouco conhecidos.

Poucos animais aparecem nos desenhos. Alguns pássaros. Nenhuma galinha, nenhuma paca, nenhum tatu. Nenhum macaco. A "floresta" dos índios infantis não é perigosa, mas bucólica e hospitaleira.

Conclusão:


A imagem dos índios representada pelas crianças é fortemente influenciada pela mídia e é a que grande parte da sociedade tem.

Os índios do passado, vestindo-se de penas, vivendo exclusivamente da caça (nem pescam), em torno de uma fogueira, felizes. Estão completamente distanciadas do fato da diversidade étnica. Existe O INDIO e não se sabe que são diferentes entre si. Eles são sempre muito diferentes dos brancos. São melhores. São mais alegres por viverem na floresta. E pertencem ao passado, o que se depreende das imagens e mesmo de uma legenda que diz "as armas que eles usavam". Muito dessa situação se deve não apenas aos meios de comunicação (que transmitem essa idéia, que inclusive é sedutora), mas também aos livros didáticos; ao modo como se aprende sobre os índios nas escolas.

Os livros de História, ainda transmitem a impressão de que os índios começaram a existir com a chegada dos europeus. Não se fala de sua existência antes disso. E eles são cordiais e amigáveis. Ajudam os portugueses, carregando o pau-brasil em troca de bugingangas e miçangas, construindo fortes e casas que dão origem aos primeiros povoados e ensinam os brancos a viver na nova terra.

Logo depois parece que os índios começam a "atrapalhar" a colonização. Aliam-se aos franceses para atacar os portugueses. De cordiais, os índios passam a traiçoeiros. A colonização, entretanto, precisa muito da força de trabalho dos indios, que é utilizada em toda parte. Nesse momento o índio aparece junto dos bandeirantes, ensinando os caminhos e sendo escravizado pelos portugueses, além de ajudarem, logo em seguida, na recaptura de negros fugidos. Aliás, a escravidao dos negros só começa porque, como ensinam vários livros, "o indio não gostava de trabalhar, era preguiçoso e seu amor à liberdade não permitia que ele vivesse como escravo". Eles se matavam. Precisavam ser civilizados, catequisados.

Depois disso o índio desaparece da História do país e deles só se sabe que sao tupis, adoram Tupã, Guraraci (o sol) e Jaci (a lua) e moram em tabas e ocas: Que ensinaram a técnica da queimada, a fabricação de redes e de esteiras e criaram belas lendas. Depois, ao se falar da necessidade de ocupar espaços vazios não se fala mais de índios.

"É como se o Centro-Oeste e Norte do Brasil fossem virgens, como se ninguém morasse lá. E no presente a coisa se complica. A maior parte dos livros didáticos nem aborda a presença indígena no presente. Alguns poucos apresentam dados pulverizados, às vezes incorretos. Referem-se vagamente à existência de índios na Amazonia e no Xingu, lembram os trabalhos de Candido Rondon e dos irmãos Villas-Boas e da Funai".(GRUPIONI, 1995)

A imagem do índio parece sofrer de uma contradiçao: Ou há índios vivendo isolados, protegidos, ou já estao "contaminados" pela civilizaçao e a aculturaçao é seu caminho sem volta. Como se ao deixarem de andar nus,enfeitarem-se com penas e de caçarem, deixassem também de ser índios. Os índios ou estão no passado ou vão desaparecer em breve. Esta dicotomia parece corresponder a duas perspectivas sempre a eles associadas: a do bom e a do mau selvagem. Os indios de Rousseau e Hobbes. O primeiro argumentando que os índios representariam um estágio primitivo da humanidadem vivendo basicamente pelos seus instintos e o segundo, falando em degenerescência; os indios viveriam num passado numa era sem ordem e caótica, bárbara, e que só a civilização os levaria ao progresso. Parece que ainda não conseguimos, nós mesmos, sair do passado e aprender sobre nossa própria diversidade. A imagem que as crianças têm dos índios reflete esta imagem social, e para que ela mude, para que corresponda à realidade, é necessário que o modo como as instituições tratam os índios mude.

BIBLIOGRAFIA

GRUPIONI, Luis Donizete B. "Livros didáticos e fontes de informações sobre sociedades indígenas no Brasil" IN: SILVA, Aracy Lopes e GRUPIONI, Luis Donizete Benzi. (orgs) A Temática Indígena na Escola MEC, MARI, UNESCO, Brasília, 1995 ( pp 481-526).

RIBEIRO, Berta. O Índio na História do Brasil. Editora Global, São Paulo, 1983.

RICARDO, Carlos Alberto. "Os índios"e a sociodiversidade nativa contemporânea no Brasil IN: SILVA, Aracy Lopes e GRUPIONI, Luis Donizete Benzi. (orgs) A Temática Indígena na Escola MEC, MARI, UNESCO, Brasília, 1995

SILVA, Aracy Lopes & GRUPIONI, Luis Donisete B. A Temática Indígena na Escola. - novos subsídios para professores de 1o e 2o Graus. MEC, MARI, UNESCO. Brasília, 1995

SILVA, Aracy Lopes. A Questao Indígena na sala de aula. - Subsídios para professores de 1o e 2o. Graus. Ed. Brasiliense, São Paulo, 1987.RIBEIRO, Berta. O Índio na História do Brasil. Editora Global, São Paulo, 1983.


in   http://www.aguaforte.com/antropologia/osurbanitas/revista/povosindigenas.html

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