A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

sexta-feira, abril 27, 2007


O Negócio das «Privadas» (5)

Pinoquial choque tecnológico

A história da Universidade Independente a cruzar-se com a história da licenciatura do Primeiro-Ministro (PM) em 1996. PM que, entretanto, governante que era, «fez» uma graduação num curso do ISCTE(1) de mestrado em administração de negócios (MBA), mas, outros dizem, não obteve o grau de mestre propriamente dito - que grande confusão para a minha cabeça simples. A história da Universidade Independente, que até mereceu um despacho de encerramento por parte do Ministro Mariano Gago, a fazer-nos lembrar outras histórias tristes de outras universidades privadas portuguesas. Histórias a fazerem-nos lembrar ainda os numerus clausus das universidades públicas, a empurrarem generalizadamente para elas os candidatos a estudantes com as notas menos elevadas no secundário. Universidades do lápis e papel como lhes chamaram na altura, designação porventura injusta e não verdadeira para algumas delas. No entanto, universidades privadas que, por isso mesmo, vieram responder aos anseios de muitos que pretendiam estudar para além do secundário e/ou, muito simplesmente, alcançar um diploma universitário que lhes aumentasse a possibilidade de uma entrada mais segura e digna no mundo do trabalho - muitos que viam as universidades públicas fechar-lhes as portas. Mas, história da Universidade Independente, esta, é muito triste. São não só os estudantes injustamente atingidos e defraudados. É não apenas a descredibilização actual deste estabelecimento de ensino; é também a descredibilização dos outros estabelecimentos, que já de antes têm vindo a perder alunos a um ritmo que nem os aumentos das propinas dos estabelecimentos públicos têm contribuído para estancar. Os próprios estabelecimentos públicos encontram dificuldades, em certos casos, em preencher as suas vagas. Mais a mais, numa situação em que o desemprego dos licenciados alastra. E é ainda a descredibilização dos próprios diplomas passados no passado. Ou, como no caso do nosso PM, as dúvidas, com ou sem razão - é uma coisa que se ouve um pouco por todo o lado -, sobre o seu diploma e a forma como terá sido obtido.

E as pessoas pronunciam-se escandalizadas não porque a generalidade delas ache que um PM tenha que ter obrigatoriamente algum diploma ou graduação ou pós-graduação do ensino superior. Mas pelo que lhes cheira a esturro todo este processo. Porque lhes cheira a esturro que lhes tenham feito crer uma coisa em termos de habilitações literárias do PM e lhes pareça aparecer outra. Ao menos o outro PM, o inglês John Major, não era licenciado, mas todos sabiam. Ao Bill Gates, o fervilhar dos negócios também não lhe deu disponibilidade para acabar o curso e obter o canudo. Mas neste caso do nosso PM, o que parece às pessoas que ouvi falar por onde andei é que nem é um caso de sonegação de informação, é sobretudo um caso de falsidade.

Já houve até quem lançasse a ideia, sendo verdade o que se diz: ele (o PM) devia desculpar-se como o Clinton; contudo, este caso é mil vezes pior, aqui nem a desculpa da cegueira do instinto sexual se coloca - mesmo que este tipo de descontrole possa ser considerado uma actuação completamente irrazoável; nem da naturalidade de qualquer instinto incontrolável.

No caso do nosso PM, contudo a questão seria de outra ordem. Seria o preconceito do título e do estatuto a funcionar. Aliás, um preconceito difundido entre as nossas elites. Recordamo-nos de um artigo do economista Eugénio Rosa(2), no qual ele nos diz que «55% dos novos empresários surgidos no período compreendido entre 1991 e 2000, antes de serem empresários possuíam a categoria de “qualificados”, “não qualificados” e mesmo “aprendizes”» e que, «em média, 80% têm apenas o ensino básico ou menos». Mas que, “quando assumem a função de patrão, os novos empresários a primeira coisa que fazem é auto-classificarem-se nos quadros de pessoal como «quadros superiores», pois a sua percentagem sobe imediatamente de 21,8% para 83,9%.”

É pois a cegueira dos títulos por parte importante da elite política - económica, de títulos que, em muitos casos, não correspondem à realidade. Como se fosse uma nova nobreza. Não será que essa do choque e plano tecnológicos sofrem de raiz do mal de serem um fogacho desta camada que, por trás, mantém o esquema do trabalho pouco ou nada qualificado a fingir de qualificado?

(1) ISCTE - Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa.

(2) “Portugal: Qualificação do patronato também é baixa”, publicado em 19 de Janeiro de 2005 em resistir.info.

in AVANTE 2007.04.26

Cartoon - Spon Holz



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