Aquele dia não foi escolhido para se tornar herói. Nem vítima.
Nem símbolo.
Mas merece ser memória do que ocorreu na ditadura fascista que oprimiu Portugal e os territórios das colónias portuguesas durante 48 anos. Quando a morte saía à rua.
Naquele dia, na rua que agora guarda o seu nome, a PIDE assassinou a tiro José Dias Coelho.
Não foi o único. Está ainda por fazer a exacta estatística de crimes de morte cometidos pela PIDE. Nem sempre com bala à queima-roupa.
Há também os que foram assassinados com a tortura refinada evitando deixar marca. Pela morte lenta no Tarrafal. Pelos intermináveis anos de cárcere.
Haverá quem queira dizer que o assunto não é «actual», já passou à história.
Mas se atentarmos na insidiosa campanha de branqueamento da ditadura fascista (agora hipocritamente chamada «antigo regime») e de falseamento da memória, com apagamento daqueles que no PCP mais lutaram para ser livre o terreno que hoje pisamos, concluiremos que a homenagem prestada na passada terça-feira a Dias Coelho, pela passagem dos 45 anos do seu assassinato, não foi apenas memória de um dos crimes do fascismo. Foi também marca presente da luta pela qual ele deu a vida.
Os crimes do fascismo não se deveram apenas à crueldade dos que os praticaram. Foram parte integrante e indissociável de uma política submetida aos interesses do capital monopolista e dos agrários, que só pelo terror podia ser imposta ao povo português. O antifascismo mantém-se uma exigência actual.
Dias Coelho foi exemplo de uma luta que antecedida e seguida por muitos outros levou ao caminho de liberdade que o 25 de Abril tornou possível.
Os retrocessos nesse caminho dão plena actualidade à memória de resistência de que Dias Coelho foi testemunho. Como jovem dinamizador dos movimentos unitários antifascistas. Como funcionário do PCP. Como intelectual comunista que na sua arte denunciava a realidade contra a qual lutava, e apontava para um futuro em que audaciosamente erguia o punho e levantava uma bandeira desfraldada ao vento do porvir.
Não só à sua vida, como ser humano, mas também à sua obra, enquanto artista, naquele dia foram roubadas as possibilidades de mais alguma vez poder intervir.
Naquele dia «a morte saiu à rua». E «o pintor morreu». Mas não morreu a memória e a herança da sua vida de resistência e luta.
Artigo publicado na Edição Nº1725 |
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