90 Anos das Aparições de Fátima (4)
"CADA FAMÍLIA TINHA UM REBANHO“
A serra era coalhada de pastores e rebanhos, parecia uma nuvem que a cobria”. A descrição feita por Lúcia, referindo-se à Serra de Aires no período das aparições, não podia ser mais perfeita. De facto, até 1930 a pastorícia apresentava-se como a actividade complementar da agricultura, sendo raro o agregado familiar que não tivesse o seu rebanho, apascentado por crianças ou idosos.
Predominavam os rebanhos de ovelhas – davam mais rendimento que as cabras e poupavam mais os pastos. Tinham um número reduzido de cabeças – 6, 10, 12 – e com eles saíam as crianças de madrugada, com o saquito da merenda, para os baldios.
De Inverno ficavam por lá todo o dia. No Verão voltavam a casa ao fim da manhã, já que as ovelhas não aguentavam o calor, saindo de novo a meio da tarde. Aos domingos e dias santos abriam-se os rebanhos de madrugada e recolhiam-se pelas dez da manhã, para se poder assistir à missa.
A partir de 1930, sensivelmente, a situação alterou-se. Com a entrega dos baldios ao povo, multiplicaram-se os terrenos de cultivo nos vales e cabeços, reduzindo as pastagens. Esta situação, a par da escolaridade obrigatória, fizeram com que a pastorícia, pelo menos a ligada a crianças, quase desaparecesse. Os poucos rebanhos que restavam pertenciam a agricultores abastados, que tinham ao seu serviço um ou outro pastor a quem pagavam uma pequena mesada, para além do alojamento e alimentação.
in Correio da Manhã 2007.05.09
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