A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

domingo, abril 15, 2007



A fala do índio

“As vastas e abertas planícies, as belas colinas e as águas que em meandros complicados serpenteiam, não eram, aos nossos olhos, “selvagens”. Só o homem branco via a natureza selvagem, e só para ele estava a terra “infestada” de animais “selvagens” e gentes “selvagens”. Para nós ela era mansa. A terra era caritativa e sentíamo-nos rodeados pelas bênçãos do Grande Mistério. Só se tornou para nós hostil com a chegada do homem peludo do Leste, que nos oprime, a nós e às nossas famílias que tanto amamos, com injustiças insanas e brutais. Foi quando os animais da floresta se puseram em fuga, à medida que ele se aproximava, que para nós começou o “Oeste selvagem”.”

* Chefe Luther Standing Bear , do grupo Oglala dos Sioux


“Aprendi muitas palavras inglesas, e poderia até recitar em parte os Dez Mandamentos. Sabia como dormir numa cama, como rezar a Jesus, como pentear o cabelo, sabia comer com uma faca e um garfo e utilizar um quarto de banho… Aprendi também que uma pessoa pensa com a cabeça, em vez de o fazer com o coração.”(1)

* Sun Chief, índio Hopi

"Pergunto-me se a terra tem algo a dizer. Pergunto-me se o solo ouve aquilo que se diz. Pergunto-me se a terra nasceu para a vida, e o que há debaixo dela. E no entanto eu ouço o que a terra diz. A terra diz: "Foi o Grande Espírito que aqui me pôs. O Grande Espírito pede-me que tome conta dos índios, que os alimente bem. O grande Espírito encarregou as raízes de alimentarem os índios." A água diz o mesmo: "O Grande Espírito conduz-me: alimenta bem os índios." A erva diz o mesmo: "Alimenta bem os índios." A terra, a água e a erva dizem: "O Grande Espírito deu-nos nomes." A terra diz: "O Grande Espírito colocou-me aqui para eu produzir tudo quanto cresce sobre mim, árvores e frutos." Da mesma maneira, a terra diz: "É de mim que o homem foi feito." O Grande Espírito, ao pôr os homens sobre a terra, quis que eles tomassem conta dela muito bem, e que não se prejudicassem uns aos outros..."

* (Discurso proferido por ocasião de um conselho índio no Vale de Uala-Uala, em 1855, pelo Chefe Moço dos Caiuses)

“Antes de falar de coisas sagradas, nós preparamo-nos por meio de oferendas... um de nós há-de encher o seu cachimbo e oferecê-lo ao outro, que o há-de acender e oferecer ao céu e à terra... hão-de fumar juntos... É então que ficam prontos para falar*.”

* Mato-Kuwapi, índio sioux
Que tratado houve que os homens brancos tenham respeitado e o homem vermelho rompido? Nenhum. Que tratado houve que o homem branco alguma vez haja feito connosco e ele tenha respeitado? Nenhum. Quando eu era criança, os Sioux eram senhores do mundo; o sol nascia e punha-se dentro das suas terras e podiam enviar dez mil homens ao combate. Onde estão hoje esses guerreiros? Quem os terá chacinado? E as nossas terras, onde estão? Quem será que as possui? Que homem branco poderá sustentar que eu alguma vez lhe tenha roubado a terra ou um só centavo do seu dinheiro? E apesar disso chamam-me ladrão. Que homem branco, mesmo sozinho, foi alguma vez feito cativo ou insultado por mim? E apesar disso clamam que eu sou um índio ruim. Que homem branco me terá alguma vez visto bêbado? Quem terá alguma vez chegado ao pé de mim com fome e se foi embora sem comer? E alguém me terá visto alguma vez bater nas minhas mulheres ou maltratar os meus filhos? Que lei terei eu quebrado? Não terei eu razão por ser fiel à minha própria lei? Acaso será um mal que eu tenha a pele vermelha? Que seja um sioux? Que tenha nascido onde meu pai viveu? Que morra pelo meu povo e pela minha terra?
* TOURO SENTADO (Sitting Bull)

"Estou cansado de combater. Os nossos chefes foram mortos. Os velhos morreram todos. São os jovens quem diz que sim ou que não. Aquele que chefiava os jovens morreu. Está frio e não temos mantas. As crianças estão a morrer geladas. O meu povo, o pouco que resta dele, fugiu para as montanhas e não tem mantas nem comida. Ninguém sabe onde eles estão - talvez a morrer gelados. Queria ter tempo para procurar os meus filhos e ver quantos deles posso encontrar. Talvez os encontre entre os mortos. Ouçam-me os meus chefes. Estou cansado. O meu coração está doente e triste. Daqui, onde o sol agora está, não mais lutareis."

* José, chefe dos Nez Percé

"O Grande Espírito fez-nos a ambos: deu-vos terras e deu-nos terras; vós viestes para aqui e nós respeitámo-vos. Quando viestes, ao princípio, nós éramos muitos e vós poucos, agora vós sois muitos e nós estamos a tornar-nos muito poucos e muito pobres. Eu represento a nação Sioux. Nós não queremos riquezas, mas queremos os nossos filhos ensinados e criados convenientemente."

* Nuvem Vermelha, Chefe dos Sioux

O Lakota era um verdadeiro amante da natureza. Amava a terra e todas as coisas boas da terra, e esse afecto crescia com a idade. Os idosos chegavam literalmente a amar o solo; sentavam-se ou repousavam na terra com o sentimento de se aproximarem das forças maternais. Era bom para a pele o contacto com a terra, e as pessoas idosas gostavam de tirar os mocassins e andar de pés descalços sobre a terra sagrada. Os seus tipis erguiam-se nesta terra de que eram feitos os seus altares. Os pássaros que voavam nos ares vinham repousar-se nela e a terra era o lugar permanente de todas as coisas que viviam e cresciam. O solo suavizava, fortificava, lavava e curava. É por isso que o velho índio se afinca ao solo, em vez de se separar das forças da vida. Para ele, sentar-se ou deitar-se assim consiste em poder pensar mais profundamente e em sentir mais vivamente; contempla assim mais claramente os mistérios da vida e sente-se mais próximo das forças vivas que o envolvem… Esta relação que ele mantém com todas as criaturas da terra, do céu e da água constituía um princípio real e activo. O velho índio tinha um sentimento de fraternidade para com o mundo dos pássaros e dos animais, e estes retribuíam-no com a confiança. Era tão estreita a familiaridade entre certos lakotas e os seus amigos de penas ou de peles que, tal como se fossem irmãos, falavam a mesma linguagem.

O velho lakota era sábio. Sabia que o coração do homem afastado da natureza se torna duro; que a falta de respeito para com o que cresce e vive depressa conduz também à falta de respeito para com os humanos. Por isso mantinha ele os jovens sob a mansa influência da natureza.

Chief Luther Standing Bear

Há uma floreira que vai deixando que as nuvens entrem à raiz dos malmequeres. Sabe-se lá se no Abril que vem haverá flor, não sei. E um texto índio vem à luz: “Antes de falar de coisas sagradas, nós preparamo-nos por meio de oferendas... um de nós há-de encher o seu cachimbo e oferecê-lo ao outro, que o há-de acender e oferecer ao céu e à terra... hão-de fumar juntos... É então que ficam prontos para falar*.”Assim é que, tendo deixado para trás o fumo, as silhuetas para o céu, eu deitaria a boca ao cachimbo, ou à chavena de um chá, só para poder entrar de novo no vício do sagrado, um toque no mistério dos malmequeres.

*
Mato-Kuwapi, índio sioux


EMPOBRECIMENTO ESPIRITUAL

«O sofrimento do homem índio, ao assistir à morte do seu modo de vida, nunca foi inteiramente compreendido pelo homem branco, e talvez nunca o venha a ser. Quando Black Elk, um profeta dos Sioux Oglala, fala da «beleza e singularidade da terra», refere-se à veneração do meio ambiente quotidiano, um meio ambiente que se encontrava numa integral interdependência com a vida do Índio. A destruição dos rebanhos selvagens e a invasão das terras ancestrais conduziram à degenerescência e à morte duma certa forma de vontade e dum certo estado de espírito dos povos índios. O que os Índios eram não poderia, sem um empo­brecimento espiritual grave, ser separado do seu habitat e do modo como nele viviam.

Os Índios, neste livro, falam por si mesmos da qualidade de vida que era a sua. As passagens apresentadas provêm de discursos e, mais recentemente, de artigos de índios que vivem em todas as regiões do continente norte-americano, entre os séculos XVI e XX. Referem-se sempre com uma atenção respeitosa à terra, aos animais, aos objectos que constituíam o território onde viviam; não viram mérito nenhum no facto de imporem a sua própria vontade àquilo que os rodeava; a quase totalidade dentre eles considerava a propriedade privada como o caminho conducente à pobreza, e não à riqueza. A sua razão de viver identificava­-se com as suas relações recíprocas, e as suas relações com a terra natal; a memória dava profundidade e ressonância a este conjunto.»

Teri C. McLuhan, in " A Fala do Índio".
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in “ A fala do índio”- Teri C. McLuhan – edições Fenda

A Fala do Índio


Apreciação:

Este livro é constituído por uma compilação de textos sobre os índios que vivem e viveram no território dos actuais Estados Unidos da América e Canadá. Os assuntos nele versados procuram dar a conhecer tradições e pensamentos que caracterizam esses povos, sobretudo nas suas relações com a terra, as forças da natureza e a sua religião, bem como o confronto dos seus modos de vida com os povos do Ocidente, com quem contactaram à medida que estes iam construindo os actuais países onde vivem os índios.

O livro está ilustrado por fotos a preto e branco de interesse.

Trata-se de uma obra cuja tradução para português permite conhecimentos curiosos e originais, que de noutra forma não seriam acessíveis aos leitores da nossa língua, tornando possível a abordagem dos temas em causa, mas duvidamos de que possam interessar um largo público leitor, para lá de pessoas que gostem de conhecer temas de antropologia cultural de civilizações reduzidas a áreas restritas.


José Manuel Garcia, 2000

2 comentários:

ana disse...

Sem dúvida uma excelente obra já há muito requerida. Os valores morais presentes com uma naturalidade sem igual. Adorei a obra em causa, parabens ao escritor, e aconselho a bons leitores um pouco de tempo para fins de deliberação. Um grande Bem Haja ao tradutor português pela possibilidade de leituta ao povo Lusitano. PLUR (Peace Love Union Respect)

ana disse...

Sem dúvida uma excelente obra já há muito requerida. Os valores morais presentes com uma naturalidade sem igual. Adorei a obra em causa, parabens ao escritor, e aconselho a bons leitores um pouco de tempo para fins de deliberação. Um grande Bem Haja ao tradutor português pela possibilidade de leituta ao povo Lusitano. PLUR (Peace Love Union Respect)