A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

domingo, abril 22, 2007


MISÉRIA ATINGE NOVE MIL PESSOAS E ESTÁ A AUMENTAR

* João Saramago com André Pereira

Há 8718 sem-abrigo em Portugal, segundo o Instituto da Segurança Social. Destes, o maior grupo, constituído por 4179 pessoas, engloba indivíduos que “têm casa mas esporadicamente vivem na rua ou num centro de acolhimento”, devido a problemas de foro psiquiátrico, dependências de drogas ou álcool e pressão familiar. Este grupo inclui também pessoas que só conseguem manter casa com ajuda de serviços sociais.

Segundo o Estudo dos Sem-Abrigo, de 2005, o número de pessoas que dormem em centros de acolhimento, em casas e carros abandonados, barracas ou varandas é de 2684. Por último, há um grupo de 1855 pessoas que pernoitam sempre na rua.

O mesmo trabalho indica que o número de situações de sem-abrigo tem aumentado, existindo uma nova geração constituída, na maioria, por homens portugueses com idades entre os 20 e 40 anos, que acabaram por viver na rua por perda de emprego, morte de um familiar, problemas emocionais ou com ligações ao álcool e drogas.

“Hoje – sustenta o estudo – não é possível falar de sem- -abrigo sem falar de toxicodependência. Esta nova realidade encontra-se inegavelmente ligada às necessidades de consumo e à progressiva degradação das capacidades dos indivíduos que acabam por entrar nessa situação, centrando os seus esforços apenas na satisfação diária das necessidades de consumo. Paralelamente, assiste-se com frequência a uma destruição dos laços familiares e redes de suporte e a uma progressiva e rápida aquisição de comportamentos autodestrutivos e de ausência (total ou quase total) de cuidado com o corpo.”

Este trabalho alerta para que “a entrada no mundo da miséria vai empurrando os indivíduos para um beco sem saída, que os vai degradando física e psicologicamente, pelo que o estigma da marginalização fica estampado no rosto e na aparência física. Além disso, o próprio facto de estarem desprovidos de recursos materiais inviabiliza a sua tentativa de reintegração num trabalho”.

O MITO DA ESCOLHA DA LIBERDADE

Ao contrário do mito segundo o qual muitos sem-abrigo estariam nesta situação por escolha própria, por apreciarem a liberdade que advém da ausência de quaisquer responsabilidades ou compromissos sociais, nenhum participante do inquérito realizado pelos investigadores Fernando Sousa e Sandra Almeida referiu preferir as ruas a uma habitação condigna. Note-se ainda que, quando colocados perante a oportunidade de uma eventual mudança para uma habitação de carácter permanente, por comparação com a continuação no abrigo, todos os participantes preferiram mudar. Muitas das situações de sem-abrigo resultam de morte de um familiar, desemprego, divórcio, toxicodependência ou conflitos com a família.

MAIS MULHERES IDOSAS VIVEM NA RUA

As mulheres representam 24 por cento dos sem-abrigo de Lisboa, ou seja, são cerca de 200 mulheres que pernoitam na rua. Tradicionalmente são mais protegidas do que os homens pelos serviços sociais na disponibilização de um quarto numa pensão. Nos últimos tempos, contudo, tem aumentado o número de mulheres, sobretudo idosas, que vivem na rua, revela o último estudo do Instituto da Segurança Social sobre os sem-abrigo. Uma forte ruptura emocional, como a perda de um filho ou um divórcio, transforma muitas destas mulheres em sem-abrigo, numa situação em que já não conseguem reorganizar a sua vida. São também as idosas pedintes as mais expostas a actos de violência cujo objectivo é roubar-lhes o dinheiro das esmolas.


NÚMEROS DA MISÉRIA SOCIAL

- 18 milhões de pessoas na Europa encontram-se em situação de sem-abrigo ou a viver em barracas.
- 930 sem-abrigo vivem em Lisboa, segundo um estudo de 2004. Um terço não tem mais de 34 anos.
- 87 por cento dos sem-abrigo de Lisboa apontam como principais necessidades comida, roupa e um abrigo.
- 58 por cento dos mendigos exercem actividades pontuais e 7% vivem do Rendimento Social de Inserção.
- 140 euros é quanto os Serviços Sociais pagam por mês para um quarto de um mendigo.
- 30 euros é quanto um mendigo tenta obter por dia a arrumar carros. São na maioria toxicodependentes.


in CORREIO DA MANHÃ 2007.02.03 Fotografia João Miguel Rodrigues

Sem comentários: