A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

terça-feira, maio 08, 2007








Fados do Tempo da Outra Senhora (34)



LATOARIA





Tem um século, pelo menos, a arte de latoeiro de que são portadores os irmãos Freitas da Chamusca. Em mil novecentos e poucos já mestre Henrique Latoeiro tinha oficina aberta, nesse tempo na esquina do largo do coreto com o do hospital velho.Há sessenta anos, Francisco Freitas, que tinha sido aprendiz, comprou-a para seu uso e transferiu-a mais tarde, no fim dos anos 50, para onde está agora, ao pé do Café Império. Ensinou a arte aos filhos, que são no nosso tempo, os únicos representantes dela numa vila que já teve quatro oficinas de latoeiro com trabalho que sabe Deus.
E trabalho há é muito, as vezes nem sabe um homem para onde se há-de virar, porque a procura é crescente e cada vez menos quem a satisfaça a preceito. 0 que mudou foi a obra porque o mundo em que vivemos já não é o de mestre Henrique.
Então eram as quartas para a cura, os pulverizadores, os canos de rega que havia antes do pIástico e que se chegaram a produzir aqui ao ritmo de 200 metros por dia, a trabalhar de empreitada. E alcatruzes para as noras, medidas de folha, do meio decilitro ao almude, balanças de braços, talhas para o azeite, tarefas para os lagares, um ror de coisas que hoje muita gente já nem sequer sabe o que é.
Também se faziam lanternas, de folha, claro, até que o plástico chegou e tomou conta de tudo. Mas cansa, por não ser bom nem verdadeiro, e hoje em dia, curiosamente, é lanternas o que os irmãos Freitas mais produzem outra vez na oficina. De folha, claro, artísticas e perfeitas, e é aí que está a diferença que atrai a clientela e proporciona trabalho a quem assim as faz. Dos tempos da velha oficina ainda tem, a funcionar na perfeição, a bigorna e a calandra, um instrumento que serve para enrolar e quinar chapa ou arame. A fieira, que dobra, vinca, faz rebordos e executa todos os enfeites na chapa, foi adquirida há menos tempo, mas a antiga ainda a conservam como peça de museu. E conservam também, com orgulho, a velha forja, indispensável para soldar antes de se inventarem os maçaricos a gás. Foi ainda mestre Henrique Latoeiro, no princípio do século, que comprou essa forja, carregadinha de História. Era já usada, mas precisamente o uso que teve é que lhe dá valor e significado especial: nesse tempo, tinha acabado de ser construída a Ponte da Chamusca, toda em ferro e chaparia, e, sendo certa a tradição foi nessa velha forja que se recozeram os rebites para ela.
NOTA - Também havia os funileiros ambulantes, que punham pingos de solda em objectos de zinco, como tachos, panelas, azeiteiros, regadores e outro material, quando abriam buracos que deixavam passar o líquido. Hoje já não se vêem pelas ruas.
VN

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