Profissões em vias de extinção - Brasil e Portugal (4)
* Emiéle
Já por aqui tenho falado de profissões que quase desapareceram. Algumas substituídas por robots, outras porque deixaram de fazer sentido. No outro dia ainda ouvi uma gaita na rua com um toque característico e fui estreitar. Era mesmo o "amola-tesouras", que também costumava consertar chapéus de chuva. Tem tudo a ver com uma nova organização do trabalho doméstico. Quando há 50 anos ser dona-de-casa era uma profissão que abrangia uma enorme faixa da população feminina, era natural que a oferta de produtos ao domicílio valesse a pena. Nessa altura podia-se comprar muita coisa sem sair de casa. O padeiro vinha a casa, o leiteiro vinha a casa, a varina trazia peixe a casa, o mesmo para os legumes, e até quando se ia à mercearia o marçano depois trazia as compras à freguesa. É natural que hoje em dia isso não faça sentido, por um lado pelas ruas cheias de movimento e por outro porque não se vai vender nada a casas onde os ocupantes estão no seu local de trabalho... Estas reminiscências sociológicas vieram à baila porque hoje voltei a ver a "aproximação" do antigo ardina. Desde há muito tempo que quem quer o jornal vai comprá-lo ao quiosque. Há mesmo muito tempo. Nessas épocas onde quase tudo se trazia a casa, é claro que o jornal da manhã também vinha ter a casa. Ao tempo que acabou. Mas reparei hoje, num homem com uma braçada grande de jornais que ia entrando em diversos cafés e quando saía a braçada era menor. Imaginei que dado o problema de desemprego ele tenha deitado mão de uma forma de ganhar algum dinheiro ressuscitando a profissão de ardina.
* isabel sousa
De manhã acordava sempre com o apito do padeiro.Costumava trazer umas pombinhas ( alguém sabe o que são pombinhas?) óptimas.
O anoitecer era a hora do leiteiro. Ao principio,o leiteiro não ia lá a casa porque morava mesmo em frente. Ao fim do quintal do leiteiro ficavam os estábulos. À esquerda em cima dum pial ( será que isto se escreve assim?) estavam as leiteiras de alumínio. Levava-se um fervedor e pedia-se 1/2 litro de leite. Quando acabava os trabalhos da escola mais cedo ,ainda dava para ver a ordenha das vacas. Quando o leiteiro mudou de casa começou a ser ele a passar. Nunca mais vi uma vaca a ser ordenhada. Ganhei um leiteiro à porta mas perdi as vacas. Nunca lhe perdoei ter mudado de casa.
O sr. Abrantes era o ardina. Acho que passava todos os dias nos cafés a vender jornais. Mas disso não me recordo muito bem. Talvez porque, na altura, não havia dinheiro para cafés nem para jornais.
Claro que também me recordo do amola-tesouras. Mas eu detestava aquele apito. Dizia-se que quando o amola-tesouras passava iria chover no dia a seguir. Se chovesse não podia ir brincar para o quintal. Acho bem que os amola-tesouras tenham acabado.
Também havia o homem do petróleo. Que além de petróleo vendia rebuçados, açúcar, cebolas e batatas. Era muito velho e muito magro e andava de carroça. Ao fim, acho que já ninguém usava petróleo nem lhe comprava batatas, mas ele continuava sempre a passar. Até que a égua morreu e ele morreu logo a seguir com o desgosto.
O Johnny deve pensar o mesmo que o meu filho quando lhe digo isto "Que horror és tão cota!!!"...
Afixado por isabel sousa em 16 de outubro de 2004, às 22:24
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